Em
Silêncio, Martin Scorsese conta a perseguição aos cristãos japoneses e aos
padres portugueses que os tinham convertido nos séculos XVI e XVII. Foi em
Nagasáqui que essa repressão foi mais forte e onde se passaram muitos dos
acontecimentos que o filme mostra. O DN foi lá ver o que resta desses tempos.
Situada
junto ao porto de Nagasáqui, hoje nem se percebe que Dejima chegou a ser uma
ilha, apesar do canal que bordeja um dos lados. Uma pequena ilha de 200 metros
de comprimento por 80 de largura quando construída no século XVII pelos
japoneses para que os portugueses deixassem de viver na cidade, fazendo filhos
e também propagando o catolicismo, e se limitassem ao comércio. "Dejima
ficou pronta em 1636, mas os portugueses foram expulsos três anos depois. Quem
acabou por ficar foram os mercadores holandeses. Mas os 200 anos dos holandeses
não deixaram tantas marcas como os 60 anos dos portugueses cá", explica
Junji Mamitsuka, vice-diretor do Turismo de Nagasáqui. Mesmo assim, a
reconstrução das casas e armazéns, com recurso a documentos europeus, segue a
lógica da época holandesa, com Dejima a ter sido a única porta para os produtos
ocidentais até à reabertura das fronteiras em meados do século XIX.
"Os
holandeses prometeram fazer só comércio. E as autoridades japonesas aceitaram,
expulsando de vez os portugueses, que trocavam a nossa prata pela seda chinesa
desde o século anterior", acrescenta Mamitsuka. Havia medo por parte dos
xóguns da família Tokugawa de que Portugal e Espanha, então sob o mesmo rei, se
unissem ao Papa para atacar o Japão. Era um receio absurdo, mas os holandeses,
protestantes, promoveram o boato. Antes, já o cristianismo tinha sido proibido,
com padres jesuítas e fiéis japoneses martirizados e as crianças luso-japonesas
expulsas do país. Os últimos portugueses a partir foram assim os mercadores,
que tinham também sido os primeiros a chegar, em 1543, a Tanegashima, a sul da grande
ilha de Kyushu.
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