Dois
livros leves e deliciosos para a segunda quinzena de Agosto. O primeiro é
escrito para mulheres e sobre mulheres. O segundo para gente de Trás-os-Montes
e sobre transmontanos. Mas se o primeiro é uma delícia para leitores
masculinos, o segundo pode sê-lo para gentes de outras terras.
Mircea
Cãrtãrescu conta-nos neste livro 21 histórias sobre mulheres. Escritas em
“prosa poética”, ora terna, ora alucinada. Nelas evoca mulheres reais e
mulheres imaginárias.
A
Negrinha foi a mulher mais bela que viu. Na viagem de metro que o levava sob o
braço do oceano, de Berkeley ao coração de São Francisco.
Vinte
anos passados, lembra-se de D. E dos
brinquinhos (bombons vermelhos) que a mãe lhe comprara quando criança. Assim
como do seu doce perfume.
À
sua mulher, quere-a somente para ele, pois só ele a conhece. Olha-a entre as
coxas “borboletas sonolentas com asas coladas”.
Conta-nos
o encontro com Adriana, irmã se Irina. Dos anos de “frio e miséria”, da policia
secreta romena, do medo.
No
final do livro interroga-se “porque amamos as mulheres”. A conclusão a que
chega é a seguinte: “ Porque têm peitos grandes, com bicos que sobressaem das
blusas quando têm frio, porque têm um traseiro grande e roliço, porque têm
rostos de traços doces como os das crianças, porque têm lábios grandes, dentes
bonitos e línguas que não te repugnam. Porque não cheiram a transpiração nem a
tabaco barato e nem suam no lábio superior. Porque sorriem a todas as crianças
que estão à sua volta”. E vai por aí fora.
É um
livro delicioso, com uma escrita leve.
Mais Gente da Minha Terra
“Mais
gente da Minha Terra” é o novo livro de António Passos Coelho. Uma colectânea
de 14 contos. A narrativa curta está-lhe no sangue, como estava em Borges, o
mestre argentino. Mas enquanto Jorge luís Borges vai além do real, num percurso
imaginativo profícuo, A. Passos Coelho, conta-nos histórias (embora inventadas)
da vida real, transmontana, onde a descrição, ímpar e milimétrica, apalpa os
tipos humanos de outras épocas da ruralidade.
Esta
pequena colectânea inicia com dois contos portentosos: “O Casca Grossa” e “O
Compõe”.
O
primeiro trata de um homem bom que, chegando à sua aldeia natal vindo do
Brasil, financiou uma festa de arromba à sua madrinha, a santa padroeira, a
Senhora do Rosário. Dela se despediu depois com os bolsos vazios, rumando, de
novo, para as terras de Vera Cruz com dinheiro emprestado. Anos mais tarde
retorna com nova fortuna apreciável, com a qual ajuda tudo e todos, acabando
por morrer em miséria, numa madrugada.
O
segundo conta-nos a história do “compõe”, para o vulgo, o “endireita”.
Armando Palavras
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