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Ponte da Misarela - Montalegre
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Barroso da Fonte |
Há Serviços de interesse público
que deixaram de o ser na teoria e na prática. Os correios, os telefones, a televisão pública, a Rdp, a
Tap, a Edp, etc.
O concelho de Montalegre, sendo
dos mais agrestes, dos mais planálticos, dos mais expostos às intempéries
climatéricas, deveria ser contemporizado com os sortilégios do progresso
social, económico e tecnológico do país. Aqueles que aí nascem, vivem e têm de
sobreviver, deveriam ser tratados, socialmente, com cuidados acrescidos.
Deveriam ser tidas em conta contrapartidas positivas, como por exemplo se faz
quando um funcionário público tem direito a subsídio de alimentação, de
isolamento, de viagem. É esse o concelho do país que mais barragens acolhe e
alimenta com a água dos seus rios: o Cávado e o Rabagão. Deveria ter
contrapartidas.
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O entrudo na ponte da Misarela |
Ora o que sucede é o contrário de
tudo isso. Quem aí nasce e tem de viver e conviver uma vida inteira, é
descriminado desde que nasce até que morre. É sempre o último a receber aquilo
que a lei exige e o primeiro a cumprir os deveres para com o Estado. Pior do
que isso: o orçamento geral do Estado é distribuído a partir do Terreiro do
Paço para a fronteira e nunca a começar da fronteira para o Terreiro do Paço.
Os deputados, por exemplo, chegam a Lisboa, declaram que tem a residência em
Trás-os-Montes, nos Açores ou na Madeira. Durante todo o mandato, passam a
trabalhar em Lisboa, e processam ajudas
de custo que contemplam alimentação, pernoita e viagem, ao nível mais elevado
da função pública.
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Rio Cávado |
Portugal é um
país pequeno em termos geográficos. Mas foi um império e consolidou uma língua
de 250 milhões de falantes que tem vez e tem voz na União Europeia, nas Nações
Unidas, na Nato, na OCDE. A verdade é
que anualmente se projectam empreendimentos, ditos de interesse público a começar por Lisboa, zona envolvente, chegam
a Setúbal, passam por Coimbra, alongam-se ao Algarve, sobem ao Porto, ainda vão
chegando a Braga. Essa peçonhenta odisseia de investir o património de todos,
junto aos lares de alguns que nem sempre
merecem o pão que comem, é um crime democrático que nunca teve ideias geradoras
de um partido político que imponha tréguas para inverter a marcha dos
investimentos que enriquecem os centros urbanos, em prejuízo crescente dos
arrabaldes do País que somos. País que, a passo largo, em vez de incluir, de
equiparar, de entrelaçar pessoas e bens, cada vez mais aprofunda os alicerces
de uma convivência pacífica, justa e coerente.
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Rio Rabagão |
Trago este
tema à reflexão com os meus leitores, após alguns dias de pausa no meu pátrio
Barroso que deu para testar injustiças flagrantes. O concelho Barrosão é aquele
que tem maior número de barragens no leito dos seus rios (Cávado e Rabagão).
Para acolher essas barragens empobreceu, com a cedência dos melhores vales agrícolas
. O autor desta crónica viu nascer, desde os alicerces, a barragem do Alto
Rabagão que foi a última do sistema. Na altura essas cinco albufeiras
pertenciam à HICA (Hidroeléctrica do Cávado). Devo-lhe o abrigo que me deu para
ser apontador da Magop e, depois, fiscal dessa empresa patronal. Devo-lhe ainda
mais, o respeito de me garantir o emprego até regressar do Serviço Militar
obrigatório. Teve a dignidade de, após eu ter regressado, do Ultramar, me
escrever uma carta registada, a convidar-me para ir reocupar o lugar que me
estava reservado. Agradeci mas não aceitei. Talvez tenha feito mal. Entretanto
a HICA virou EDP. E esta pertence hoje aos Chineses, contra os quais nada
tenho, a não ser o desencanto de, como filho de Codeçoso, ver às escuras, a Rua
do Carvalho, que por minha interferência, passou a ser a rua mais habitada e
mais moderna da aldeia. De nada vale esse estatuto, aos olhos da EDP. Essa Rua, onde nasci e me criei com mais nove
irmãos passou a ter luz eléctrica em 1962. Desde aí passou a ter quatro
lâmpadas públicas. Passaram já 52 anos. Desde Setembro até hoje, essas
quatro necessárias luzes, encontram-se
apagadas. Dia 8 de Outubro pedi socorro,
por mail, à simpática vereadora das obras que no mesmo dia me respondeu a
informar que logo participara à EDP. Pelo silêncio em relação à avaria, presumo
que a concessionária já nem sequer respeita a representante legítima da Câmara
que fornece a energia. Como habitante ocasional dessa aldeia, onde nasce o
importantíssimo Rio que suporta as duas barragens de Pisões e da Venda Nova e
reforça o caudal de Salamonde e Caniçada, tenho outras mágoas contra as
empresas prestadoras de Serviços: Edp, Vodafone e Televisão. Aos primeiros
ventos deste Outono os retransmissores de Leiranco (junto a Sapiãos), deram o
berro. Se fosse em Lisboa, Porto e
arredores essa pecha que me dizem ser
repetitiva, por cada trovoada ou temporal mais estrondoso, as empresas
responsáveis já tinham greves à porta. Ali, em Barroso, onde reina a paz dos
sepulcros e onde as bruxas e cartomantes têm ponto de encontro marcado pelo
Padre Fontes, não é costumes tocar o sino a rebate. Aqui há dois ou três anos,
Barroso ficou sem televisão. Quem quis retomar esses sinais obrigatórios de uma
vida normal, teve que mudar de antena ou televisor. Muitos se terão governado
com o mal público. Ainda o problema não estava sanado e já novas pragas chegaram às mesmas vítimas. A par das
antenas dos telemóveis e das televisões, uma outra praga social: não há sinais
práticos para acesso à internet. E todas estas carências só vingam onde as
vítimas ajoelham quando passa a procissão, como diria Torga, se fosse vivo.
Barroso da Fonte
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