quarta-feira, 3 de julho de 2013

Mar revolto numa porta para o vazio



A notícia de ontem sobre a demissão do ministro (que nunca o deveria ter sido) dos Negócios estrangeiros (e de Estado!), Paulo Portas, não nos surpreendeu[1]. Surpreendeu-nos o timing, não a atitude. E isto porquê? Porque Paulo Portas não viveu em África. Nem em Trás-os-Montes. Onde as adversidades são constantes.

 

Paulo Portas pertence àquela burguesia urbana que “despreza” os outros. Por isso os horizontes do país lhe são alheios; os horizontes que conhece são os do umbigo, os do calculismo.
 
Barroso da Fonte, um barrosão (de Montalegre) de rija têmpera, habituado às adversidades, num jornal regional (Noticias de Mirandela), a 15 de Maio deste ano, sobre Portas dizia:
 
 “ Paulo Portas (…) tem usado o cargo como se servisse dois senhores, ao mesmo tempo. No Conselho de Ministros diz aos seus pares para votarem com o primeiro-ministro. Cá fora viola a concordância que deu lá dentro (…) Está-lhe no sangue. Quem o seguiu no jornal Independente, conhece-lhe as manhas”.
 
De seguida advertia o Primeiro-ministro para a rasteira que Portas lhe iria passar. E passou. Mas sem honra nem glória.
O artigo que ontem aqui escrevemos (A Lenda dos brandos costumes), já previa o acontecimento. Não o previa tão depressa, mas previa-o. Portas caiu na armadilha dos “patriarcas do velho testamento”, dos “velhos revolucionários” e dos “camaleões”, na qual não cairam os militares, porque mais avisados. Os que provocaram a bordoada e a traulitada de XIX e a chacina da primeira república são os mesmos que provocaram a bancarrota e a crise actual. Ou seja, para sermos mais rigorosos, os de hoje são os descendentes dos de ontem. Todos se associaram à bordoada que aí vem. Não peçam perdão quando os cacetes lhes caírem em cima. Porque o não merecem.
O povo português, depois dos sacrifícios a que foi chamado, não merecia isto. Não merecia este calculismo, estas jogadas do dr. Portas, nem a incompreensão de quem comenta o que não sabe.
A bolsa já deu os sinais, os juros da divida estão já em colapso e o caminho da Grécia, finalmente, vai ser percorrido. Um novo resgate, e o triplo da austeridade estão agora à distância de um passo. E aquilo que ainda era possível negociar com os parceiros, irá agora ser imposto com uma brutalidade sem limites pelos credores. Quem vai sofrer com esta irresponsabilidade do dr. Portas e de quem o armadilhou, vai ser o povo, aqueles a quem se exigiram os sacrifícios.
Se José Sócrates foi o coveiro do país, Portas é o seu carrasco. A diferença entre eles não é nenhuma. Se o primeiro nos levou à bancarrota, o segundo leva-nos ao segundo resgate e à bordoada que aí vem.

Armando Palavras


Post-scriptum

 
A perfídia não tem limites. Principalmente nos actores “políticos”. A mediocridade é tamanha. Da carta do professor Vítor Gaspar disse-se o impensável: que feria de morte o primeiro-ministro. Sublinhámo-la . O que nos parece é que aquilo que para uns tantos parece uma ferida, a nós parece-nos um elogio! Mas quem nos visita que faça o seu próprio juízo.

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[1] Já tinha dado sinais na entrevista à revista Exame deste mês. E na feira de Santarém.


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