terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

É chique terem-se cães e gatos em casa

Jorge Lage


Fui criado num meio rural sóbrio e sem vaidades. Vaidade podia ter, na minha aldeia, quem trabalhava melhor ou sabia tratar da agricultura, da pecuária e dos animais domésticos com mestria. Vaidade podia ter, ainda, quem tratava dos seus idosos com amor e carinho e os trazia sempre limpinhos. Hoje, nas cidades, é chique possuir gatos e cães e se tiverem de ir ao médico-veterinário ainda melhor porque se arranja tema de conversa vazia para uns dias. Se as listas de espera para consulta ou tratamento estão demoradas não descobrem um consultório ou clínica privados para valer numa aflição. Estou em querer que muitos que não podem ter bons carros se viram para estes animais de regalo. Outros têm ambos, ainda que o quatro rodas seja com recurso a engenhosas prestações bancárias mensais. O próprio Papa Francisco já alertou, por haver pessoas que tratam melhor os cães de regalo que a família (principalmente idosos e crianças). Aos familiares que lhes estorvam arreganham-lhe o dente e aos gatos e cães passam-lhe a mão pelo pêlo e alguns, até os aconchegam na cama e convidam-nos para o repasto à sua mesa. Há trinta anos tinha conhecimento que uma minha colega, casada com um advogado, este não admitia, sequer, que a mulher ralhasse ao caniche. O cão apetecia-lhe urinar ou arrear o merondo na alcatifa ou no sofá… e porque não? Outro caso que mexia comigo, era um jovem casal com cara de quem passava lazeira, tinha uns filhos com o sebo de um pisco cansado da viagem de arribação e dois cães que, também, metiam dó. Há outras situações de animais corpulentos a viverem dois e três no mesmo pequeno apartamento com os donos, sendo para mim uma grande confusão. Mas, há pessoas que dão todas as condições aos cães e gatos com quem vivem e aos familiares choram o que gastam com um produto de marca branca. O cão sempre foi o fiel amigo. Sempre? Até haver o culto das raças assassinas. Mas a inversão de valores sociais, humanos e da vida estão na moda e, por este andar, as cidades serão cada vez mais de canídeos do que de gente. Os animais têm a sua função e são necessários, mas, como diz o povo: cada macaco em seu galho. É do senso comum. Quem tem cães de regalo podia pagar uma taxa social ou de sanidade porque os merondos na via pública ou parques incomodam e prejudicam a saúde pública. Fez bem o nosso Município em elevar a coima para os donos que deixem o canino montão na via pulica.

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