Donzilia Martins |
No meu olhar não cabe a sua serra e todo o céu
Nem o almejado jardim das
oliveiras verdes prateadas!
A nostalgia invade-me os
olhos.
Cresce no meu ventre a
terra desfeita em pó nos meus cabelos
Chora por mim o fio de
prata lavrada do teu rio
Espremido sob o arco da
ponte romana.
Em silêncio, desliza
calmo, apertado entre montanhas e salgueiros
A beber as tardes, a
aninhar-se no colo do céu crepuscular.
Horizontes de pinhais e
trigo roçam-me as entranhas
Num voo repetido de
pássaros a tecerem manhãs coloridas de ternura.
Há espinhos nas minhas
mãos a regressarem-me às castanhas
Nascidas para o meu
entardecer.
Canto todas as tardes
lavradas no meu olhar
Enquanto minhas mãos se
estendem na neblina do abraço
Tecendo sinais de luz a
florir primaveras na minh’alma.
Os lírios há muito que
secaram sob a figueira de figos pretos.
Hoje acende-se o sol em
cada fruto das minhas laranjeiras
Nas gotas de orvalho dos
pingos verdes caindo das folhas.
Como foi possível
trazeres-me nesta manhã de Dezembro
A pedra da lareira, o
frio da rua, o escuro da noite, a luz do luar,
O brilho das estrelas, a
sede da fonte, o canto dos passarinhos,
A brisa e os vendavais,
os rios de lume a inundar o céu?
E o fogo das palavras que
morreram? E a paisagem?
Fora eu Van Gogh e a
imortalizaria na tela.
Ah! Nunca em mim as
coisas se apagaram. Tudo se eternizou!
Voltasse eu de novo à
minha infância!
Ficaria com o perfume das
rosas para sempre.
9/012/012
Donzilia Martins
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