sexta-feira, 8 de março de 2013

O oito de Março (dia internacional da mulher) e o movimento feminista


Rosa Luxemburgo, Simone de Bauvoir, Emma Goldman

O oito de Março (dia internacional da mulher) e o movimento feminista

Foi a partir do fim da Segunda Guerra que o movimento feminista conseguiu alcançar um dos seus principais objectivos: a igualdade de género.
Contudo, este movimento é muito mais antigo do que o movimento sufragista, nascido por volta de 1900. Já no século XIV algumas mulheres se rebelaram sobre aquilo que na sua época se dizia sobre o seu sexo. E não acompanhavam o velho ditado inglês: “Quanto mais se bater numa mulher, num cavalo e numa nogueira, melhor eles serão”.
Na verdade, uma das primeiras feministas viveu na Idade Média: a dama da corte Christine de Pizan. Escreveu uma réplica ao pensamento machista da época: “Le livre de la Cite dês Dames” (1405). Representa uma cidade simbólica para as mulheres, onde a autora defende que elas possuem a mesma capacidade intelectual dos homens. E que se tivessem as mesmas oportunidades de acesso à educação, poderiam alcançar iguais realizações.
Com a transformação do antigo modelo estatal no século XVII, fundamentada na liberdade politica do indivíduo, proposta pelo pai intelectual da democracia moderna, John Locke, surgem novas ideias. Mary Astell reflecte sobre questões como a subordinação da mulher ao homem, atitude considerada injusta para a organização estatal. E questiona-se na obra “Reflexões sobre o casamento” (1700).
Todavia, a mãe do feminismo moderno nasceu no século de Locke. A inglesa Mary Wollstonecraft. Além do direito à educação, Wollstonecraft defendia os direitos políticos femininos, na sua obra “Reivindicação dos Direitos da Mulher” (1792). Pouco tempo depois sucediam-se dois dos grandes acontecimentos da história: a Independência dos EUA e a Revolução Francesa.
Mas os direitos proclamados nas duas revoluções não eram aplicados às mulheres. Surge Olympe de Gouges que tenta alterar a situação em 1791 redigindo a “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”. Morreu na guilhotina a mando de Robespierre.
O movimento feminista reclama o direito de voto em meados do século XIX, quando Harriet Taylor Mill[1] publicou o ensaio “A Concessão do Direito de Voto às Mulheres” (1851). Mas foi preciso esperar pela últimas décadas do século XX para que dispusessem das mesmas oportunidades que os homens. Nos princípios desse século, algumas juntam-se em torno da sufragista Emmeline Pankhurst[2] e usam alguma violência[3] para adquirirem esses direitos. Em 1918 adquirem o direito de voto em Inglaterra (apenas as que têm mais de 30 anos). Em 1928, esse direito foi equiparado aos dos homens, estabelecendo-se a idade mínima dos 21 anos para ambos os sexos. Na Austrália o direito pleno foi conseguido em 1902, na União Soviética em 1917, na Alemanha em 1919, nos EUA, em 1920. Na Espanha esse direito foi introduzido na Constituição em 1931 e em França, em 1946.
Durante o século XX foram inúmeras as feministas, entre outras citamos Rosa Luxemburgo, Emma Goldman, Virgínia Woolf, Simone de Beauvoir[4], Germaine Greer[5] e Shirley Chisholm, lembrada pelo seu famoso discurso ao Congresso (dos E.U.A.), proferido a 21 de Maio de 1969. No caso português Agustina Bessa Luís com a sua Sibila, narrativa da força de mulheres de três gerações da família Teixeira.
A segunda grande vaga deste movimento formou-se nos anos sessenta (XX) com o aparecimento da revista “Emma”, fundada pela alemã Alice Schwarzer, que trouxe à luz temas até aí interditos: o orgasmo, os métodos contraceptivos, a menstruação, o aborto ou a violação, e por aí fora.
Foi uma luta e peras!

Armando Palavras


Jornal Público, 7 de Março, XIII


[1] Mulher de John Stuart Mill, autor do famoso “On Liberty” (1859). Mill era feminista. E promoveu o direito ao voto feminino.
[2] Cujo discurso sobre o sufrágio das mulheres, proferido a 13 de Novembro de 1913 lhe deu notoriedade.
[3] Partiam vidraças, vertiam substâncias viscosas nos marcos de correio, cortavam cabos telefónicos, e escreviam nos relvados de golfe frases como: “voto para as mulheres”. Se eram detidas, faziam imediatamente greve de fome. Mas as autoridades ordenavam a sua alimentação forçada, inserindo-lhes tubos pelas narinas e pelo tubo digestivo.
[4] Que escreveu a obra feminista mais influente do século XX: “O Segundo Sexo”.
[5] A quem pertence a frase mais ousada e irreverente de todo o movimento feminista: “Se julgas que estás emancipada, prova o teu próprio sangue menstrual. Se ficares doente, é porque ainda tens um longo caminho a percorrer, querida” (“A Mulher Eunuco” – Bertrand, 1976).

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