O
dr. Pacheco Pereira é um caso à parte na crítica do seu próprio partido.
Ressabiado com qualquer coisa (que desconhecemos), nos seus escritos e
comentários, em vez de fazer análise politica, ridiculariza as acções e humilha
as pessoas. Principalmente o Presidente do Partido, Pedro Passos Coelho, ao
mesmo tempo Primeiro-ministro de Portugal.
No
último artigo que lhe conhecemos (Público, 13 de Julho) pega na metáfora do
“navio fantasma” (uma lenda comum em várias comunidades de marinheiros),
transposta para a ópera de Wagner, para comparação com o actual governo. Mas o
objectivo de Pacheco Pereira é, sub-repticiamente, humilhar o Primeiro –
ministro.
Começa
por dizer que há um ano havia prometido não subir impostos[1]. E a seguir
vem a bordoada (do costume): “O primeiro-ministro, que se tivesse um resto de hombridade já de há muito se teria
demitido, engole tudo para permanecer no poder”.
Olhe
que não, dr. Pacheco Pereira, olhe que não. Precisamente por ter nobreza de carácter é que o
Primeiro-ministro não se demitiu. Aliás, a quarta-feira negra deu-lhe razão, e
este impasse da Salvação Nacional também. Repare como estão a reagir os
mercados! E “engole tudo” porque é homem de compromissos e como está entre o
povo e a Troika (pior que “entre a espada e a parede”) só tem uma forma de
cumprir, levar o mandato até ao fim. É que para alguns portugueses Portugal
não é uma terra qualquer. Têm bem na mente, acerca de Casanare, as palavras de Dom Rafo, o
personagem daquele clássico de José Eustasio Rivera, A Voragem: “ … esta terra alenta-nos para a desfrutarmos e para a
sofrermos. Aqui, até um moribundo anseia beijar o chão onde vai apodrecer. É o
deserto, mas ninguém se sente só: o sol, o vento e a tempestade são nossos
irmãos. Nem os tememos nem os amaldiçoamos”.
E
já que Pacheco Pereira pegou na metáfora do “navio fantasma”, ocorre-nos um
episódio que talvez se tenha passado em 58 A .C.
Nunca
nos preocupamos em verificar se é verdadeiro ou se pertence ao domínio da
lenda. Mas pertença ao que pertencer, é didáctico, e como o lemos ainda
estudante de liceu, ao ano e ao local, perdemos-lhe o rasto, mas o conteúdo
ficou-nos para sempre na memória.
Conta-se
que Júlio César, numa das suas campanhas (talvez na Britânia), depois de
desembarcar, quando os seus homens já estavam a uma distância considerável das
embarcações, mandou-as incendiar. Os homens olharam as chamas de longe e
seguiram em frente. A
mensagem que César lhes pretendia transmitir é que não havia recuo. Não é para
todos. Só para homens feitos de aço; de rija têmpera.
E
já agora, contrapõe-se à ópera de Wagner, a “Flauta Mágica” de Mozart. Anotem-se
as características de Tamino e as da Rainha da Noite, e atribua-se o quê a quem!
É
que Pacheco Pereira fez exactamente a mesma coisa em 2004/2005 ao então
Primeiro-ministro Pedro Santana Lopes. Não tem emenda. O que é que ganhou em
2005? Uma sociedade destroçada.
Armando
Palavras
Post-scriptum
A
solução do Presidente da República é patriótica, mas este governo continua
legítimo. E está na plenitude das suas funções – não lhe falta nenhum ministro!
O facto de não ter cumprido o programa eleitoral (ainda está a meio de mandato)
não lhe retira legitimidade alguma. As razões são conhecidas. Tentar salvar o
país da bancarrota acrescenta-lhe a legitimidade que os eleitores lhe deram em
eleições livres. Não cometeu nenhuma patifaria em prejuízo do Estado e a todos
chamou às dificuldades (não apenas a alguns como o fizeram os dois governos
antecedentes); procura honrar os compromissos e arduamente conseguiu que o
Estado Português ganhasse credibilidade internacional. Segue os preceitos
constitucionais das origens da democracia e das democracias modernas (se assim
o quiserem).
Porque
razão se pedem então eleições antecipadas? Em democracia, o fim último não são
as eleições; essas são um meio para conseguir o fim último. Mas apenas um dos
meios. A democracia não se esgota nas eleições.
Se
o acordo proposto pelo Presidente não resultar, terão de se realizar, mas quem
as defende (e todos sabemos quem) não deve ficar impune se o país entrar em bancarrota. O abismo
está aí, à nossa frente. Exige-se prudência aos actores políticos. E uma
observância atenta ao povo.
[1]
Pacheco Pereira não deve saber em que situação José Sócrates deixou o país. E
não deve saber que este governo é forçado a cumprir um acordo com os credores
que foi assinado por Sócrates, para que o país não caia, em definitivo, na
bancarrota. Moralmente e eticamente o que se passa não é correcto, mas que
alternativa tem o governo? Rasgar o compromisso? Não o rasgando, que soluções
oferece o dr. Pacheco Pereira para que se cumpra o acordo? Inventar uma máquina
de dinheiro como pretende o dr. Soares? E o dinheiro para a inventar? Pacheco
Pereira, neste aspecto, tem que ser claro e dizer aos portugueses a fórmula
correcta para cumprir o acordo. Não basta dizer que é preciso crescer
economicamente, é preciso dizer como se faz isso! Se tem alguma fórmula mágica,
como patriota, apresente-a.
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