sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Capão – “Pitéu” sem glória


Por Artur Ferreira

A narrativa do capão é muito antiga, desde a vingança de um Cônsul Romano, Caio Cânio, que sofria de insónias e não suportava o despertar madrugador dos galos, na Roma Antiga!
A História diz-nos que o Cônsul fez aprovar uma lei que proibia a criação dos galos para não ser importunado pelo seu cantar enquanto dormia. Como o mal estava na “voz” e na hora de cantar, os apreciadores da sua gastronomia recorreram à castração para tornear a lei! A castração tem efeitos devastadores no comportamento da ave que deixa de cantar, ganha peso e torna-se mais mansa! É uma operação efectuada por habilidosos, clandestinamente, com elevado risco de insucesso e feita quase a sangue frio! Por volta dos três meses de vida, de forma cruel, arrancam-lhe os testículos localizados no interior do tronco, cortam-lhe a crista e as esporas das patas! Um verdadeiro atentado à dignidade de género! Um crime inimputável, para já! O animal atingirá o peso ideal alguns meses depois, altura para o rentabilizar economicamente e ser confeccionado para consumo dos apreciadores.
A prática da castração do galo está espalhada pelo mundo e no Brasil é muito divulgada! Não vejo, por isso, nenhum motivo de orgulho ou qualquer vantagem para louvor público de uma qualquer terra! Só uma comunidade ensimesmada, fragmentada por muitas associações e unida por um orgulho concertado na certidão de nascimento, sem outros encantos, pode tirar partido de uma situação contranatura, recorrendo à legislação nacional e europeia para se registar como “Indicação Geográfica Protegida”! Não estou a ver qualquer proximidade de Freamunde com Roma, nem na “Confraria” qualquer confrade freamundense descendente do Cônsul Caio Cânio.
Em Barcelos e na França, ao contrário de Freamunde, o galo ganhou prestígio por motivos muito mais ilustres e respeitáveis! O galo é tido como um mensageiro da vida através do anúncio da manhã pelo seu cantar e representa o triunfo da luz sobre as trevas e do bem acima do mal! Os franceses têm a ave no coração como um ícone de uma nação. Para a França, o galo, tem um grande valor simbólico, representa fé e luz! O símbolo do galo aparece em todos os equipamentos desportivos de França, como emblema! Em Barcelos, reza a lenda, um galo já empratado e à disposição de um Juiz que se preparava para o comer, levantou-se da travessa e cantou! Esta reacção salvou a vida a um peregrino francês, julgado injustamente à morte, por enforcamento, pelo Juiz! A dona da Estalagem, onde pernoitou, acusou o peregrino de roubo por o peregrino não querer passar a noite com ela! Uma acusação falsa aceite pelo Juiz e anulada pelo galo já confeccionado que reagiu de forma vigorosa ao apelo do peregrino!
Enquanto o Galo de Barcelos é já uma figura nacional, admirado e comercializado em todo o país e no estrangeiro, criando riqueza a muitos artistas que o pintam com valor alegórico, realçando a sua dignidade, o Capão de Freamunde é um derrotado da vida, uma ave tolhida, envergonhada, impotente, deformada, descaracterizada e vendida na Feira do dia 13 de Dezembro, na terra que o adoptou como “ex-libris”!

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