COSTA PEREIRA Portugal, minha terra. |
No ano seguinte, chegada a Páscoa, com o mesmo ritual de sempre começam as "alumiações", um misto de veneração das insígnias do Divino e de convívio alegre na casa do imperador ou rezando o terço no império, e cantasse o pezinho ao imperador e às pessoas que deram ofertas generosas ao Espírito Santo, uma tradição que lembra os "reis" ou janeiras do continente, pois um grupo vai de casa em casa cantar o pezinho aos benfeitores do império. O Culto do Espírito Santo, vivido deste modo, crê-se remontar a tempos imemoráveis, mesmo anteriores ao do seu registo histórico. Em Portugal a sua revitalização é atribuída a um projecto concebido por uma elite no final do reinado de D. Dinis. Santa Isabel e a benjamim Ordem de Cristo, onde foram integrados todos os cavaleiros Templários, e não só, devem ter tido uma relação directa com esse circulo interno que difundiu o culto. Recorde-se que, em território continental, este culto foi muito intenso e persistente em locais de implantação templária, como Tomar, Beira Baixa e Sintra. Por tal motivo é de supor que, para além dos Franciscanos, a Ordem de Cristo tenha tido um papel importantíssimo na sua expansão, tanto no continente como, depois, nos Açores. O "bodo", também com o mesmo significado usado nas áreas de Leiria e Pombal é termo bem conhecido no continente. Na Terceira não tivemos oportunidade de participar em nenhum, mas fazendo parte da gastronomia local, podemos saboreá-lo na "Quinta do Martelo" - São Mateus, onde nos foram servidas com todos os requisitos e animação as "Sopas do Santo Espírito", e a alcatra, um cozido, de carne de vaca, em vinho de cheiro (americano) feita em alguidares de barro, temperada com especiarias e cozinhada em forno de lenha, precisamente como é servida pelos imperadores nos festejos do Espírito Santo. Outro elemento importante nestes festejos é o touro, pois não só fornece a carne (como a vaca, além da carne também o leite) para a função ou bodo, ainda empresta a sua força bruta para cabeça de cartaz, quer nas arenas, quer nas "esperas" de rua, onde as "marradas" são espectáculo. As "marradas" é um termo usado pelos terceirenses para distinguirem as "touradas à corda" que, plagiando José Vieira, são o mais popular dos folguedos da ilha e não há quem resista a esse espectáculo rico de emoção e colorido. Têm inicio em Maio, associadas aos festejos do Espírito Santo, e prolongam-se por toda a ilha até Outubro. Normalmente são corridos quatro touros numa tarde. Depois de estalar um foguete, o touro sai, da gaiola ou caixão, amarrado por uma corda de cem metros que é segurada a meio e no extremo por dois grupos de pastores, de camisa branca; e no caminho todos correm à sua frente, embora não faltem os corajosos que se atrevem a uns "passes" utilizando um guarda-chuva ou peças de roupa, a servirem de capa. No continente, a "Vacada das Cordas" ou "Vaca das Cordas" que, na véspera da Procissão do Corpo de Deus, se realiza em Ponte de Lima (Minho) é muito semelhante às "marradas".
E que mais adiantar, por hoje ? A promessa de na
próxima falar da Praia.
Costa Pereira
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