TEMPOS SOMBRIOS |
Quando os americanos, depois da
capitulação da Alemanha nazi, transportaram, em camionetas, os cidadãos alemães
aos campos de concentração próximos das suas cidades, para estes observarem in
loco as atrocidades dos nacionais socialistas, ficaram estupefactos, não
quiseram acreditar no que viram. O peso da infâmia oprimiu-os. Porque como nos
diz Günter Grass, Prémio Nobel da Literatura (1999): (…) por muito que a missão pedagógica dos Americanos nos obrigasse a
ver aquelas imagens documentais a nós, que tínhamos dezassete, dezoito anos,
tinha uma só resposta, dita e não dita, como consequência, mas de igual modo
inabalável: Nunca os Alemães poderiam ter feito, jamais fizeram uma coisa
destas [referindo-se a Treblinka, Sobibór e Auschwitz][1]. Ou,
lembrando Raymond Aron, as câmaras de
gás, o assassinato industrial de seres humanos, não, confesso, não os imaginei
e, como não os podia imaginar, não soube deles[2].
Eram monstruosidades que à partida ninguém teria julgado possíveis[3], diz-nos Hannah
Arendt. Porque, como nota Dietrich Schwanitz: A imaginação recusa-se a trazer diante os seus olhos o que entretanto
se convencionou designar pelos termos shoah
ou holocausto[4].
A propaganda de Goebbels tinha
funcionado em pleno. Mas, os vagões
tristes transportam-me para este lugar[5] de Chil Rajchman, que
conseguiu sobreviver a Treblinka, um dos campos nazis de extermínio de Judeus,
estava aí bem presente[6]. Como
estavam presentes os vagões cheios de crianças judias, na estação de
Austerlitz, para, como recorda o Prémio Nobel Elie Wiesel, abastecer as câmaras de gás e o crematório[7].
1 - Quando o Ministro da
Segurança Social anunciou cortes no subsídio de desemprego, situação que deixa
qualquer cidadão decente desconcertado, os socialistas reagiram espalhafatosamente,
como se o ministro (o primeiro, cremos, a quem custou anunciar a medida) fosse
um malfeitor. E na primeira linha, o seu secretário-geral, António José Seguro.
Ora quem tem memória sabe que no Memorando (que os socialistas assinaram)
consta essa medida. Para 2013 o governo deve reduzir a despesa em benefícios
sociais pelo menos mais 350 milhões de euros. Onde se diz a certa altura:
“aplicar o IRS a todos os tipos de prestações sociais” (os tais 6%). Das duas
uma, ou o governo cumpre e quem assinou o Memorando (o verdadeiro malfeitor)
cala-se, ou o governo não cumpre e isso terá as consequências que se conhecem
porque o país está a viver por obra e graça do dinheiro que nos emprestaram (o
vencimento de Seguro é desse dinheiro). Os socialistas se optarem pela segunda
via devem dizer onde se podem ir buscar esses milhões.
Quem, de facto, não teve
sensibilidade não foi o ministro, foram os socialistas que assinaram um
Memorando onde essa medida constava. O que nos apraz dizer é que Seguro, nesta
questão, não foi politicamente honesto, como já o não havia sido em várias
entrevistas dadas em Setembro, ao afirmar que não aceitava as medidas do
governo porque este já tinha feito cinco actualizações ao Memorando. Não é
verdade. Fizeram-se cinco avaliações! Avaliar não é o mesmo que actualizar.
A gente do tempo de Sócrates
nunca governou para o País, mas sim para os amigos. Nunca lhes interessou a
democracia, porque a igualdade de oportunidades não era, para eles, um fim;
foram totalitários.
Como é que agora João Galamba vem chamar salazarento ao ministro das finanças? Quando apoiou uma governação que raiou momentos de estalinismo!
Como é que agora João Galamba vem chamar salazarento ao ministro das finanças? Quando apoiou uma governação que raiou momentos de estalinismo!
2 – Diz Seguro que a “austeridade
mina os alicerces da democracia”. Quem a praticou primeiro, mas apenas para
alguns? Nessa altura, nesses governos totalitários, manteve-se impávido e sereno,
curvado perante a desgraça do país.
Diz agora que não quer ser
“muleta” para um problema criado pelos seus (4mil milhões). A ver vamos. Se
será pior ser muleta ou bengala!
Os governos socialistas de
Sócrates foram os grandes responsáveis por esta austeridade. Em 2004 a divida pública era de
60% do PIB e esses governos duplicaram-na. Tão simples quanto isto. E os casos
que a isto nos trouxeram podem bem ser exemplificados com a questão do BPN. À
época dizia-se que iria custar 2 mil milhões ao contribuinte, e agora prevê-se
que custe cerca de 7 mil milhões!
Ainda há cerca de ano e meio, estava
o país a afundar-se e o Eng.º. Sócrates abria a boca para falar de TGV,
aeroportos, etc. Os socialistas comportaram-se como aqueles fidalgos do século
XIX. Tendo muitas terras e palácios, não tinham dinheiro para quem com eles
trabalhava. E como eles, os governos socialistas, financiaram-se com o dinheiro
dos plebeus, pobres mas com algumas poupanças.
Também afirma que não aceita qualquer ataque ao Estado Social. Que remédio! Tudo depende da Alemanha e ao que parece a Chanceler já disse que são precisos mais cinco anos de austeridade!
