terça-feira, 20 de maio de 2014

Açores, Um Pedaço de Portugal suspenso no alto-mar-V



COSTA PEREIRA
Portugal, minha terra.
Pelo portão do lado da Rua Direita, saímos encantados do Jardim Publico ou Duque da Terceira, para sem demora entrarmos no templo que ali ao lado, desperta a curiosidade do viandante que passa pelo Largo do Prior do Crato. Anexo ao Palácio dos Capitães-Generais, dele e do edifício em que está integrado apraz-nos transcrever o seguinte: "No lugar onde antes existiam as casas da família Távora construíram os jesuítas, um colégio com Pátio de Estudo (onde é agora o parque de estacionamento) e igreja. Em 1776, o 1º Capitão General dos Açores, D. Antão de Almeida, propõe e começa a adaptar o edifício a palácio. Por duas vezes foi Paço Real (1832-D. Pedro IV, e 1901-D.Carlos I). O templo, rico em talha dourada, azulejaria e imagens é o reflexo da Igreja da reforma católica influenciado pelo gosto de decorativos das Índias".- Este palácio é hoje sede de um departamento ligado à Presidência do Governo Regional dos Açores (Secretaria da Administração Pública) e um espaço museológico digno de ser visitado.
Feita a visita vale a pena voltar pala Rua do Palácio e Rua da Sé, em busca da Rua Direita, para aqui, entre as portas 111 e 113, além da "Loja dos Linhos" apreciarmos a fachada da Casa do Conde de Vila Flor, neste caso daquele que foi: "António José de Sousa Manuel e Meneses Severim de Noronha,11º Capitão General dos Açores, 7º Conde de Vilaflor, depois Duque da Terceira. Foi Comandante dos exércitos liberais e membro da regência de D. Maria II. Chefiou o exército liberal na batalha de 11 de Agosto de 1829, na Praia, depois chamada "da Vitória". Depois de termo-nos aqui, com vagar e desejo de ver, a reparar na harmoniosa estrutura arquitectónica da malha urbana que caracteriza a cidade e que a antiga Rua Direita, com "uma largura de 10 metros (45 palmos), excepcional para a época", se presta a servir como modelo do que "ultrapassado o tempo da génese" deu origem a uma Angra moderna e nos alegra sobretudo por ser "com uma identidade formal e estrutural claramente portuguesa". Tirando partido desta ronda cultural, vamos agora repousar num destes 16 bancos da já conhecida Praça Velha e deixar que a nossa mente percorra a distância que vai daqui à Fortaleza de São Sebastião e nos recorde que foi "Por sugestão de Isidoro de Almeida, o arquitecto Tomaz Benedito de Pasaro quem desenhou, ao gosto italiano, esta fortaleza. Foi terminada no tempo de El-Rei D. Sebastião donde retira a invocação. Demonstra uma nova ideia de defesa costeira já sensível e consciente das novas funções de apoio portuários ao contrário do Castelo de São Luís, Memória - interior e desajustado à realidade das ilhas".
Aproveitando este ambiente típico de Angra e que se celebrizou na máxima "De vagar, de vagarinho ou parado" é altura de fazermos o ponto da situação e também calmamente nos concentrarmos no tempo e no espaço que deram acolhimento aos eventos que têm servido de assunto à nossa descrição, para assim, melhor se perceber toda a história desta porção de terra portuguesa que primeiro foi chamada "Ilha de Jesus Cristo". E para isso nada como ter presente o que muito bem documenta Artur Teodoro de Matos: "o infante D. Henrique recebe o senhorio das ilhas dos Açores em data muito próxima do seu povoamento e as condições dessa doação devem, naturalmente, inspira-se nas que lhe haviam sido dadas em 1433 para o arquipélago da Madeira. Assim, ao infante, como seu donatário vitalício, eram devidos todos os seus direitos e rendas delas, como lhe pertencia a jurisdição civil e crime, excepto casos de morte ou mutilação, que eram julgados na Casa do Civil de Lisboa. Poderia dar terras a quem entendesse, embora sem prejuízo do foro do rei. A cunhagem da moeda não era permitida na ilha. D. Henrique foi, assim, o primeiro donatário dos Açores até à sua morte, ocorrida em 1460. Todavia, em data que não podemos precisar, o infante fez doações das ilhas de Santa Maria e São Miguel à Ordem de Cristo, "com sua jurisdição civil e crime, mero misto império, e com toda a espiritualidade". A Ordem de Cristo, da qual o infante era administrador, ficaria apenas com a jurisdição espiritual, cedendo a temporal aos donatários. Depois da morte do infante D. Henrique, sucedeu-lhe D. Fernando (1460-1470) e, após este seus filhos, os duques de Viseu e Beja, tendo exercido o cargo, na sua menoridade, a mãe, Dona Beatriz (1470-1483), cuja acção na organização das capitanias açorianas foi relevante". 
A tarde já vai adiantada, e a hora do jantar aproxima-se. No Angra Hotel, aqui na Praça Velha, ao fundo da Ladeira de São Francisco, já nos espera, para bem nutrir, o chefe de cozinha, um minhoto de Vieira, que nos sabendo de Basto não se cansa de elogiar o Monte Farinha; enquanto nós, por deferência para com Angra, exaltemos o Monte Brasil.

Costa Pereira

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