Acácias rubras - Benguela |
Alda Lara |
NOITE
Noites africanas langorosas,
esbatidas em luares...,
perdidas em mistérios...
Há cantos de tungurúluas pelos ares!...
....................................................
onde
o barulhento frenesi das batucadas,
põe
tremores nas folhas dos cajueiros...
.....................................................
Noites
africanas tenebrosas...,
povoadas
de fantasmas e de medos,
povoadas
das histórias de feiticeiros
que
as amas-secas pretas,
contavam
aos meninos brancos...
E os
meninos brancos cresceram,
e esqueceram
as
histórias...
Por
isso as noites são tristes...
Endoidadas,
tenebrosas langorosas,
mas
tristes... como o rosto gretado,
e
sulcado de rugas, das velhas pretas...
como
o olhar cansado dos colonos,
como
a solidão das terras enormes
mas
desabitadas...
É que
os meninos brancos...,
esqueceram
as histórias,
com
que as amas-secas pretas
os
adormeciam,
nas
longas noites africanas...
Os
meninos-brancos... esqueceram!...
1948-Outubro
(de Poemas1966)
Rumo
(ao J.B.
Dias em 1949
À sua memória em 1951)
É
tempo, companheiro!
Caminhemos ...
Longe,
a Terra chama por nós,
e
ninguém resiste à voz
Da Terra!...
Nela,
O
mesmo sol ardente nos queimou
a
mesma lua triste nos acariciou,
e se
tu és negro,
e eu
sou branca,
a
mesma Terra nos gerou!
Vamos, companheiro ...
É tempo …
Que o
meu coração
se
abra à mágoa das tuas mágoas
e ao
prazer dos teus prazeres
irmão:
que
as minhas mãos brancas
se estendam
para
estreitar com amor
as
tuas longas mãos negras ...
E o
meu suor,
quando
rasgarmos os trilhos
de um
mundo melhor …
Vamos!
que
outro oceano nos inflama.. .
Ouves?
É a
Terra que nos chama ...
É
tempo companheiro!
Caminhemos ...
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