quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Donzilia Martins - Penso a Terra

Donzilia Martins

















No meu olhar não cabe a sua serra e todo o céu
 Nem o almejado jardim das oliveiras verdes prateadas!
 A nostalgia invade-me os olhos.
 Cresce no meu ventre a terra desfeita em pó nos meus cabelos
 Chora por mim o fio de prata lavrada do teu rio
 Espremido sob o arco da ponte romana.
 Em silêncio, desliza calmo, apertado entre montanhas e salgueiros
 A beber as tardes, a aninhar-se no colo do céu crepuscular.
 Horizontes de pinhais e trigo roçam-me as entranhas
 Num voo repetido de pássaros a tecerem manhãs coloridas de ternura.
 Há espinhos nas minhas mãos a regressarem-me às castanhas
 Nascidas para o meu entardecer.
 Canto todas as tardes lavradas no meu olhar
 Enquanto minhas mãos se estendem na neblina do abraço
 Tecendo sinais de luz a florir primaveras na minh’alma.
 Os lírios há muito que secaram sob a figueira de figos pretos.
 Hoje acende-se o sol em cada fruto das minhas laranjeiras
 Nas gotas de orvalho dos pingos verdes caindo das folhas.
 Como foi possível trazeres-me nesta manhã de Dezembro
 A pedra da lareira, o frio da rua, o escuro da noite, a luz do luar,
 O brilho das estrelas, a sede da fonte, o canto dos passarinhos,
 A brisa e os vendavais, os rios de lume a inundar o céu?
 E o fogo das palavras que morreram? E a paisagem?
 Fora eu Van Gogh e a imortalizaria na tela.
 Ah! Nunca em mim as coisas se apagaram. Tudo se eternizou!
 Voltasse eu de novo à minha infância!
 Ficaria com o perfume das rosas para sempre.

9/012/012
 Donzilia Martins

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