sábado, 9 de março de 2013

Os arautos lusitanos e os acontecimentos em catadupa

Assinando o empréstimo com o FMI em 1983
 
O Governo não faz o que devia, dizem uns. Outros, extasiados com a manifestação de dois de Março (com números aldrabados e imagens falseadas, como o caso das da Turquia) pedem a sua demissão (mas sem eleições!). Um terceiro grupo (porque lhes foram aos bolsos) propõe soluções que se aproximam de um golpe de estado. Aliás já (quase) praticado em democracia quando Pedro Santana Lopes foi demitido sem razões aparentes, mas que será a História a fazer um justo julgamento. Dêem-lhe o espaço e o tempo necessário.
 
 

Será que estes cavalheiros sabem o que é um país na bancarrota? Sem dinheiro para pagar aos funcionários públicos no mês seguinte sem o dinheiro emprestado pelos credores? Alguns que foram testemunhas de duas intervenções do FMI num passado recente tinham obrigação de, pelo menos, fazer uma ideia. Sabem estes senhores o que é um governo deparar-se com o dobro do défice ao proposto na assinatura do contrato com os credores? É claro que sabem, mas fazem vista grossa porque lhes convém.
E são estas duas das grandes razões porque este governo, queiram esses cavalheiros, ou não queiram, que continuam a garantir a legitimidade do governo. Porque foram fundamentalmente estas duas razões que obrigaram o governo a adulterar o que prometera em manifesto eleitoral, subindo agora obrigatoriamente os impostos. Uma factura que o povo português vai ter que encarar durante pelo menos três décadas (Como o dizem agora a maioria dos especialistas) , não sendo sua. Mas é da responsabilidade de alguns destes cavalheiros que não denunciaram situações quando deviam (esquecendo Burke e outros), apoiaram patifarias quando não deviam, fizeram vista grossa a subsídios (estatais) indecorosos, nunca foram cidadãos de corpo inteiro porque permitiram vencimentos e reformas indecentes, sem nunca terem a decência de uma atitude como a do suíço Thomas Minder que, esse sim, deu a este tipo de gente uma lição de genuína democracia.
Então cortar quatro mil milhões de forma permanente não é reformar estruturalmente o Estado? Então o que é?
 
1983

 
Ao que se sabe pelo Le Monde desta semana, Hollande, o presidente (socialista) francês que só demorou três meses a inverter o que prometera em eleições (!), vai cortar os mesmos quatro mil milhões às reformas (embora em França representem muito menos que em Portugal) e por aí fora. Então, o que nos dizem os cavalheiros disto?
Entretanto António José Seguro escreve missiva à Troika (apoiado pelo “príncipe de Florença”, pois segundo dizem foi ele que aconselhou o envio por correio azul!), onde pedia que esta avaliação (a 7ª) tivesse um cunho essencialmente político.
Christine Lagarde, não se fez rogada e, de imediato lhe deu a resposta, onde afirmou que o equilíbrio entre o crescimento e o emprego face ao ajustamento orçamental é importante, mas que é difícil atingi-lo. E disse: “A política económica em Portugal precisa manter um difícil equilíbrio – fazendo progressos no necessário ajustamento fiscal, mas também evitando tensões indevidas na produção e no emprego”. E que a delegação do FMI em Portugal tem como objectivo, aliás, assegurar esse equilíbrio entre ajustamento, crescimento e emprego. Concluindo que “a sustentabilidade das finanças públicas é essencial para evitar uma crise económica mais profunda que poderia criar ainda mais tensões na sociedade portuguesa”. Disse ainda, sem fazer referência ao corte de 4000 milhões de euros na despesa do Estado, que os responsáveis da troika querem evitar aprofundar estas tensões dentro da sociedade portuguesa.
A Lagarde seguiu-se Durão Barroso. E o BCE. Os cavalheiros das demissões e ilegitimidades, a quem se acrescenta os do golpe de Estado, que tomem nota.
Mas os acontecimentos da semana não ficaram por aqui. A Troika concedeu mais um ano para a diminuição do défice, O Eurogrupo, com toda a certeza, irá alargar o prazo para o pagamento da divida soberana e, sem que se previsse, a agência de rating Standard & Poor’s, pela primeira vez em 14 anos, realizou uma alteração positiva à classificação de Portugal: de negativa para estável!
Se isto não é fazer o que se devia, na cabeça desses senhores, fazer o que se devia deve ser levar o país à bancarrota!
Onde este governo tem “falhado” verdadeiramente no seu projecto eleitoral, é na correcção das patifarias urdidas a cidadãos (como o caso do professor Charrua, recentemente indemnizado pelo Estado a mando dos tribunais) decentes por quem nos trouxe ao desastre. Ainda por cima com a conivência de quem hoje tem o descaramento de se atirar à legitimidade da governação! E na correcção de processos administrativos (que se aproximam do limiar da corrupção) que nada mudaram desde o tempo de quem nos trouxe até aqui. Seja na forma, ou no conteúdo. Tudo como dantes … Mas mesmo aqui temos de ser condescendentes, dada a situação financeira apertada que os socialistas (socráticos) deixaram ao país.
Armando Palavras
 
Post- scriptum

Não foi a Troika que nos trouxe a austeridade. Os seus empréstimos permitiram aliviá-la e evitar a falência do país.





Sem comentários:

Enviar um comentário

[A festa em Grijó] - A.M. Pires Cabral

                 A. M. Pires Cabral                                                                      FESTA !