ALBERTO GONÇALVES - Diário
de Noticias
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A
economia abranda. O investimento estrangeiro foge apavorado. As despesas
estatais sobem. A dívida pública aumenta. Os impostos prosperam. As receitas
encolhem. O défice derrapa. Porquê? Mistério. Nada indiciava que um governo
socialista apoiado por estalinistas, sindicalistas e terceiro-mundistas pudesse
correr mal. Sobretudo quando o rosto do espectacular arranjo é um balão de ar
morno com poucas letras e muitos sorrisos, também conhecido por "príncipe
da política", "grande negociador" ou "António Costa".
Caso
apreciem analogias, a situação lembra a do bêbado que, a 150 km/h, desce a
rampa da Falperra de olhos vendados num carro sem travões. Se, passados dois
minutos, o carro se assemelhar a uma escultura contemporânea e o bêbado
aguardar o INEM com fracturas múltiplas e um olho de fora, alguma coisa de
esquisito aconteceu. Não se sabe se foram ovnis, se as interferências dos
"mercados", se os ameaçadores presságios do sr. Schäuble: sabe-se que,
à luz das evidências, o acidente é inexplicável.
A
instantes de bater de frente na primeira árvore, eis o estado de uma nação que
vive a exigir conforto sem trabalho, dinheiro sem custos, soberania sem
vergonha na cara. Talvez não valha a pena discutir se merecemos o caldo de
mentirosos e maluquinhos que nos orienta rumo ao desastre. A verdade é que
teremos de suportar as consequências das respectivas proezas até ao dia em que
estas se tornem insuportáveis. Entretanto, beneficiamos daquilo a que o
afectuoso Presidente da República chama "estabilidade", leia-se a
satisfação das clientelas, a retribuição de favores, a compra de votos e a
genérica folia.
Mal
a folia rebente, chegará com sorte novo "resgate" e, bastante mais
pobres, partiremos para novas eleições, na certeza de que, ao contrário dos
bichos de Pavlov, uma parte do bom povo não aprende. Ainda que o bêbado se
espatife uma, duas, cinco, trinta vezes, não deixará de haver quem culpe o
fabricante dos pneus, o clima, os ovnis, os "mercados" ou o sr.
Schäuble. E depois vá festejar a selecção da bola.
Isto
vai acabar mal porque não há maneira de acabar bem, e continuar indefinidamente
a fintar a realidade não é hipótese. É pena? É. Porque se aproximam tempos
capazes de transformar a "austeridade" numa memória agradável. Porque
há gente que os previu. Porque, generalizações de lado, existem inúmeros
inocentes que sofrerão. E sobretudo porque os principais culpados sairão
ilesos, descarados como nunca, sorridentes como sempre. E não estou a falar dos
ovnis ou do sr. Schäuble.
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