A narrativa do
capão é muito antiga, desde a vingança de um Cônsul Romano, Caio Cânio, que sofria
de insónias e não suportava o despertar madrugador dos galos, na Roma Antiga!
A História
diz-nos que o Cônsul fez aprovar uma lei que proibia a criação dos galos para
não ser importunado pelo seu cantar enquanto dormia. Como o mal estava na “voz”
e na hora de cantar, os apreciadores da sua gastronomia recorreram à castração
para tornear a lei! A castração tem efeitos devastadores no comportamento da
ave que deixa de cantar, ganha peso e torna-se mais mansa! É uma operação
efectuada por habilidosos, clandestinamente, com elevado risco de insucesso e
feita quase a sangue frio! Por volta dos três meses de vida, de forma cruel, arrancam-lhe
os testículos localizados no interior do tronco, cortam-lhe a crista e as
esporas das patas! Um verdadeiro atentado à dignidade de género! Um crime
inimputável, para já! O animal atingirá o peso ideal alguns meses depois,
altura para o rentabilizar economicamente e ser confeccionado para consumo dos
apreciadores.
A prática da
castração do galo está espalhada pelo mundo e no Brasil é muito divulgada! Não
vejo, por isso, nenhum motivo de orgulho ou qualquer vantagem para louvor público
de uma qualquer terra! Só uma comunidade ensimesmada, fragmentada por muitas
associações e unida por um orgulho concertado na certidão de nascimento, sem
outros encantos, pode tirar partido de uma situação contranatura, recorrendo à
legislação nacional e europeia para se registar como “Indicação Geográfica
Protegida”! Não estou a ver qualquer proximidade de Freamunde com Roma, nem na
“Confraria” qualquer confrade freamundense descendente do Cônsul Caio Cânio.
Em Barcelos e
na França, ao contrário de Freamunde, o galo ganhou prestígio por motivos muito
mais ilustres e respeitáveis! O galo é tido como um mensageiro da vida através
do anúncio da manhã pelo seu cantar e representa o triunfo da luz sobre as
trevas e do bem acima do mal! Os franceses têm a ave no coração como um ícone
de uma nação. Para a França, o galo, tem um grande valor simbólico, representa
fé e luz! O símbolo do galo aparece em todos os equipamentos desportivos de
França, como emblema! Em Barcelos, reza a lenda, um galo já empratado e à
disposição de um Juiz que se preparava para o comer, levantou-se da travessa e
cantou! Esta reacção salvou a vida a um peregrino francês, julgado injustamente
à morte, por enforcamento, pelo Juiz! A dona da Estalagem, onde pernoitou, acusou
o peregrino de roubo por o peregrino não querer passar a noite com ela! Uma
acusação falsa aceite pelo Juiz e anulada pelo galo já confeccionado que reagiu
de forma vigorosa ao apelo do peregrino!
Enquanto o Galo
de Barcelos é já uma figura nacional, admirado e comercializado em todo o país
e no estrangeiro, criando riqueza a muitos artistas que o pintam com valor
alegórico, realçando a sua dignidade, o Capão de Freamunde é um derrotado da
vida, uma ave tolhida, envergonhada, impotente, deformada, descaracterizada e
vendida na Feira do dia 13 de Dezembro, na terra que o adoptou como
“ex-libris”!
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