Barroso da Fonte |
Dia
12 deste mês ficará na história como dia invernoso, futebol do melhor da época
e mais uma escorregadela do mais alto magistrado da Nação.
Se calhasse no dia 13 diríamos que foram as
bruxas vindas da Galiza e arrastadas pelo vento, a mando do mediático Padre
para os lados de Lisboa. Mas foi na véspera do dia 13. E por isso não houve
intervenção demoníaca. Contra o mau
tempo não podemos barafustar porque estamos no auge do inverno e o remédio é
aguentar. Mas há remédio para acabar com esta anarquia antidemocrática que
transforma a corrupção em modelo de
virtudes e cava um fosso na sociedade que trabalha e a sociedade esbanja, que
protege e endeusa uns e espezinha outros.
Após uma semana quase completa a impingir
futebol a crentes e a descrentes, realizou-se nessa noite um dos jogos mais
mediáticos da primeira liga: Benfica e Porto. Ao que disseram os diversos
canais televisivos e mostraram as imagens selecionadas, esse jogo foi um hino à
futebol. Até a equipa de arbitragem, desta vez, mereceu elogios. Dizem ter
ganho a equipa que foi mais feliz. E aos nortenhos, agradou a vitória do Porto.
Quanto àquilo que, a meio dessa tarde, as
televisões mostraram, a partir da Presidência da República, já pela sexta vez,
em 2016, foi a exaltação daquilo que todos os políticos gostam de prometer, nas
campanhas eleitorais, mas logo esquecem e, de imediato, aplaudem: a corrupção.
O
país está irreconhecível no tocante à desonestidade. Os políticos mudam de
convicções como o vento muda de direção. Aqueles quatro vocábulos que António
Costa tanto alardeou na campanha eleitoral, ao proclamar: «Palavra dada,
palavra honrada», foram logo descontextualizados e reduzidos a gargalhadas
carnavalescas. Demonstrei-o numa das minhas últimas crónicas.
Todos
os Chefes de Estado que tivemos, por eleição, desde a revolução dos cravos,
usaram e abusaram das medalhas honoríficas, que desde 1802, foram instituídas
para distinguir o mérito excecional. Durante o Estado Novo essas distinções
eram entregues no dia 10 de Junho que, erradamente, continua a celebrar-se
nessa data, quando deveria ser em 24 de Junho, muito bem traduzida pela
«Primeira de Tarde Portuguesa». O dia de um país não se assinala quando nasce
ou morre um filho desse país, mas quando esse país se liberta, se emancipa ou
se torna independente. Portugal nasceu naquela primeira tarde Portuguesa, em 24
de Junho de 1128, na Batalha de S. Mamede. O 10 de Junho passou a assinalar o
dia da morte de Luís de Camões que foi um nome grande da cultura mundial. Mas
homens grandes houve, felizmente, muitos, sobretudo anteriores a Camões.
Recentemente ressuscitou-se o 1º de Dezembro, dia da restauração, alusivo a
1640. Na altura alertámos os deputados para a incongruência, quase direi,
disparate, porque apenas se restaura aquilo que já existe. Quando se fez a
restauração Portugal já tinha nascido há 512 anos. Anda muita gente pelos
areópagos da vida nacional que imita os papagaios: limitam-se a proferir o que
lhes ensinam...
Volto
às oito personalidades que o chefe de Estado condecorou em 12 do corrente,
colocando ao pescoço de oito cidadãos, distinções que foram pura e simplesmente
banalizadas. Entre os ex-ministros que
entraram na galeria das celebridades, houve uma diferença abismal. Exemplifico com dois do PS: enquanto Rui Carlos Pereira, desde há muito
deveria ter sido agraciado, Maria de Lurdes Rodrigues, nunca, por nunca,
deveria receber tal galardão. Chegou a ser condenada a três anos e meio de
prisão, por irregularidades graves. Fez figura com dinheiros públicos que
recomendariam a exclusão dessa docente da vida ativa do Estado. Cavaco Silva,
talvez para equilibrar o ato político, com Nuno Crato, cometeu essa afronta, mesmo
a quem, como eu próprio sempre o defendi, até por ter nascido no mesmo ano, ter
sido alferes no mesmo tempo e ter cumprido o serviço militar no Ultramar,
sacrifício a que outros fugirem, alegando ter o pé raso.
Já
noutra altura condecorara autarcas que viram os orçamentos chumbados pelos
órgãos fiscalizadores; e até condecorou o costureiro da primeira dama.
Ao
pretender nivelar um político da sua área política, com outro da área
opositora, errou.
Sete
dos oito agraciados deste dia 12, terão ficado ofuscados pelo critério
político. Foi um péssimo serviço à moral, um incentivo à prevaricação e mais um
abuso das competências do cargo. Vulgarizou em dez anos, como fizera Mário
Soares e Jorge Sampaio («o rei das medalhas») o simbolismo e mérito das
insígnias. Nunca condecorou representantes do povo que o elegeu: operários
têxteis, camponeses, pastores, gente simples. A solidariedade com a gente da
minha terra – esse Povo que sempre o recebeu com hospitalidade e que lhe
garantiu vitórias sucessiva- foi sempre ignorado pelos sucessivos Presidentes.
De Cavaco esperava, respeito, gratidão e apreço.
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