No
meio desta cena de mau gosto não se ficou a saber ao certo o que na essência
separava o dr. Lamas do ministro.
Como o dr. João Soares muito bem sabe, não
tenho por ele qualquer respeito nem como homem, nem como político. Houve
pessoas – Teresa Gouveia e José Manuel Fernandes – que, a propósito do “caso
Lamas”, descobriram agora a insignificância e a grosseria dessa lamentável
personagem. Chegam tarde. Claro que o ministro podia ter chamado discretamente
o director do CCB para o demitir, alegando, como está no seu direito, falta de
confiança política ou pessoal. Mas João Soares preferiu fazer do incidente um
espectáculo público. Ameaçou o dr. Lamas, exibiu os seus poderes (que lhe vêm
exclusivamente do cargo) e no fim ainda se foi gabar para a televisão. Não se
percebe o motivo de toda esta palhaçada, excepto se pensarmos que ele é no
governo um verbo-de-encher e que o PS o atura por simples caridade.
Infelizmente, no meio desta cena de mau
gosto não se ficou a saber ao certo o que na essência separava o dr. Lamas do
ministro. O dr. Lamas fizera uma obra extraordinária em Sintra, restaurando
monumentos, do palácio da Pena ao chalet da condessa de Edla, reabilitando
jardins, acabando com os crónicos prejuízos da parte cultural da vila. Mas, transferido
para o CCB em 2014, resolveu repetir a receita e transformar a zona entre a
Ajuda e Belém no seu segundo parque turístico. Embora publicado na internet,
nem a televisão, nem os jornais, que discutem as mais sufocantes banalidades,
discutiram o plano do dr. Lamas. Mesmo o ministério da Cultura e a CML não se
manifestaram. E quando o sr. Soares desembarcou no governo decidiu liquidar a
coisa sem uma palavra de explicação.
Isto de mandar no povinho sem sequer o
informar não é bonito. Sendo lisboeta, não me apetece muito que entre a Ajuda e
Belém apareçam durante o ano inteiro milhares e milhares de turistas, tapando a
vista e atravancando as ruas. Mas gostaria de saber o que o dr. Lamas pensa
sobre o assunto e já agora o que pensa, se pensa alguma coisa, o sr. Soares. De
resto, a mais preliminar consideração pelas pessoas exige que os moradores do
sítio sejam previamente consultados. Reconheço que a vontade do país não é a grande
preocupação do dr. Costa, mas não custava muito ouvir as pessoas que, em última
análise vão, ou não vão, ser vítimas da fantasia urbanística do ministério da
Cultura ou da CML. Dissertações sobre a falta de maneiras do dr. João Soares
não nos levam longe.
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