Em 1428, com a idade de
39 anos, Cosme de Médices viu-se herdeiro da maior fortuna da Toscana.
Controlava um banco, extensas quintas, fábricas e um comércio que se estendia à
Espanha, Escócia, Siria e Rússia. O seu contributo para as obras públicas e
caridades, permitiram que o povo aceitasse com tranquilidade a sua ditadura
indirecta dos assuntos florentinos.
Cerca de 100 anos antes
Petrarca (1327) apaixonara-se por Laura di Sade e Bocacio (1331) por Maria
d’Aquino. E estas paixões, originaram (de forma simplista) o términus da Idade Média e o surgimento
do Renascimento, que propunha os prazeres terrenos em vez dos prazeres
hipotéticos de um paraíso pós-morte, restaurando não só a literatura da
Antiguidade Clássica, mas também a sua procura de uma liberdade hedonista
depois de mil anos de disciplina moral assente em crenças sobrenaturais.
O que trouxe a cultura
clássica aos Homens do Renascimento que fizeram do Norte de Itália (Florença e
Veneza) o centro do mundo durante um século (c.1434-1534)? Os valores e os princípios éticos, disseminados pela filosofia platónica e, em
geral, pelos filósofos gregos e romanos da Antiguidade.
Mas foi preciso muito
mais do que o ressurgimento da Antiguidade para produzir o Renascimento. Foi
preciso, em primeiro lugar, dinheiro
(a raiz de toda a civilização). Dinheiro fétido do burguês. Os lucros de
administradores habilidosos e do trabalho humilde. De viagens perigosas para
comprar bens baratos e vendê-los caros. De cálculos, investimentos e
empréstimos cuidadosos. De juros e dividendos acumulados. Tudo para se
economizar o suficiente para poder pagar a arte de Ângelo ou Ticiano.
É, pois, neste contexto,
que surge a importância de um Cosme de Médicis, do seu filho Pedro e do seu
neto Lourenço, o Magnifico. Homens com um poder económico fabuloso, orientados
por mestres como Pico della Mirandola, ou Marsílio Ficino (bastante influenciados
por Giordano Bruno). Os Cosme eram, além de ricos, homens cultos. Lourenço
estudou Grego e Filosofia. O seu avô gastou grande parte da fortuna a
colecionar textos. Contratou 44 copistas para copiarem manuscritos que não
podiam ser comprados, criou a Academia Platónica, pagou generosamente a
artistas como Donatello. Já a acção de Lourenço foi tão rica que quando morreu
prematuramente foi chorado por Florença inteira, incluindo os seus opositores.
A que propósito trazemos
esta época histórica à colaça? A propósito de alguns comentadores televisivos
(que desconhecem vários períodos da História) que se não cansam de afirmar que
a politica se deve sobrepor à economia. Estão equivocados. Não há Politica sem
Economia, como não há Economia sem Politica. Ambas coexistem. E devem coexistir
em harmonia. Os fundadores da Comunidade Económica Europeia perceberam-no.
Porque eram homens cultos, e tal como os renascentistas, conheciam a cultura
clássica. E quando fundaram a antiga CEE, fizeram-no sob os valores e princípios
éticos clássicos (basta conhecer a história de cada um). O dinheiro é
necessário, como é necessário que os homens políticos (e das instituições
publicas – da coisa publica) tenham uma formação ética (e moral) que lhes
permita perceber que a força dos contrários (Heráclito) procura o equilíbrio, a
harmonia (como o perceberam os Cosme). Sem isto, a balança pende apenas para um
lado: para a vigarice, a corrupção. Foi isso que aqui nos
trouxe, ao abismo – a corrupção do Estado (da coisa pública), ao nível das mais
diminutas repartições! Armando
Palavras
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