quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Dois livros para a segunda quinzena de Agosto - Mircea Cãrtãrescu e António Passos Coelho


Dois livros leves e deliciosos para a segunda quinzena de Agosto. O primeiro é escrito para mulheres e sobre mulheres. O segundo para gente de Trás-os-Montes e sobre transmontanos. Mas se o primeiro é uma delícia para leitores masculinos, o segundo pode sê-lo para gentes de outras terras.

 

Porque gostamos das mulheres

Mircea Cãrtãrescu conta-nos neste livro 21 histórias sobre mulheres. Escritas em “prosa poética”, ora terna, ora alucinada. Nelas evoca mulheres reais e mulheres imaginárias.
A Negrinha foi a mulher mais bela que viu. Na viagem de metro que o levava sob o braço do oceano, de Berkeley ao coração de São Francisco.
Vinte anos passados, lembra-se de D. E dos brinquinhos (bombons vermelhos) que a mãe lhe comprara quando criança. Assim como do seu doce perfume.
À sua mulher, quere-a somente para ele, pois só ele a conhece. Olha-a entre as coxas “borboletas sonolentas com asas coladas”.
Conta-nos o encontro com Adriana, irmã se Irina. Dos anos de “frio e miséria”, da policia secreta romena, do medo.
No final do livro interroga-se “porque amamos as mulheres”. A conclusão a que chega é a seguinte: “ Porque têm peitos grandes, com bicos que sobressaem das blusas quando têm frio, porque têm um traseiro grande e roliço, porque têm rostos de traços doces como os das crianças, porque têm lábios grandes, dentes bonitos e línguas que não te repugnam. Porque não cheiram a transpiração nem a tabaco barato e nem suam no lábio superior. Porque sorriem a todas as crianças que estão à sua volta”. E vai por aí fora.
É um livro delicioso, com uma escrita leve.

 


Mais Gente da Minha Terra

“Mais gente da Minha Terra” é o novo livro de António Passos Coelho. Uma colectânea de 14 contos. A narrativa curta está-lhe no sangue, como estava em Borges, o mestre argentino. Mas enquanto Jorge luís Borges vai além do real, num percurso imaginativo profícuo, A. Passos Coelho, conta-nos histórias (embora inventadas) da vida real, transmontana, onde a descrição, ímpar e milimétrica, apalpa os tipos humanos de outras épocas da ruralidade.
Esta pequena colectânea inicia com dois contos portentosos: “O Casca Grossa” e “O Compõe”.
O primeiro trata de um homem bom que, chegando à sua aldeia natal vindo do Brasil, financiou uma festa de arromba à sua madrinha, a santa padroeira, a Senhora do Rosário. Dela se despediu depois com os bolsos vazios, rumando, de novo, para as terras de Vera Cruz com dinheiro emprestado. Anos mais tarde retorna com nova fortuna apreciável, com a qual ajuda tudo e todos, acabando por morrer em miséria, numa madrugada.
O segundo conta-nos a história do “compõe”, para o vulgo, o “endireita”.
Armando Palavras
 

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