quarta-feira, 6 de março de 2013

A "Noite" e o "Rumo" de Alda Lara

Acácias rubras - Benguela


Alda Lara
 NOITE

 Noites africanas langorosas,
 esbatidas em luares...,
 perdidas em mistérios...
 Há cantos de tungurúluas pelos ares!...
....................................................
onde o barulhento frenesi das batucadas,
põe tremores nas folhas dos cajueiros...
.....................................................
Noites africanas tenebrosas...,
povoadas de fantasmas e de medos,
povoadas das histórias de feiticeiros
que as amas-secas pretas,
contavam aos meninos brancos...

E os meninos brancos cresceram,
e  esqueceram
as histórias...

Por isso as noites são tristes...
Endoidadas, tenebrosas langorosas,
mas tristes... como o rosto gretado,
e sulcado de rugas, das velhas pretas...
como o olhar cansado dos colonos,
como a solidão das terras enormes
mas desabitadas...

É que os meninos brancos...,
esqueceram as histórias,
com que as amas-secas pretas
os adormeciam,
nas longas noites africanas...
 
Os meninos-brancos... esqueceram!...

1948-Outubro (de Poemas1966)

Rumo

 (ao J.B. Dias em 1949
À sua memória em 1951)
 

É tempo, companheiro!
      Caminhemos ...
Longe, a Terra chama por nós,
e ninguém resiste à voz
       Da Terra!...

Nela,
O mesmo sol ardente nos queimou
a mesma lua triste nos acariciou,
e se tu és negro,
e eu sou branca,
a mesma Terra nos gerou!

          Vamos, companheiro ...
          É tempo …
Que o meu coração
se abra à mágoa das tuas mágoas
e ao prazer dos teus prazeres
          irmão:
 
que as minhas mãos brancas
          se estendam
para estreitar com amor
as tuas longas mãos negras ...
E o meu suor,
quando rasgarmos os trilhos
 
de um mundo melhor …


             Vamos!
que outro oceano nos inflama.. .
             Ouves?
É a Terra que nos chama ...
 
É tempo companheiro!
           Caminhemos ...


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