Costa Pereira |
Ficava com remorsos guardar só para mim o desenho geológico, histórico toponímico e descritivo que num mero A4 o “Ginho” faz da que foi, e eu ainda conheci, solar da águia real do Marão, as Fisgas ou Cabril, daí pedir vénia para desse original dar divulgação, também é uma maravilha em prosa.
Costa Pereira
Eu sei duma “Maravilha”!!!
“Das Fisgas não falarei. A medonha realidade perderia nas palavras a telúrica dimensão. São quedas impressionantes de deixar cair as horas em divina contemplação.
Perspectiva wagneriana, rente às nuvens de alabastro - perspectiva genesíaca, rente á vaporosa espuma das cataratas do Olo.
Um brinco da Natureza!
Quando Deus criou o mundo, era tudo muito bom. Nas Fisgas, cala-te boca, exagerou um bocadinho…
Se eu dissesse, mas não digo, diria que o azul do Cabril é céu dos falcões peregrinos que fecundam o colo da brisa .
E no centro da epopeia, o rude pastor dos penhascos transvestido de Moisés. Trezentas cabeças aos pés e nos olhos um soneto azul celeste. Só ele sabe dos mistérios, dos trilhos e das veredas, dos segredos dos druidas, do abre-te-Sesamo dos tesouros escondidos. Só ele sabe da “Poça das Carriceiras”, da “Poça da Pena do Pombo”, da “Calda de Barnabás”, dos “Fornos” e da “Pena Amarela”, da “Fonte da Gricha” e da “Casa do Diabo”, do “Buraco dos Fontelões”, da “Fraga da Malhada”, das “Pias do Cadaval”, da “Rechouza” e do altar do “Pouso da Águia” com fossetes esculpidos de três palmos de dimensão.
Reza a crónica de D. João, chamado “O da boa memória” que Gonçalo Vaz o Moço, pastor das Fisgas de Ermelo, o salvou dos Castelhanos na Batalha de Aljubarrota. É Fernão Lopes que atesta, nos pergaminhos do Tombo, que o tal “besteiro” de Ermelo mereceu o Real Privilégio do “Ajuda-me Companhão”.
Mas há que voltar ao Rio que os celtas divinizaram. Chamaram-lhe Yolo, ou Apolo, deus da luz, da claridade, deus brilhante e luminoso, o Febo resplandecente, que a toponímia regista.
Ainda hoje, na Primavera, escalando as bordas do Ermo, sobe o povo pelo rego, tratando da manutenção, celebrando, ao som de tiros, cantando e dando vivas às três velhas de Varziguêto.
Das Fisgas não falarei.
Evoco o Rio de Lamas, que corre o pranto nas pedras, e se atira, apaixonado, da falésia desmedida. Como Ícaro se imolou com asas incendiadas.
O Olo parece Apolo na vertigem suicida de querer beber a luz e mergulhar nos abismos.
Eu sei duma “Maravilha” !!!
Onde as águias fazem ninho e os falcões peregrinos fecundam o colo da brisa.
Onde o Criador do Mundo exagerou um bocadinho…
Luís Jales de Oliveira”
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