Ressalvando
alguns (poucos) momentos de qualidade, o debate de ideias em Portugal, no
período democrático, teve sempre por base a estupidez e a ignorância.
Ignorou-se o processo histórico; ignorou-se a ciência politica. Um certo tipo
de gente tem-se julgado o detentor moral da verdade, mentindo descaradamente e
manipulando a opinião. São seguidores do velho Marx que nos primeiros escritos
(1844), constrói um processo do ser e
da história prepotente, tornando-se
naquilo que é para muitos (como Eric Voeglin), um impostor intelectual.
Haverá em
Portugal, no presente, algum partido político representativo da denominada
direita? Não, não há. Só o Partido Democrata Cristão (vulgo CDS) é um partido
ideologicamente de centro-direita.
Esse tipo de
gente insiste que as políticas de austeridade são medidas de direita!
As políticas de
austeridade não têm que ver com o binómio esquerda/direita. Tem a ver com a
necessidade do país. Mais austeridade que esta foi praticada em 1983. Ou seja,
na bancarrota anterior a esta. E nessa altura era Primeiro-ministro um
socialista! E mais austeridade para o cidadão comum foi praticada pelos antigos
regimes socialistas e comunistas. Assim o diz Norman Manea, por exemplo, sobre
a antiga Roménia.
Este debate é
que tem faltado no país. E tem faltado porque a esse tipo de gente interessa
omitir o processo histórico. Mais do que a Ciência Politica.
O SPD, partido
social-democrata alemão foi fundado em 1863. E é aqui que tudo começa,
praticamente para todas as estruturas partidárias da modernidade[1]. É
com o SPD que surge a social-democracia. Ressalvando os partidos conservadores,
todos os outros (incluindo o SPD) tinham subscrito as teses de Marx. É destes
primórdios a referência de Gorki na Mãe,
aos sociais-democratas e à sua bandeira vermelha. Também Lenine foi, no início,
um social-democrata. Só mais tarde lhe deu aquela maluqueira que, arrastada por
Estaline, deu no que deu; no descrito por Vassili Grossman e Alexandre
Soljenitsyne.
Contudo, e
apesar de tudo, o SPD, mesmo com Liebknecht e Bebel, começa a distanciar – se
do marxismo (ao privilegiarem a questão alemã, em vez da revolução mundial) e
dos socialistas revolucionários, fazendo alianças com os liberais. Aliás, a
permanente obra de revisão ideológica está, desde o início, no sangue dos seus
teóricos. É notória com Eduard Bernstein (1891). O Partido Social-democrata
alemão nunca quis a “revolta das massas”, para o SPD o caminho era mais
importante que o objectivo final e procurou sempre o diálogo do Estado com o
patronato. Foi sempre um partido reformador, nunca revolucionário. Por essas
razões (e outras ainda mais importantes) em 1912 era idolatrado em todo o
Mundo.
Com a primeira
guerra mundial surge uma cisão, a de Rosa Luxemburgo[2] (Liga
Espártaco), que dá origem ao Partido Comunista alemão.
Willy Brandt |
Olof Palme |
Bruno Kreisky |
Quando em 1933
os nazis (nacional-socialismo) ganham as eleições, exigem plenos poderes ao
Parlamento. Enquanto que todos os outros partidos aceitam as condições de
Hitler, o SPD recusa-as e, num gesto de coragem (sempre demonstrado pelos sociais
democratas), Otto Wels que liderava o partido, insurge-se contra a ditadura
nazi. Foi um passo para a perseguição e para que o partido fosse ilegalizado.
Foi por essa razão que durante os 30 anos seguintes os Democratas Cristãos
dominaram o poder na Alemanha e tiveram a influência que tiveram na construção
europeia.
Surge então a
geração de Olof Palme (Suécia), Bruno Kreisky (Áustria) e Willy Brandt
(Alemanha). E é nesta geração que se fundamenta o Partido Social-democrata
português. Primeiro como PPD, sigla a que acrescentaria mais tarde a de PSD. É
certo que não pertence à Internacional Socialista, porque Sá Carneiro o
“construiu” (e bem) à imagem do país.
Já o Partido
Socialista português (criado em 1973 num centro de formação da Fundação
Friederich Ebert, na Alemanha), embora financiado pelos suecos e alemães, na
sua matriz ideológica está mais próximo do socialismo francês (revolucionário)
do que do SPD (liberal).
Por estas
razões, quando ouvimos (ou lemos) de alguém responsável da área socialista (portuguesa)
que “A direita odeia a ascensão social dos mais pobres através da escola”,
ocorre-nos uma pergunta: a que direita se referem?
1 - Não existe
nenhuma “direita social-democrata”;
2 – Ao dizerem
isso, se se referem ao PSD, não sabem do que falam, porque ignoram o processo
histórico e os postulados de Ciência Politica;
3 – Se houve
governos que deram a primazia aos pobres através da escola, foram os governos
sociais-democratas de Aníbal Cavaco Silva[3];
4 – Se houve
governos que odiaram “a ascensão social dos mais pobres através da escola”,
foram os de José Sócrates (socialista), que, além do mais, conduziram o país à
bancarrota.
5 – Esta escola
pública é um sorvedouro (e “covil”) de muito canalha.
Armando Palavras
[1] São
de grande importância na construção da política moderna, a Primavera dos Povos (1848) e a Comuna
de Paris (1871). Neste escrito, sobre estas importantes datas nada mais
acrescentaremos a esta nota de rodapé.
[2] Os Sociais-democratas no poder quando do assassinato
de Rosa, pagarão caro, porque são acusados, no mínimo, de cumplicidade.
[3] E de António Guterres, diga-se.
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