Também afirma que não aceita qualquer ataque ao Estado Social. Que remédio! Tudo depende da Alemanha e ao que parece a Chanceler já disse que são precisos mais cinco anos de austeridade!
3 – O facto é que o saldo
primário estrutural do nosso Orçamento do Estado já não é negativo (dito pelos
economistas e financeiros sérios). Já estaríamos numa situação equilibrada se
não fossem os juros. O problema é que sendo os juros a 5%, por um lado, numa
situação como esta de biliões sobre biliões, são usurários, por outro, podemos
dar-nos por felizes porque se fossem ao valor do mercado (15 a 20%) estaríamos
bem pior. Por isso, queiramos ou não, ainda teremos de agradecer aos credores
por nos emprestarem a 5%. É claro que aqui se poderia ir mais longe. Sobre os
empréstimos aos países em dificuldades, e sobre os empréstimos à banca. Ficará
para próxima oportunidade.
4- Francisco Assis, aquele que
esteve sempre ao lado de quem destruiu o país, diz que é preciso um compromisso
histórico entre a esquerda democrática e o centro-direita. Isso já não é
novidade para quem tem alguma cabeça. O que é novidade é que nas palavras de
Assis, quem deve liderar esse acordo são aqueles que nos levaram à bancarrota!
5- O Primeiro – ministro utilizou
uma palavra que originou alguns clamores nos quadrantes políticos da sociedade
portuguesa: refundação. Seja em
relação ao Memorando, seja em relação ao Estado, foi muito bem aplicada. Neste
caso, não concordamos com a argumentação da meia dúzia de comentadores e
colunistas sérios.
No que diz respeito ao Memorando,
é absolutamente necessário refundá-lo, porque a conjuntura actual é bem
diferente daquela em que foi assinado. Até porque os países em que o
ajustamento já está em marcha serão prejudicados em relação aos que ainda o não
iniciaram. Estes (como a Espanha) irão usufruir de vantagens sufragadas pelo
mandato de Mário Draghi no BCE.
No que diz respeito à “refundação”
do Estado, é claro que se não fará o que se fez com a França e a Alemanha em
45, muito menos com a Grécia, em 1830, através da revolução declarada em 1828,
contra um ocupante estrangeiro que dirigiu o país por mais de cinco séculos: o
Império Otomano.
Mas que precisa de ser “refundado”,
no sentido de reformas profundas, isso precisa. Seja no Estado Providência,
seja na Educação ou na Saúde. O país paralisado como está, não consegue
sustentar estes sectores na actual conjectura, da mesma forma como quando foram
implementados.
O Governo só fez mal em não avançar com isto assim que foi eleito. Como devia ter avançado com uma auditoria às contas públicas das governações socialistas.
O Governo só fez mal em não avançar com isto assim que foi eleito. Como devia ter avançado com uma auditoria às contas públicas das governações socialistas.
6 - Certos “teóricos”, a
propósito da “refundação”, apelam a que a reestruturação “deve ser feita por
dentro”; pelos portugueses. Que capacidade negocial tem um povo que se deixou
conduzir, por uma governação totalitária (socialista) à bancarrota? Que
capacidade criativa tem determinada “elite” para reestruturar o que
desestruturou? O que sempre copiou?
A reforma do Estado que agora
está a ser aconselhada pelos técnicos do FMI, do Banco Mundial e da Comissão
Europeia, tem que ser feita desta forma e não de outra. Ou seja, tem de ser
feita por quem sabe e não por quem se deixou conduzir, ou por quem nos conduziu
à bancarrota. A independência perdeu-se quando se assinou o Memorando,
vergando-nos a um empréstimo astronómico. E só a voltaremos a adquirir quando
dele nos livrarmos. Tudo o resto é folclore!
Os credores estão-se borrifando
para a Constituição. Se a Constituição o não permite, então que se mude a
Constituição. É este o raciocínio deles. Tudo o resto são fantasias!
O cineasta Luís Filipe Rocha,
numa carta de despedida a Francisco José Viegas, Secretário de Estado da
Cultura, remodelado por questões de saúde, diz-nos sobre os socialistas do
consulado de José Sócrates:
(Publico-28-10-XII) |
O que nos diz o cineasta sobre a
cultura foi extensivo a todas as áreas da governação. Uma governação perversa
que impediu os mais capazes e os de habilitações mais elevadas de prosperar,
mantendo-os na pobreza, para favorecer amigos e familiares[8].
Armando Palavras
Post-scriptum
Está na hora da Europa (versus
Alemanha) cumprir com o que prometeu há cerca de mês e meio. Ajudar o país a
crescer.
[1] Escrever depois
de Auschwitz, Dom Quixote, 2008
[2] Memórias,
Guerra e Paz, 2007
[3] Responsabilidade
e Juízo, Dom Quixote, 2007
[5] Sou o último
Judeu, Teorema, 2009
[6] Walter Benjamim não foi deportado para um campo de
concentração. Morreu aos 48 anos, em Portbou, na província de Girona, depois de
acossado pelo avanço dos nazis.
[8] Antes de 1928, levaram o país a um período de quase
guerra civil que durou 16 anos (a primeira república). Salazar tomou conta do
poder, numa situação de quase bancarrota provocada pelos socialistas. Depois de
74 abriram as portas do país ao FMI por duas vezes (1977/78 - 1983/84), e, finalmente, levaram-no à
bancarrota. Já chega deste socialismo!
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