quarta-feira, 11 de junho de 2014

Jorge Lage - FALSOS MENDIGOS



Jorge Lage
Há tempos Jorge Golias descreveu-me uma cena de falso mendigo no Largo de S. Domingos, em Lisboa. Parecia que o pedinte não tinha as pernas. A meio da manhã levantou-se para um intervalo, fumou um cigarrito e passados alguns minutos voltou à posição de pedinte.
Também, o meu irmão mais velho me tinha contado uma cena em que um seu conhecido dos tempos de magala, lhe contara como pediu numa romaria, ocultando um braço por baixo da camisa, a quem o braço visível ia entregando as moedas, rematando com um palavrão.
Em Braga, com a enxurrada de nómadas das terras do Drácula, é vulgar ver estrangeiros de tez morena, novos e corpulentos e novas a pedir disputando o território a um ou outro indigente local. Chegam em carrinhas e são largados em locais estratégicos da cidade.
Como, habitualmente, vou à missa das nove horas, em S. Victor, lá está o mesmo à porta, penso que amputado de um pé. Bem ataviado e escanhoado, só que por cima mete um kispo velho e sujo. Faz as duas primeiras missas e depois é recolhido e desaparece durante a semana. Quando as pessoas saem, estende a mão, dão-lhe a esmola e nem lhe olham para a cara.
Um dia adverti o meu amigo Zé Costa, de Alfândega da Fé, que devia ter na família quem precisasse mais da esmola do que o «mendigo». Ele anuiu, mas, de quando em vez, lá vai dando a esmola.
Houve um fim-de-semana ou outro em que o «mendigo» deve ter metido férias e lá veio outro de tez morena, muito bem vestido (era domingo), só o kispo a cobrir estava sujo e desleixado. Era vinte a trinta anos mais novo que o «profissional» efectivo. Safou-se às mil maravilhas porque as pessoas davam mas nem lhe reparavam na cara.
Pelo que me tem sido dado observar, a maioria dos que dão devem precisar mais do que quem pede e recebe.
Muitos preferem dar ao mendigo e esquecem-se da contribuição na missa. Ignoram os peditórios para as causas sociais, entregando a quem desconhecem.
O «mercado» está bem estudado pela «empresa» que os movimenta e nós temos tanta causa a apoiar, mesmo no nosso bairro a sempre a quem ajudar. Mas parece que dar esmola em público promove quem dá.
Pessoalmente, faço as entregas na minha paróquia e dou para as causas públicas bem identificadas. Nunca abram a porta a pedintes desconhecidos que lhes batam à porta, porque podem ser assaltados, como tantos incautos e ingénuos.

 – 03MAI2014

Provérbios ou ditos:
          A quem em Maio come sardinha, em Agosto lhe pica a espinha...
          Até aos quarenta de Maio, não tires o saio e se voltar a chover, volta-o a por.

          Em Maio de mim me caio, seja com a amaiola, seja com o trabalho.



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