sábado, 5 de julho de 2014

A Obra Literária de António Passos Coelho

                      

                                escritor e médico vila-realense António Passos Coelho ...


Escritor/médico transmontano, António Passos Coelho
A obra literária do escritor (e médico) transmontano (Vila Real) António Passos Coelho, distribui-se por alguns volumes. Não tantos como se poderia pensar, dada a sua idade (86 anos). É que o Dr. António Passos Coelho dedicou a vida à medicina. Apenas nas horas vagas se dedicava à escrita. Mas são os suficientes para neles se vislumbrar o encanto da palavra escrita. Juan Rulfo apenas publicou 300 páginas e não deixou de ser o escritor que foi - divinizado por Gabriel Garcia Marquez e Jorge Luís Borges. E com Jean-Arthur Rimbaud (a quem brevemente dedicaremos escrito) sucedeu o mesmo; praticamente, apenas escreveu Iluminações e Uma Cerveja no Inferno.
O escritor António Passos Coelho tratou várias vertentes literárias: o conto, o romance e a poesia.
No conto, publicou quatro volumes: Histórias Selvagens, Gente da Minha Terra, Mais Gente da Minha Terra e Eu e a Minha Vila.
Nos três primeiros volumes condensou uma série de contos que retratam a realidade do quotidiano transmontano, e no quarto trás a lume uma síntese biográfica dedicada à cidade de Vila Real.
São histórias (algumas inventadas) da vida real transmontana, onde a descrição ímpar  apalpa os tipos humanos de outras épocas da ruralidade. Nelas desfilam personagens felizes (que nos transportam a Bertrand Russell), homens bons, sensíveis às questões ambientais, possuídos de  amor profundo para com os animais – mas também gente tocada pela tragédia humana (como Falk, o herói de Conrad), com a qual o autor, na defesa dos direitos humanos, zurze nos poderes públicos que desprezam o indivíduo, o homem simples, atencioso e generoso a quem a vida maltratou.
Alguns destes personagens bem poderiam ter surgido em narrativas de Vergilio Ferreira, Miguel Torga ou de  Ivan Turguénev.
Os contos de António Passos Coelho são de uma simplicidade desconcertante; cobertos de tristezas e amarguras, mas também de ternura; de Amor. De amor para com a pessoa humana; um Amor Universal.
A sua obra poética está condensada num pequeno volume – Material Humano.
Os romances são quatro: Angola Amor Impossível, Zélia, Memórias de Céu e Inferno e Caramulo.
O primeiro trata da sua experiência como médico, colocado em Angola para dirigir a luta contra a Tuberculose no distrito do Bié, sendo ainda nomeado director do Sanatório de Luanda. Uma narrativa onde descreve a terra, as gentes, os conflitos políticos que levaram ao período trágico da descolonização.
O segundo desenvolve um tema que, durante muitos anos, foi um flagelo (que ainda se mantém) no país – o aborto. Celeste, uma das personagens centrais, pratica o aborto numa cidade nortenha – Viseu. No desenrolar da narrativa surge Zélia, o ponto nevrálgico do romance. Sob o ponto de vista cientifico, o autor é rigoroso, metódico, esclarecendo com simplicidade o leitor. Um livro que devia ser obrigatório no Ensino Secundário. E lido pelas raparigas (e rapazes) universitárias.
O terceiro desenvolve-se em torno do destino do seu protagonista. Entregue ainda de peito, por sua mãe que definhava da doença a uma sua tia, Silvestre passa na pequena aldeia da Peneda, localizada  entre o Marão e o Alvão, uma infância de brutal pobreza. É entregue a um casal de Lamego e, mais tarde, ruma para Chaves onde toda a narrativa se desenvolve.
Caramulo, o quarto romance, desenvolve um tema similar ao tratado por duas lendas da Literatura: Thomas Mann ( um dos últimos discípulos de Goethe) que  alerta, pela primeira vez, para esse flagelo europeu que era a tuberculose (tal como o faz o autor de Caramulo em Portugal, embora muitos anos mais tarde), e Hermann Hesse em Aquista, para o tratamento de doentes  com águas medicinais (as denominadas termas). Ambos situam a acção na Suíça. Aquele no sanatório Berghof, em Davos, no remoto mundo dos Alpes suíços e este nas termas de Baden, região designada pelo vulgo por terra dos nabos.
Este belo romance (Caramulo) foi agora reeditado pela editora Fronteira do Caos em parceria com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), numa homenagem prestada ao médico/ escritor (transmontano), no passado dia 24 de Junho, no auditório Geociências da UTAD.

Armando Palavras



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