quarta-feira, 22 de junho de 2016

Portugal nasceu há 888 anos



BARROSO da FONTE
 Portugal nasceu há 888 anos. Foi dia 24 de Junho de 1128 na Batalha de S.Mamede.

As enciclopédias definem a palavra aniversário como algo que se repete todos os anos. Deriva do verbo latino nascere, que fixa a fórmula natalis, que se traduz por nascer. O natal é o ato de nascer.
As pessoas, as nações, os acontecimentos marcantes de um país ou de interesse para a Humanidade, costumam repetir-se por cada ano que passa. A esse ciclo existencial se chama aniversário.
 Portugal, embora tenha passado por diversas fases para ser reconhecido pela Santa Sé, como país livre e independente, teve um primeiro ato fundacional. A esse ato se chamou aquela «Primeira Tarde Portuguesa» que se viveu nos campos de S. Mamede, no dia 24 de Junho de 1128. Ainda hoje se celebra em Creixomil, a Festa da Senhora da Luz, baseada na crença de que foi Nossa Senhora que prolongou a luz do dia para que a batalha se fizesse naquela data.
  Independentemente de ter sido em 25 de Julho de 1139, que Afonso Henriques se auto-proclamou rei, ao vencer os cinco reis mouros, na Batalha de Ourique; ou de ser em Zamora, em 1143, que o primo o reconheceu como tal; ou ser em 1179 que o Papa consumou esse reconhecimento, através da Bula Manifestis Probatum, a verdade é que, se não tivesse ocorrido o 24 de Junho de 1128, nenhuma das restantes ocorrências, teria a ver com o ato fundacional.
  Durante muitos anos, outros feitos históricos foram pretexto para celebrar o «nascimento» de Portugal. Casos das batalhas de Ourique, de Aljubarrota, da promulgação da Bula Papal, da Tomada de Ceuta e, mais recentemente, já se pretendeu sobrepor o 1º de Dezembro de 1640, dia da Restauração. Ora nenhum desses feitos, por mais relevantes que tenham sido, tiveram o clic fundacional.
  Mais próximo da revolução dos cravos comemorava-se o Dia da Raça, no dia 10 de Junho, por ser esse o dia em que faleceu Camões. Mesmo sendo o maior épico que tivemos, graças ao seu imortal Poema, «Os Lusíadas», quando Camões faleceu já Portugal existia há 457 anos. E se tivéssemos de homenagear um herói teria de ser Afonso Henriques, o gerador da Portugalidade. Para quem prefira o 1º de Dezembro, bastará saber que apenas se restaura aquilo que já existiu.
   Após o 25 de Abril as diferentes forças políticas, em Guimarães, tudo fizeram para encontrarem consenso em que o 24 de Junho, fosse não só feriado municipal, mas sim nacional, para o que apenas bastaria a Assembleia da República, deliberar esse desígnio histórico. Não seria preciso criar mais um feriado. Bastaria trocar o 10 de Junho pelo 24 do mesmo mês. Tão simples como isso.
  A autarquia sempre encontrou entendimento para convidar o Presidente da República e o Governo, para virem à primeira capital histórica de Portugal, associar-se a esse data. Ganharíamos todos com essa alteração, ficaria acertado o passo com a Historiografia Portuguesa e evitaríamos que as futuras gerações ficassem sem resposta à pergunta: se Portugal nasceu naquela Primeira tarde Portuguesa, na Batalha de S. Mamede, porque não se cantam, nesse dia, os parabéns a você?
  Até aos fins do século XX houve sempre entusiasmo popular por esse encontro com a História. Vários deputados, de todos os quadrantes, a Presidência da República, a Assembleia da República e os mass media, sistematicamente, eram assediados com cartas, com exposições, com abaixo assinados para que exercessem as  suas influências no sentido de dar sentido ao Dia Um de Portugal.
Tudo em vão. A própria RTP, nomeadamente a direção do Programa «Prós e Contras», foi convidada para debater esse importante tema de interesse nacional. Sempre negou esse direito.
  A Batalha de S. Mamede assinala no dia 24 deste mês, 888 anos. É uma data curiosa e deveria ser um imperativo nacional de todos os Portugueses, a partir das Forças políticas, dos órgãos de Soberania, das comunidades locais, regionais e nacionais dar este passo em frente.
  Trata-se de uma questão serena, graciosa e convergente. Não traz custos acrescidos, nem para os trabalhadores nem para os patrões. Não agrava a economia, não colide com a religião, nem introduz  obstáculos fraturantes para a sociedade. Consiste, apenas e só, na troca, no mesmo mês, de um dia de semana por outro dia de outra semana.
Entretidos com o futebol e com o tratamento aos corruptos que corrompem a alma da Portugalidade, nem sequer se lembram deste aniversário nacional.

                                                                                                      Barroso da Fonte

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