sexta-feira, 13 de junho de 2014

COSTA PEREIRA - Um pedaço de Portugal suspenso no alto-mar – XIII



COSTA PEREIRA
Como já referimos, não foi esta a paisagem que certamente os primeiros povoadores do arquipélago açoriano encontraram ao aportarem nesta ilha, que de forma elíptica se distende por 396km2 e as suas maiores dimensões são de 30 km no sentido E-W e de 19km no sentido N-S, mas pelo contrário em vez de um terreno limpo e disposto em "cerrados" e "curraletas", antes deparam com um solo pedregoso e revestido de densa vegetação e grandes árvores que foi necessário desbravar para tornar o espaço arável. Desse primitivo cenário, ainda hoje nos dá imagem aproximada uma visita feita a quaisquer das diversas reservas florestais da Terceira, onde a par do cedro do mato e do vinhático, se vêem muitas outras espécies da flora endémica, como: as "criptomérias", que ali substituem o pinheiro, as conteiras, os zimbros, as faias, as urzes, as camarinhas, os fetos, os juncos, as azáleas, as hortênsias etc. Também quanto à avifauna, senão o açor, por menos visto, o milhafre, o pombo torcaz e da rochas, o priolo e o canário, continuam a sobrevoar, como dantes, todo um espaço que desde há séculos é partilhado com uma diversidade de aves marinhas, entres quais o garajau, o cagarro e uma grande variedade de gaivotas. Os coelhos que, como as codornizes, os patos e as galinholas, supomos só mais tarde foram, com as ovelhas e carneiros, cabras, gado bovino e equídeo, introduzidos na ilha pelos primeiros povoadores, ao abundarem por todo o espaço, podem ser abatidos mediante licença de caçador.
E feita esta abordagem que faltava, vamos deixar a urbana freguesia de Santa Cruz que, segundo os Census/2001, alberga 6.171 habitantes e como sabemos envolve em si toda a cidade da Praia da Vitória, para das restantes oito freguesias rurais do concelho fazermos uma resumida apresentação monográfica. Comecemos então pela parte sul do concelho, do lado de quem vem de São Sebastião ou do Porto Novo, para darmos destaque à mais nova freguesia da ilha - Porto Martins ou "Porto Martim", na sua antiga designação. Recentemente desanexada da freguesia do Cabo da Praia, mesmo enquanto curato, o Porto Martins teve sempre uma vida própria, dada a distância a que se encontrava da matriz. Tinha e tem uma linda igreja, agora paroquial, que consagrada a Santa Margarida festeja, desde finais do séc. XV, no quarto Domingo de Setembro. Mas esta benjamim freguesia emancipou-se sobretudo " pelo facto de ser uma das mais importantes zonas de veraneio, uma localidade de interesse turístico afirmado, com diversos restaurantes e uma piscina natural muito apreciada. O Porto Martins é também uma zona que foi sempre muito procurada para a construção, um interesse que tem vindo a crescer ao ponto de se tornar quase proibitivo a aquisição de terreno ali ". Se afamada por zona de cultura da vinha e árvores de fruta, também o é como único lugar da Terceira onde se cultiva a oliveira. E não menos é conhecida como local piscatório com tradição.
 Sobranceira a Porto Martins, mais para o interior da ilha, fica a Fonte do Bastardo, cujo topónimo se deve a uma fonte desse nome, que se tornou mais notável devido à escassez de água na localidade. Com uma igreja de grandes proporções, consagrada a Santa Bárbara, a maioria da população desta freguesia, pelos Census/2001, com 1.156 habitantes, dedica-se à agricultura, já que é " um dos melhores lugares da ilha para a pastagem e a cultura da vinha e da fruta. Existem várias pequenas industrias ligadas à construção civil e diversas actividades ligadas ao comércio. Nesta freguesia criou-se, em 1976, a primeira cooperativa de consumo na ilha, onde muita gente de outras localidades se desloca a abastecer-se".
 Para levar a eito a descrição prometida, vamos descer da encosta Este da Serra do Cume, pela Canada do Lajedo, até ao Cabo da Praia, hoje mais conhecida por nela se situar o porto da Praia e o forte de Santa Catarina (?). Este lugar tornou-se paróquia em 1470, logo nos inícios do povoamento. A sua igreja, consagrada a Santa Catarina, mártir de Alexandria, é um templo de três naves, do séc. XVIII, que "para além da talha dos altares têm interesse várias imagens dos séculos XVII e XVIII e as quatro pias de água benta do século XVII".  A propósito do terreno agrícola desta freguesia rezam os antigos anais ser "O lugar do Cabo da Praia, assaz aprazível da ilha, em tanto que a vegetação dos cereais e plantas nela se ostenta mais vigorosa e rápida, de forma que os frutos amadurecem antes que nas outras partes"
Seguindo daqui, pela cidade da Praia da Vitória, no sentido de Sul para Norte da ilha, encontramos mais adiante uma outra próspera freguesia rural do interior, as Fontinhas, nome que teve origem na existência de muitas fontes de pouca água. Tem como padroeira Nossa Senhora da Pena, cujas festas ocorrem no segundo Domingo de Agosto. A sua primitiva igreja que remontava ao séc. XV, foi derrubada por um ciclone em 1925. Reedificada a seguir, em dimensões mais amplas, é o orgulho de uma freguesia criada ainda no séc. XV, mas que "foi destruída por dois sismos de grande intensidade, um em 1614 e outro em 1841". Talvez por isso, uma população de 1541 habitantes ainda hoje seja das mais religiosas da Terceira. Lugar fresco e fértil da encosta da serra, os seus terrenos e construções antigas denunciam um bom exemplo da prosperidade do Ramo Grande, com óptimos terrenos de pastagens e pomares. A seguir há mais.
                                                                                              Costa Pereira   






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