terça-feira, 6 de agosto de 2013

Comentário à " Bibliografia do Distrito de Bragança" de autoria de Hirondino fernandes

PARÂMIO - Bragança


Não é a recensão que pretendíamos e que o autor merece, mas é a possível, por enquanto. Contamos mais tarde actualizá-la.


Dr. Hirondino Fernandes
 


Hirondino da Paixão Fernandes nasceu no ano de 1931, na aldeia transmontana de Parâmio, pertença do concelho de Bragança. Situada na orla fronteiriça, entre vales e montanhas, pouco propicia, à época, para contactos sociais e económicos, a quem o autor nos anos sessenta do século passado dedicou dissertação de Licenciatura – “Contributo para o estudo da linguagem e etnografia da região bragançana”. Trabalho com o qual iniciou a obra que se analisa: “Bibliografia do Distrito de Bragança”.


Descrição



Composta por dez volumes com capa azul, debruada a prateado, esta obra gigantesca, trabalhada e apurada ao longo de décadas (cerca de quatro), conta com cerca de 8.000 páginas, ultrapassa os 5.000 autores aí incluídos e trata de um acervo bibliográfico de quase 100.000 títulos!

Dela constam, como diz o próprio autor na introdução, trabalhos que são “inteiramente consagrados ao distrito”, mas ainda aqueles que contêm “apenas capítulos”, ou “simples referências de carácter histórico, cientifico, artístico, etc.”.

Da mesma forma, foram ainda incrustados, trabalhos dactilografados ou mimeografados, como sejam teses, relatórios, reportórios bibliográficos (arquivos, boletins, catálogos, etc.), revistas e jornais.

Com rigor e competência seguiu um método complexo, mas de grande perfeição académica, como está descrito na Introdução.

A entrada dos autores faz-se por ordem alfabética do nome literário, fornecendo-se para cada um os seguintes dados:

1 – Local e data de nascimento;

2 – Nota bibliográfico-curricular;

3 – Bibliografia activa, onde se distinguem os autores naturais do distrito daqueles que o não são. Dos primeiros é referida toda a sua produção e dos segundos, apenas a que se refere à região abordada;

4 – Bibliografia passiva – segue as directivas do ponto anterior;

5 – Ecos da Imprensa que trata de “referências breves”.



Comentário



Olhando a obra de relance, ela impressiona: é uma obra de peso!

Uma obra desta natureza só pode ser realizada com grande paixão, através de um trabalho meticuloso; de arqueólogo. Na esteira do abade de Baçal, António Mourinho, Eduardo Carvalho, Belarmino Afonso, entre outros, que dedicaram à região tempo, esforço e inteligência, podemos dizer que Hirondino Fernandes é um dos últimos “enciclopedistas”.

O caminho para a terminar foi longo, quase quatro décadas. E as dificuldades a transpor foram muitas, assim como os “prejuízos”. Um trabalho épico. Contudo, e apesar de tudo, têm agora os bragançanos e todos aqueles que se dedicam ao estudo, a possibilidade de consulta de uma obra extraordinária, seja pela informação acumulada, seja pelo rigor documental.

É um trabalho solitário, sofrido, e por vezes ignorado do grande público. Até pelas próprias instituições que deviam estar na primeira linha dos apoios.

A dimensão deste trabalho é uma realidade que se não pode escamotear. Os números avançados na descrição servem para o confirmar.

As fontes diversificadas, muitas delas recônditas e difíceis de localizar, são incontáveis. Fazem parte de colecções de jornais, revistas, consultadas com saber critico nos diversos arquivos nacionais. Recorreu ainda ao contacto directo dos autores vivos.

Esta obra, levada à exaustão de um rigor académico notado, vai muito além de outras obras de género. E o seu conteúdo não se limita ao bibliográfico. Fornece elementos que auxiliam a consulta das fontes, dá orientações com dados complementares, estimula a consulta com transcrições seleccionadas e oportunas de determinada obra de determinado autor.

Como nos diz Telmo Verdelho no prefácio, Hirondino Fernandes, “ foi biógrafo, documentalista e historiador; e tudo isto com uma ascese de perfeição, e com o desígnio benemerente de salvar e enriquecer a memória dos seus conterrâneos” (p. 11). É, sobretudo, um investigador genuíno.

Todos os dados pertinentes são seleccionados com sabedoria e rigor. Como a Recherche de Proust, esta obra é um acto de rememoração; ressuscita um passado povoado por elementos esquecidos. Resgata-os de forma genial com um rigor confuciano. A título de exemplo cite-se o relevo que Hirondino dá a autores consagrados. A alguns, como Trindade Coelho, dedica uma ficha mais completa que alguns estudos que lhe foram dedicados no âmbito da história e da literatura. O mesmo sucede com a ficha do poeta de Freixo – Guerra Junqueiro.

É costume dizer-se, afirma Geroge Steiner, “que quem tenha um ouvido preparado é capaz de detectar a mais pequena falha num copo de cristal passando o dedo sobre o seu rebordo”. Foi essa falha, inconfundível, que nesta obra não detectamos. Nem uma gralha tipográfica se pode apontar. Hirondino é um virtuoso, tanto na escrita, como no método; foi objectivo, analítico e lógico. E a obra é tão harmoniosa como a simetria hexagonal dos flocos de neve.

Gostaríamos de, se é que temos competência para o fazer, deixar aqui expressa, a nossa homenagem a quem editou a obra – Câmara Municipal de Bragança, com o entusiasmo do seu presidente Engº Jorge Nunes – e a quem a imprimiu e acabou – Rainho Neves Lda / Santa Maria da Feira. É que não seria fácil encontrar quem fosse capaz de satisfazer as exigências do autor, e estamos certos que a BdB representa um ponto elevado na história da tipografia, sobretudo da edição (nordestina).
Armando Palavras


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