Dedicado a todos os que tombaram em batalha na Primeira Guerra Mundial
A 23 de
Agosto de 1914, nas cercanias de Mons (Bélgica), as tropas da Força
Expedicionária Britânica, comandada pelo marechal John French, confrontaram-se
inesperadamente com o magnifico 1º Exército alemão, sob as ordens de Alexander
von Kluck, cuja força era superiormente esmagadora.
Os
ingleses foram forçados a retirar, e o desfecho não foi fatal porque a aviação,
na sua tarefa de reconhecimento, conseguiu avisar os britânicos sobre os
movimentos do Exército alemão e sobre o alcance da sua artilharia.
A
operação de retirada desenvolveu-se com tal sorte que poucas semanas depois do
acontecimento, se generalizou o rumor de que a salvação do Exército britânico
fora milagrosa. Durante a jornada fora observada uma legião de anjos que viera em seu auxilio.
Havia
necessidade de literatura heróica para motivar os soldados nas trincheiras. E
nesse sentido, o escritor galês Arthur Machen[1], conhecido pelos seus contos
fantásticos[2],
foi solicitado pelo The Evening. E Arthur, ao correr da pena, mas dentro
do seu estilo, escreveu um texto que intitulou The Bowmen (Os
Arqueiros). O jornal publicou-o a 29 de Setembro desse ano. Um mês e seis
dias depois do acontecimento. Nesse escrito,
Machen imaginara um episódio dessa batalha: São Jorge à frente de uma
legião de anjos, os antigos archeiros de Azincourt[3], viera em auxilio do exército
britânico.
Várias
dezenas de soldados escreveram para o jornal dizendo que o senhor Machen nada
inventara. Eles próprios poderiam testemunhar sob a sua honra. Com os seus
próprios olhos tinham observado, diante de Mons, os anjos de São Jorge
deslizarem para o meio das fileiras.
Não
adiantou nada que Arthur Machen tivesse
repetido mais de uma dúzia de vezes, em vários jornais, que a sua narrativa era pura ficção.
“Essa
lenda faz agora parte da mitologia popular e anda na boca de gente humilde que
nada sabe dele”, diz-nos Jorge Luís Borges, na sua Biblioteca Pessoal.
Armando
Palavras
[1]Nasceu em 1863, nas serranias de Gales, a antiga
Bretanha de antigos sonhos e lendas secretas, e morreu em 1947 na miséria. Em
1943, Bernard Shaw, Max Becerbohn e T.S. Eliot organizaram uma comissão,
procurando adquirir fundos para que não acabasse num asilo de indigentes.
[2]
Arthur Machen foi muito mais do que um escritor de contos fantásticos.
Poucos conhecem o seu percurso. Será que certas forças, no episódio de Mons,
responderam ao apelo da sua imaginação?
[3] A batalha de
Azincourt desenrolou-se em 1415, na Guerra dos Cem Anos. Nela os
arqueiros ingleses tiveram um papel determinante na vitória brilhante dos
ingleses.
Sem comentários:
Enviar um comentário