sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A direita e a social-democracia




Ressalvando alguns (poucos) momentos de qualidade, o debate de ideias em Portugal, no período democrático, teve sempre por base a estupidez e a ignorância. Ignorou-se o processo histórico; ignorou-se a ciência politica. Um certo tipo de gente tem-se julgado o detentor moral da verdade, mentindo descaradamente e manipulando a opinião. São seguidores do velho Marx que nos primeiros escritos (1844), constrói um processo do ser e da história prepotente, tornando-se naquilo que é para muitos (como Eric Voeglin), um impostor intelectual.
Haverá em Portugal, no presente, algum partido político representativo da denominada direita? Não, não há. Só o Partido Democrata Cristão (vulgo CDS) é um partido ideologicamente de centro-direita.
Esse tipo de gente insiste que as políticas de austeridade são medidas de direita!
As políticas de austeridade não têm que ver com o binómio esquerda/direita. Tem a ver com a necessidade do país. Mais austeridade que esta foi praticada em 1983. Ou seja, na bancarrota anterior a esta. E nessa altura era Primeiro-ministro um socialista! E mais austeridade para o cidadão comum foi praticada pelos antigos regimes socialistas e comunistas. Assim o diz Norman Manea, por exemplo, sobre a antiga Roménia.
Este debate é que tem faltado no país. E tem faltado porque a esse tipo de gente interessa omitir o processo histórico. Mais do que a Ciência Politica.



O SPD, partido social-democrata alemão foi fundado em 1863. E é aqui que tudo começa, praticamente para todas as estruturas partidárias da modernidade[1]. É com o SPD que surge a social-democracia. Ressalvando os partidos conservadores, todos os outros (incluindo o SPD) tinham subscrito as teses de Marx. É destes primórdios a referência de Gorki na Mãe, aos sociais-democratas e à sua bandeira vermelha. Também Lenine foi, no início, um social-democrata. Só mais tarde lhe deu aquela maluqueira que, arrastada por Estaline, deu no que deu; no descrito por Vassili Grossman e Alexandre Soljenitsyne.
Contudo, e apesar de tudo, o SPD, mesmo com Liebknecht e Bebel, começa a distanciar – se do marxismo (ao privilegiarem a questão alemã, em vez da revolução mundial) e dos socialistas revolucionários, fazendo alianças com os liberais. Aliás, a permanente obra de revisão ideológica está, desde o início, no sangue dos seus teóricos. É notória com Eduard Bernstein (1891). O Partido Social-democrata alemão nunca quis a “revolta das massas”, para o SPD o caminho era mais importante que o objectivo final e procurou sempre o diálogo do Estado com o patronato. Foi sempre um partido reformador, nunca revolucionário. Por essas razões (e outras ainda mais importantes) em 1912 era idolatrado em todo o Mundo.
Com a primeira guerra mundial surge uma cisão, a de Rosa Luxemburgo[2] (Liga Espártaco), que dá origem ao Partido Comunista alemão.

Willy Brandt
Olof Palme
Bruno Kreisky
Quando em 1933 os nazis (nacional-socialismo) ganham as eleições, exigem plenos poderes ao Parlamento. Enquanto que todos os outros partidos aceitam as condições de Hitler, o SPD recusa-as e, num gesto de coragem (sempre demonstrado pelos sociais democratas), Otto Wels que liderava o partido, insurge-se contra a ditadura nazi. Foi um passo para a perseguição e para que o partido fosse ilegalizado. Foi por essa razão que durante os 30 anos seguintes os Democratas Cristãos dominaram o poder na Alemanha e tiveram a influência que tiveram na construção europeia.
Surge então a geração de Olof Palme (Suécia), Bruno Kreisky (Áustria) e Willy Brandt (Alemanha). E é nesta geração que se fundamenta o Partido Social-democrata português. Primeiro como PPD, sigla a que acrescentaria mais tarde a de PSD. É certo que não pertence à Internacional Socialista, porque Sá Carneiro o “construiu” (e bem)  à imagem do país.
Já o Partido Socialista português (criado em 1973 num centro de formação da Fundação Friederich Ebert, na Alemanha), embora financiado pelos suecos e alemães, na sua matriz ideológica está mais próximo do socialismo francês (revolucionário) do que do SPD (liberal).


Por estas razões, quando ouvimos (ou lemos) de alguém responsável da área socialista (portuguesa) que “A direita odeia a ascensão social dos mais pobres através da escola”, ocorre-nos uma pergunta: a que direita se referem?
Se é à “direita social-democrata”, respondemos:
1 - Não existe nenhuma “direita social-democrata”;
2 – Ao dizerem isso, se se referem ao PSD, não sabem do que falam, porque ignoram o processo histórico e os postulados de Ciência Politica;
3 – Se houve governos que deram a primazia aos pobres através da escola, foram os governos sociais-democratas de Aníbal Cavaco Silva[3];
4 – Se houve governos que odiaram “a ascensão social dos mais pobres através da escola”, foram os de José Sócrates (socialista), que, além do mais, conduziram o país à bancarrota.
5 – Esta escola pública é um sorvedouro (e “covil”) de muito canalha.
                                                                                                           Armando Palavras



[1] São de grande importância na construção da política moderna, a Primavera dos Povos (1848) e a Comuna de Paris (1871). Neste escrito, sobre estas importantes datas nada mais acrescentaremos a esta nota de rodapé.
[2] Os Sociais-democratas no poder quando do assassinato de Rosa, pagarão caro, porque são acusados, no mínimo, de cumplicidade.
[3] E de António Guterres, diga-se.



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