Em Abril
de 1914, Einstein mudou-se com a família para Berlim, voltando a aceitar a
nacionalidade alemã, que havia recusado quando lhe ofereceram (depois de
adversidades gigantescas) o lugar de professor no politécnico de Zurique, onde
se havia formado. Max Planck fizera-lhe chegar uma proposta irrecusável: passar
a fazer parte dos membros da Real academia Cientifica da Prússia, além de lhe
oferecerem um lugar de Professor sem obrigações docentes na Universidade de
Berlim e a direcção da Divisão de Investigação Cientifica do Instituto Kaiser
Wilhelm.
Em
Agosto desse ano deflagrou a Primeira Guerra Mundial com a invasão da Bélgica
pelos Alemães. Um grupo de 93 intelectuais alemães, pressionados pela crítica
internacional, assinam um Manifesto ao mundo civilizado, onde justificam
a intervenção bélica, fazendo uma defesa inflamada do militarismo alemão como
expressão da sua cultura. Quando o pacifista alemão Georg Nicolai, fez circular
uma réplica (Manifesto aos europeus) a esse vergonhoso Manifesto, Einstein,
também pacifista desde a juventude, não hesitou em assiná-lo. Só mais duas
pessoas o ousaram fazer. E nele se podia ler: “A guerra que ruge dificilmente
pode dar um vencedor; todas as nações que nela participam pagarão, com toda a
probabilidade, um preço extremamente alto (…) O nosso único propósito é afirmar
a nossa profunda convicção de que chegou o momento de a Europa se unir para
defender o seu território, a sua gente e a sua cultura. (…) Estamos a
manifestar publicamente a nossa fé na unidade europeia (...)”. E vai por aí
adiante.
Além de
assinar o Manifesto, o antissemitismo que grassava na Alemanha, levou-o, pela
primeira vez na vida, a reivindicar a
sua condição de judeu e a colaborar activamente com o movimento sionista que
reclamava a criação de uma pátria judaica na Palestina, embora, por natureza,
não sentisse nenhum apego especial a nenhum Estado ou entidade nacional, como
escreveria a um amigo em 1918.
Einstein
torna-se persona non grata na Alemanha, e segue para os Estados Unidos
da América, quando Hitler sobe ao poder, em 1933. As peripécias dessa viagem
não interessam para este escrito.
Com
Hitler qualquer disparate era possível, e qualquer crime tinha justificação.
Informado de que os alemães estavam a desenvolver a “bomba atómica”, Einstein
escreve ao presidente Roosevelt duas cartas (1940), informando-o que a bem da
Humanidade era aconselhável que os EUA se adiantassem aos alemães. Os
Americanos põem em marcha o Projecto Manhattan e com ele o fabrico da
bomba nuclear[1].
Os horrores nazis da Guerra tinham contribuído para que o pacifista renunciasse
aos seus princípios.
Cinco
anos depois, quando os nazis estavam perto da rendição incondicional, Einstein escreveu a Roosevelt uma terceira carta, suplicando que
a bomba não fosse lançada sobre o Japão.
Roosevelt morreu antes de ler a carta; foi encontrada fechada na sua
secretária. Todavia, Truman que o sucedeu, deu ordens para que fosse lançada
sobre Hiroxima e Nagasáqui.
Anos
antes, em 1929, em carta a amigo pode ler-se sobre a questão
israelo-palestiniana: “Se não conseguimos encontrar o caminho da honesta
cooperação e acordos com os árabes, é porque não aprendemos nada com a nossa
velha odisseia de dois mil anos, e merecemos o destino que nos acossará”.
Será que
o velho livre-pensador, homem e cientista de génio teria a mesma opinião se
tivesse assistido ao que se passou depois, com a guerra dos seis dias,
do Yom Kippur, e por aí adiante?
Talvez
não; talvez renunciasse, de novo, aos seus princípios pacifistas. Mas, depois
de presenciar os horrores do conflito, talvez mandasse uma quarta missiva, esta
endereçada ao governo de Israel para congeminar uma solução em que a paz fosse
o principal protagonista. E uma quinta ao Povo palestiniano para se unir a esta
solução.
Armando
Palavras
[1]Interrogado numa entrevista sobre qual seria a arma da
Terceira Guerra Mundial, Einstein respondeu que não sabia. Contudo, não tinha
dúvidas que na Quarta as principais armas seriam pedras e paus, pois nada mais
restaria.
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