A polémica que a entrevista do Juiz Carlos
Alexandre gerou, depois de José Sócrates ter escrito um artigo no Diário de
Noticias sobre o assunto, e ter dado ordens aos seus advogados para
apresentarem queixa do Juiz, para que este seja afastado da “Operação Marquês”,
apenas é justificável porque Portugal é um dos cinco países mais corruptos (de esquemas) da
Europa! Em todas as instituições do Estado (e muitas do privado). São dados que
se não divulgam, nem levantam polémica. Mas um homem que se limitou a dizer que
vive do fruto do seu trabalho honrado, que não tem amigos generosos que lhe
aumentem substancialmente os rendimentos para viver com luxo, é incomodado pelo
principal interessado, pelos amigos comentadores e escrevinhadores do
interessado. “Luvas”, são “luvas”.
Qual foi a pena que Sócrates levou por ter
chamado de malandros aos juízes na praça pública? Que processo foi levantado
aos advogados de defesa de Sócrates por, na praça pública, fazerem criticas
escabrosas aos juízes que investigam a “Operação Marquês”?
As palavras do Dr. Carlos Alexandre foram
estas: “Como
eu não tenho amigos, amigos no sentido de pródigos, não tenho fortuna herdada
de meus pais ou de meus sogros, eu preciso de dinheiro para pagar os meus
encargos. E não tenho forma de o alcançar que não seja através do trabalho
honrado e sério.”. Ou estas: “Sou o ‘saloio de Mação’ com créditos hipotecários,
que tem de trabalhar para os pagar, que não tem dinheiros em nome de amigos,
não tem contas bancárias em nome de amigos”.
Onde é que estas palavras, como afirma
Sócrates no seu artigo, são “uma cobarde e injusta insinuação baseada na
imputação que o Ministério Público” lhe fizera no processo em que é arguido? E
onde é que as mesmas representam uma “tão grave e falsa insinuação”? E em que
parte dos parágrafos o juiz Carlos Alexandre faltou “aos seus deveres de
magistrado emitindo em público, embora com recurso à insinuação, um evidente
juízo de culpabilidade”?
Não existe insinuação alguma, na medida em
que, em vários processos conhecidos, não foram poucos os arguidos que referiram
os amigos e as contas dos amigos. E se existe magistrado que cumpre com os seus
deveres, chama-se Carlos Alexandre.
Num país decente a queixa de Sócrates
seria avaliada e logo de seguida, ao juiz de instrução seria dado mais poder
para cumprir com a investigação, porque, como dizia Eduardo Dâmaso, o que
interessa é averiguar se Sócrates é corrupto. Tudo o resto é conversa fiada.
O que nos dizia Alexandre Herculano
(1810-1877)? Uma coisa simples: “ Há épocas de tal corrupção, que, durante
elas, talvez só o excesso do fanatismo possa, no meio da imoralidade
triunfante, servir de escudo à nobreza e à dignidade das almas rijamente
temperadas”.
Estamos numa época dessas. Que iniciou em
2005.
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