José, esposo da
Virgem e pai alimentício de Jesus, é fugazmente mencionado em três dos
Evangelhos canónicos. Marcos ignora-o. Os evangelhos apócrifos, especialmente o
Proto-Evangelho de Tiago e a História de José, o Carpinteiro, escritos coptas
do século IV, colmataram esta lacuna com detalhes pitorescos, retirados de
episódios do Antigo Testamento. Mais tarde transcritos e acrescentados na Lenda
Dourada .
Nestas narrativas
descobre-se a estirpe davídica de Jesus que em nada se relaciona com a humilde
vida de carpinteiro de São José, fabricante de jugos, arados e ratoeiras.
Apesar de outra tradição menos difundida o assimilar a um ferreiro.
Teria mais de oitenta
anos quando se casou com a Virgem, com catorze . A natureza do seu matrimónio
foi longamente debatida pelos teólogos medievais. Se teria sido marido, se
apenas protector da Virgem. Debate levado ao extremo pelos Doutores da Igreja .
A tradição, fundamentada nas narrativas apócrifas, atribuía-lhe numerosos
filhos da sua primeira esposa. Pelo contrário, Tomás de Aquino era de opinião
que o santo se havia mantido sempre casto.
Depois de
acompanhar o Menino na fuga para o Egipto, para o trazer, de novo, para Nazaré
após a morte de Herodes, desaparece de cena. Ignora-se a festa da sua morte.
Contudo, uma antiga lenda converteu-o num patriarca centenário. Supõe-se que
terá morrido antes da Paixão de Cristo, na medida em que não está presente nas
Bodas de Caná e está ausente na Crucificação, no Descimento da Cruz e no
Sepultamento, concluído por José de Arimateia.
Sobre São José não
existem relíquias pessoais. A figura de São José nem sempre foi bem amada. Na
Idade Média, ao mesmo tempo que se exaltava a Virgem, escarnecia-se de São
José. Nos autos sacramentais do teatro religioso, foi muito pouco respeitado.
Chegou mesmo a ser enxovalhado como um velho tonto .
Com o tempo
converteu-se num dos santos favoritos da devoção popular. Terá sido Jean
Gerson, o conselheiro da Universidade de Paris o seu maior promotor. Assim como
a ordem das carmelitas (servitas) e os pregadores populares. A sua festa foi
introduzida entre 1471 – 1484, na liturgia da Igreja Romana pelo papa
franciscano Sisto IV.
No século XVI, o
dominicano Isolano, popularizou em Pavia o relato apócrifo da Morte de José ao
redigir um Sumário dos dons de São José, a quem atribuiu os sete dons do
Espírito Santo. A sua popularidade expandiu-se após o concilio de Trento. As
corporações que o reivindicaram são as que estão associadas aos carpinteiros.
Converteu-se no patrono da boa-morte porque, como conta a tradição, Jesus
havia-o assistido durante a sua agonia e ter-lhe-ia enviado Gabriel e Miguel
para recolher a sua alma espreitada pelo demónio. Por isso era invocado pelos
moribundos. Em 1621, o papa Gregório XV instituiu a sua festa a 19 de Março.
Na Idade Média, o
casto esposo da Virgem, era representado como um ancião de cabeça calva e barba
branca. A partir do século XVI foi rejuvenescido, aparentando a figura de um
homem de quarenta anos. Após a Contra reforma foi representado, ora como
carpinteiro, ora como pai alimentício de Jesus. No primeiro caso tem como
atributos os utensílios do seu ofício: uma serra, um esquadro, um machado e uma
plaina. No segundo caso é reconhecido pela vara florida que alude à sua vitória
sobre os pretendentes da Virgem, transformada em caule de lírio, símbolo do seu
matrimónio virginal. Juntamente com a
Virgem da Imaculada Conceição, é o tema preferido de Murillo. Armando Palavras
Sem comentários:
Enviar um comentário