A notícia de
ontem sobre a demissão do ministro (que nunca o deveria ter sido) dos Negócios
estrangeiros (e de Estado!), Paulo Portas, não nos surpreendeu[1]. Surpreendeu-nos o timing, não a atitude. E isto porquê?
Porque Paulo Portas não viveu em África. Nem em Trás-os-Montes. Onde as
adversidades são constantes.
Paulo Portas pertence àquela burguesia urbana que
“despreza” os outros. Por isso os horizontes do país lhe são alheios; os
horizontes que conhece são os do umbigo, os do calculismo.
Barroso da Fonte, um barrosão (de Montalegre) de rija
têmpera, habituado às adversidades, num jornal regional (Noticias de
Mirandela), a 15 de Maio deste ano, sobre Portas dizia:
“ Paulo Portas (…) tem
usado o cargo como se servisse dois senhores, ao mesmo tempo. No Conselho de
Ministros diz aos seus pares para votarem com o primeiro-ministro. Cá fora
viola a concordância que deu lá dentro (…) Está-lhe no sangue. Quem o seguiu no
jornal Independente, conhece-lhe as manhas”.
De seguida advertia o
Primeiro-ministro para a rasteira que Portas lhe iria passar. E passou. Mas sem
honra nem glória.
O
artigo que ontem aqui escrevemos (A Lenda dos brandos costumes), já previa o
acontecimento. Não o previa tão depressa, mas previa-o. Portas caiu na
armadilha dos “patriarcas do velho testamento”, dos “velhos revolucionários” e
dos “camaleões”, na qual não cairam os militares, porque mais avisados. Os que
provocaram a bordoada e a traulitada de XIX e a chacina da primeira república
são os mesmos que provocaram a bancarrota e a crise actual. Ou seja, para
sermos mais rigorosos, os de hoje são os descendentes dos de ontem. Todos se
associaram à bordoada que aí vem. Não peçam perdão quando os cacetes lhes
caírem em cima. Porque
o não merecem.
O
povo português, depois dos sacrifícios a que foi chamado, não merecia isto. Não
merecia este calculismo, estas jogadas do dr. Portas, nem a incompreensão de
quem comenta o que não sabe.
A
bolsa já deu os sinais, os juros da divida estão já em colapso e o caminho da
Grécia, finalmente, vai ser percorrido. Um novo resgate, e o triplo da
austeridade estão agora à distância de um passo. E aquilo que ainda era
possível negociar com os parceiros, irá agora ser imposto com uma brutalidade
sem limites pelos credores. Quem vai sofrer com esta irresponsabilidade do dr.
Portas e de quem o armadilhou, vai ser o povo, aqueles a quem se exigiram os
sacrifícios.
Se
José Sócrates foi o coveiro do país, Portas é o seu carrasco. A diferença entre
eles não é nenhuma. Se o primeiro nos levou à bancarrota, o segundo leva-nos ao
segundo resgate e à bordoada que aí vem.
Armando Palavras
Post-scriptum
A
perfídia não tem limites. Principalmente nos actores “políticos”. A
mediocridade é tamanha. Da carta do professor Vítor Gaspar disse-se o
impensável: que feria de morte o primeiro-ministro. Sublinhámo-la . O que nos parece é que aquilo que para uns tantos parece uma ferida, a nós parece-nos um elogio! Mas quem nos visita que faça o seu próprio juízo.
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