BARROSO da FONTE |
Portugal nasceu há 888 anos. Foi dia 24 de
Junho de 1128 na Batalha de S.Mamede.
As
enciclopédias definem a palavra aniversário como algo que se repete todos os
anos. Deriva do verbo latino nascere, que fixa a fórmula natalis, que se traduz
por nascer. O natal é o ato de nascer.
As
pessoas, as nações, os acontecimentos marcantes de um país ou de interesse para
a Humanidade, costumam repetir-se por cada ano que passa. A esse ciclo
existencial se chama aniversário.
Portugal, embora tenha passado por diversas
fases para ser reconhecido pela Santa Sé, como país livre e independente, teve
um primeiro ato fundacional. A esse ato se chamou aquela «Primeira Tarde
Portuguesa» que se viveu nos campos de S. Mamede, no dia 24 de Junho de 1128.
Ainda hoje se celebra em Creixomil, a Festa da Senhora da Luz, baseada na
crença de que foi Nossa Senhora que prolongou a luz do dia para que a batalha
se fizesse naquela data.
Independentemente de ter sido em 25 de Julho
de 1139, que Afonso Henriques se auto-proclamou rei, ao vencer os cinco reis
mouros, na Batalha de Ourique; ou de ser em Zamora, em 1143, que o primo o
reconheceu como tal; ou ser em 1179 que o Papa consumou esse reconhecimento,
através da Bula Manifestis Probatum, a verdade é que, se não tivesse ocorrido o
24 de Junho de 1128, nenhuma das restantes ocorrências, teria a ver com o ato
fundacional.
Durante muitos anos, outros feitos históricos
foram pretexto para celebrar o «nascimento» de Portugal. Casos das batalhas de
Ourique, de Aljubarrota, da promulgação da Bula Papal, da Tomada de Ceuta e,
mais recentemente, já se pretendeu sobrepor o 1º de Dezembro de 1640, dia da
Restauração. Ora nenhum desses feitos, por mais relevantes que tenham sido,
tiveram o clic fundacional.
Mais próximo da revolução dos cravos
comemorava-se o Dia da Raça, no dia 10 de Junho, por ser esse o dia em que
faleceu Camões. Mesmo sendo o maior épico que tivemos, graças ao seu imortal
Poema, «Os Lusíadas», quando Camões faleceu já Portugal existia há 457 anos. E
se tivéssemos de homenagear um herói teria de ser Afonso Henriques, o gerador
da Portugalidade. Para quem prefira o 1º de Dezembro, bastará saber que apenas
se restaura aquilo que já existiu.
Após o 25 de Abril as diferentes forças
políticas, em Guimarães, tudo fizeram para encontrarem consenso em que o 24 de
Junho, fosse não só feriado municipal, mas sim nacional, para o que apenas
bastaria a Assembleia da República, deliberar esse desígnio histórico. Não
seria preciso criar mais um feriado. Bastaria trocar o 10 de Junho pelo 24 do
mesmo mês. Tão simples como isso.
A autarquia sempre encontrou entendimento
para convidar o Presidente da República e o Governo, para virem à primeira
capital histórica de Portugal, associar-se a esse data. Ganharíamos todos com
essa alteração, ficaria acertado o passo com a Historiografia Portuguesa e
evitaríamos que as futuras gerações ficassem sem resposta à pergunta: se
Portugal nasceu naquela Primeira tarde Portuguesa, na Batalha de S. Mamede,
porque não se cantam, nesse dia, os parabéns a você?
Até aos fins do século XX houve sempre
entusiasmo popular por esse encontro com a História. Vários deputados, de todos
os quadrantes, a Presidência da República, a Assembleia da República e os mass
media, sistematicamente, eram assediados com cartas, com exposições, com abaixo
assinados para que exercessem as suas
influências no sentido de dar sentido ao Dia Um de Portugal.
Tudo
em vão. A própria RTP, nomeadamente a direção do Programa «Prós e Contras», foi
convidada para debater esse importante tema de interesse nacional. Sempre negou
esse direito.
A Batalha de S. Mamede assinala no dia 24
deste mês, 888 anos. É uma data curiosa e deveria ser um imperativo nacional de
todos os Portugueses, a partir das Forças políticas, dos órgãos de Soberania,
das comunidades locais, regionais e nacionais dar este passo em frente.
Trata-se de uma questão serena, graciosa e
convergente. Não traz custos acrescidos, nem para os trabalhadores nem para os
patrões. Não agrava a economia, não colide com a religião, nem introduz obstáculos fraturantes para a sociedade.
Consiste, apenas e só, na troca, no mesmo mês, de um dia de semana por outro
dia de outra semana.
Entretidos
com o futebol e com o tratamento aos corruptos que corrompem a alma da
Portugalidade, nem sequer se lembram deste aniversário nacional.
Barroso
da Fonte
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