A
que propósito recordamos Melo Antunes? A propósito do falecimento de Mário
Soares. Não diremos muito por respeito ao luto da família e amigos, mas alguma
coisa tem de ser dita a contrapor a demência e o ódio que tem inundado a internet. A atitude desprezível do culto
de personalidade foi, porém, uma das causas dessa demência e desse ódio
visceral. É que onde a comunicação social viu milhares de populares, a
realidade mostrou-nos algumas dezenas e em dois locais específicos do cortejo,
algumas centenas. Mas esse tipo de análise não interessa por enquanto. O que
interessa é o sumo da questão.
Em
Janeiro de 1979 o historiador António
José Saraiva escreveu um célebre artigo
no Diário de Noticias, no qual Melo Antunes é alvo de vários “ataques”.
Melo
Antunes por seu lado, ao contrário de outros intervenientes do processo “Descolonização”,
reconheceu erros. Disse que uns foram inevitáveis, outros derivados da
complexidade do PREC, outros ainda das insuficiências humanas. E assumiu a sua
quota parte de responsabilidade, ao contrário de outros. Isto pode ser lido
numa entrevista ao Expresso, datada de 17 de Fevereiro de 1999. Nessa mesma
entrevista é peremptório: “se houve um evoluir da situação que objetivamente
favoreceu o campo comunista, isso verificou-se contra nossa vontade”.
Já
em entrevista à RTP a 24 de Abril do mesmo ano afirma que a descolonização não
foi a possível como muitos passaram a dizer, foi a que devia ser feita.
Acrescenta que foi uma obrigação histórica. O que não o impede de reconhecer
que foi uma tragédia.
Há
que reconhecer nestas afirmações, mesmo que delas discordemos, um Homem de
coluna vertebral.
É
certo que aquela descolonização “foi uma obrigação histórica “, mas não deveria
ter sido “a que devia ser feita”. Mas que foi uma tragédia como diz Melo Antunes, lá isso foi.
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