PARÂMIO - Bragança |
Não é a recensão que pretendíamos
e que o autor merece, mas é a possível, por enquanto. Contamos mais tarde
actualizá-la.
Dr. Hirondino Fernandes |
Hirondino da Paixão Fernandes
nasceu no ano de 1931, na aldeia transmontana de Parâmio, pertença do concelho
de Bragança. Situada na orla fronteiriça, entre vales e montanhas, pouco
propicia, à época, para contactos sociais e económicos, a quem o autor nos anos
sessenta do século passado dedicou dissertação de Licenciatura – “Contributo
para o estudo da linguagem e etnografia da região bragançana”. Trabalho com o
qual iniciou a obra que se analisa: “Bibliografia do Distrito de Bragança”.
Descrição
Composta por dez volumes com capa
azul, debruada a prateado, esta obra gigantesca, trabalhada e apurada ao longo
de décadas (cerca de quatro), conta com cerca de 8.000 páginas, ultrapassa os
5.000 autores aí incluídos e trata de um acervo bibliográfico de quase 100.000
títulos!
Dela constam, como diz o próprio
autor na introdução, trabalhos que
são “inteiramente consagrados ao distrito”, mas ainda aqueles que contêm
“apenas capítulos”, ou “simples referências de carácter histórico, cientifico,
artístico, etc.”.
Da mesma forma, foram ainda
incrustados, trabalhos dactilografados ou mimeografados, como sejam teses,
relatórios, reportórios bibliográficos (arquivos, boletins, catálogos, etc.),
revistas e jornais.
Com rigor e competência seguiu um
método complexo, mas de grande perfeição académica, como está descrito na Introdução.
A entrada dos autores faz-se por
ordem alfabética do nome literário, fornecendo-se para cada um os seguintes
dados:
1 – Local e data de nascimento;
2 – Nota
bibliográfico-curricular;
3 – Bibliografia activa, onde se
distinguem os autores naturais do distrito daqueles que o não são. Dos
primeiros é referida toda a sua produção e dos segundos, apenas a que se refere
à região abordada;
4 – Bibliografia passiva – segue
as directivas do ponto anterior;
5 – Ecos da Imprensa que trata de
“referências breves”.
Comentário
Olhando a obra de relance, ela
impressiona: é uma obra de peso!
Uma obra desta natureza só pode
ser realizada com grande paixão, através de um trabalho meticuloso; de
arqueólogo. Na esteira do abade de Baçal,
António Mourinho, Eduardo Carvalho, Belarmino Afonso, entre outros, que
dedicaram à região tempo, esforço e inteligência, podemos
dizer que Hirondino Fernandes é um dos últimos “enciclopedistas”.
O caminho para a terminar foi
longo, quase quatro décadas. E as dificuldades a transpor foram muitas, assim
como os “prejuízos”. Um trabalho épico. Contudo, e apesar de tudo, têm agora os
bragançanos e todos aqueles que se dedicam ao estudo, a possibilidade de
consulta de uma obra extraordinária, seja pela informação acumulada, seja pelo
rigor documental.
É um trabalho solitário, sofrido,
e por vezes ignorado do grande público. Até pelas próprias instituições que
deviam estar na primeira linha dos apoios.
A dimensão deste trabalho é uma
realidade que se não pode escamotear. Os números avançados na descrição servem para o confirmar.
As fontes diversificadas, muitas
delas recônditas e difíceis de localizar, são incontáveis. Fazem parte de
colecções de jornais, revistas, consultadas com saber critico nos diversos
arquivos nacionais. Recorreu ainda ao contacto directo dos autores vivos.
Esta obra, levada à exaustão de
um rigor académico notado, vai muito além de outras obras de género. E o seu
conteúdo não se limita ao bibliográfico. Fornece elementos que auxiliam a
consulta das fontes, dá orientações com dados complementares, estimula a
consulta com transcrições seleccionadas e oportunas de determinada obra de
determinado autor.
Como nos diz Telmo Verdelho no prefácio, Hirondino Fernandes, “ foi
biógrafo, documentalista e historiador; e tudo isto com uma ascese de
perfeição, e com o desígnio benemerente de salvar e enriquecer a memória dos
seus conterrâneos” (p. 11). É, sobretudo, um investigador genuíno.
Todos os dados pertinentes são
seleccionados com sabedoria e rigor. Como a Recherche
de Proust, esta obra é um acto de rememoração; ressuscita um passado povoado
por elementos esquecidos. Resgata-os de forma genial com um rigor confuciano. A
título de exemplo cite-se o relevo que Hirondino dá a autores consagrados. A
alguns, como Trindade Coelho, dedica uma ficha mais completa que alguns estudos
que lhe foram dedicados no âmbito da história e da literatura. O mesmo sucede
com a ficha do poeta de Freixo – Guerra Junqueiro.
É costume dizer-se, afirma Geroge
Steiner, “que quem tenha um ouvido preparado é capaz de detectar a mais pequena
falha num copo de cristal passando o dedo sobre o seu rebordo”. Foi essa falha,
inconfundível, que nesta obra não detectamos. Nem uma gralha tipográfica se
pode apontar. Hirondino é um virtuoso, tanto na escrita, como no método; foi
objectivo, analítico e lógico. E a obra é tão harmoniosa como a simetria
hexagonal dos flocos de neve.
Gostaríamos de, se é que temos
competência para o fazer, deixar aqui expressa, a nossa homenagem a quem editou
a obra – Câmara Municipal de Bragança, com o entusiasmo do seu presidente Engº
Jorge Nunes – e a quem a imprimiu e acabou – Rainho Neves Lda / Santa Maria da
Feira. É que não seria fácil encontrar quem fosse capaz de satisfazer as
exigências do autor, e estamos certos que a BdB
representa um ponto elevado na história da tipografia, sobretudo da edição
(nordestina).
Armando Palavras
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