Andaríamos
pelos 16 anos de idade quando o lemos. Na altura, editado pela Bertrand, era
constituído por dois volumes (se a memória nos não falha) – cerca de 2000 mil páginas, salvo erro. Da nossa geração
ninguém o conhecia e os que dele ouviram falar foi de uma forma obscura, porque
o PCP se havia encarregado de manipular o vulgo insinuando que era obra da CIA.
Aos vinte relê-mo-lo. E a partir daí perdemos-lhe o rasto. Nunca mais o vimos. A
dada altura desapareceu das nossas estantes. Bem o procuramos, mas nada. Ao
longo da vida precisámos de o consultar, mas nunca mais o encontrámos. E nunca
mais houve uma reedição. Foi o livro que marcou o nosso caminho ideológico e a
nossa forma de pensar politicamente.
Foi
escrito clandestinamente entre 1958 e 1967. A KGB tratou de o amarrotar em
1973, na sequência da prisão de Elizabeth Voronskaïa, colaboradora de Aleksandr
Soljenítsin. A sua primeira edição em russo é editada em Paris ainda em 1973 e
em 1974 a edição francesa.
Soljenítsin
fora entretanto preso, acusado de traição, despojado da nacionalidade soviética
e já estivera preso oito anos nos campos de trabalhos forçados na Sibéria..
Este
livro extraordinário é composto por 227 testemunhos, sobreviventes dos Gulag. Agora publicado pela Sextante (Março de 2017) é uma versão abreviada com 589
páginas, num só volume. Foi preparada por Aleksandr e por sua esposa, Natália,
para o tornar mais acessível aos leitores estrangeiros.
O
Arquipélago Gulag é um volume extraordinário que devia ser recomendado nas
escolas secundárias. Porque é um livro de combate ao totalitarismo
(fundamentalmente estalinista). E como diz o autor: «Devemos condenar
publicamente a ideia de que homens possam exercer tal violência sobre outros
homens. Calando o mal, fechando-o dentro do nosso corpo para que não saia para
o exterior, afinal semeamo-lo.».
Armando Palavras
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