Dinis de Abreu in: Jornal Sol |
O mesmo homem sem solução para as
cheias da cidade, já se sente ungido para arrasar as contas do Orçamento
Há um contraste evidente entre o
ainda autarca e o putativo candidato a primeiro ministro, entronizado em breve
como líder do PS, com oficiantes já declarados, dos socráticos aos soaristas,
com os ferristas a fechar o cortejo - se ainda sobejar algum no Largo do Rato.
A reverência mediática -
incluindo boa parte do país dos comentários - acicata-lhe a displicência.
Para o presidente do Município,
não há plano de drenagem que salve a cidade de andar com água pelo joelho, se a
pluviosidade for mais intensa. Impassível, proclama que “não existe solução” para
as cheias. E passa adiante.
Afortunadamente, não dirige os
destinos de Veneza, Amesterdão ou Belém do Pará...
Ninguém o pode culpar pela
ignorância em matéria de drenagem. É para isso que o Município dispõe de
quadros técnicos. Se não bastassem os que tem por casa, o autarca poderia ter
convocado uns quantos engenheiros de boa vontade para lhe ensinarem o caminho.
Mas não. Preferiu culpar os
meteorologistas. E ironizar com o “estatuto de imunidade” de S. Pedro - que
“está acima das responsabilidades”. Se o santo o põe ao espelho…
Dantes, os editores dos jornais,
quando o Inverno chegava, rejubilavam com as inundações garantidas na zona de
Santa Apolónia. A primeira página estava resolvida.
Para seu desgosto, fizeram-se
obras e acabou o maná noticioso. Costa devolveu-lhes essa alegria, com juros de
mora. Agora, em versão alargada às artérias nobres da cidade e à Baixa
pombalina. Um problema menor.
E daí - já vestido de líder da
oposição -, mudou de agulha e, em vez de convocar engenheiros, reuniu à sua
volta três dezenas de economistas paroquiais, com o louvável objectivo de validarem
uma decisão já tomada: o voto do PS contra o Orçamento do Estado.
O conclave permitiu-lhe afirmar,
convicto, que “este Orçamento não tem qualquer sinal de inversão da política
económica, sendo o último de um Governo esgotado e sem soluções”.
O mesmo homem sem solução para as
cheias da cidade, já se sente ungido para arrasar as contas do Orçamento. Como
de costume, sem se comprometer com nada.
O truque do discurso redondo, à
margem de compromissos, funcionou, como se sabe, durante a campanha das
primárias do PS.
Mereceu um cheque em branco dos
crentes que o elegeram. Há missas assim: o celebrante alinha frases feitas e a
assistência acha que foi uma bonita homilia.
O problema é que o país não se
resolve com a fé dos devotos, nem à mesa da Quadratura do Círculo, com Pacheco
Pereira a atiçar as brasas.
O mais recente “descalabro das
contas públicas portuguesas - di-lo Catroga em entrevista ao i - foi de 1996 a
2010”.
Durante esse longo período, o
poder socialista só mudou de rostos, desde o pântano de Guterres ao precipício
de Sócrates. É essa a herança que se tenta esconder no baú. Com seriedade,
convirá não insistir na solução de sacudir a água do capote…
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