domingo, 14 de setembro de 2014

Shakespeare e as circunstâncias de Armando Vara


Por mais graves que sejam as circunstâncias, temos o dever moral e ético de nunca as invocar. Em termos jurídicos elas serão sempre avaliadas (como em termos de cidadania). Um individuo que é assaltado à noite numa rua escura, não está nas mesmas circunstâncias que outro assaltado numa rua ampla em plena luz do dia. Da mesma forma, as circunstâncias de um individuo que rouba um frango para dar de comer aos filhos, não são as as mesmas de um financeiro que leva à falência um banco pondo na miséria uma quantidade de famílias e, em certos casos, um país. Ou de igual maneira, o individuo que foi injustiçado pela invidia e corrupção.
Em termos éticos e morais, as circunstâncias só devem ser avaliadas quando não põem em causa princípios universais. E só por isso, esses casos,  se entendem como circunstanciais.
Não foi o caso de Armando Vara. As circunstâncias a que ele apela em nada justificam os actos pelos quais foi condenado. Bem pelo contrário. São essas circunstâncias que o condenam, porque os cargos que exercia permitiam-lhe uma vida privilegiada e obrigavam-no a uma conduta elevada.
Ao individuo que rouba o frango para dar de comer aos filhos por estar numa situação escabrosa de desemprego, pode-se aplicar as palavras de Shakespeare: “Tirais a minha vida quando me tirais os meios pelos quais eu vivo”. Mas nunca a Armando Vara, cuja natureza não dependia das circunstâncias. Tinha meios substanciais para evitar a simples cupidez.

                                                                  Armando Palavras

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