sábado, 3 de novembro de 2012

Tempos Sombrios (3)


TEMPOS SOMBRIOS


Quando os americanos, depois da capitulação da Alemanha nazi, transportaram, em camionetas, os cidadãos alemães aos campos de concentração próximos das suas cidades, para estes observarem in loco as atrocidades dos nacionais socialistas, ficaram estupefactos, não quiseram acreditar no que viram. O peso da infâmia oprimiu-os. Porque como nos diz Günter Grass, Prémio Nobel da Literatura (1999): (…) por muito que a missão pedagógica dos Americanos nos obrigasse a ver aquelas imagens documentais a nós, que tínhamos dezassete, dezoito anos, tinha uma só resposta, dita e não dita, como consequência, mas de igual modo inabalável: Nunca os Alemães poderiam ter feito, jamais fizeram uma coisa destas [referindo-se a Treblinka, Sobibór e Auschwitz][1]. Ou, lembrando Raymond Aron, as câmaras de gás, o assassinato industrial de seres humanos, não, confesso, não os imaginei e, como não os podia imaginar, não soube deles[2].
Eram monstruosidades que à partida ninguém teria julgado possíveis[3], diz-nos Hannah Arendt. Porque, como nota Dietrich Schwanitz: A imaginação recusa-se a trazer diante os seus olhos o que entretanto se convencionou designar pelos termos shoah ou holocausto[4].
A propaganda de Goebbels tinha funcionado em pleno. Mas, os vagões tristes transportam-me para este lugar[5] de Chil Rajchman, que conseguiu sobreviver a Treblinka, um dos campos nazis de extermínio de Judeus, estava aí bem presente[6]. Como estavam presentes os vagões cheios de crianças judias, na estação de Austerlitz, para, como recorda o Prémio Nobel Elie Wiesel, abastecer as câmaras de gás e o crematório[7].



1 - Quando o Ministro da Segurança Social anunciou cortes no subsídio de desemprego, situação que deixa qualquer cidadão decente desconcertado, os socialistas reagiram espalhafatosamente, como se o ministro (o primeiro, cremos, a quem custou anunciar a medida) fosse um malfeitor. E na primeira linha, o seu secretário-geral, António José Seguro. Ora quem tem memória sabe que no Memorando (que os socialistas assinaram) consta essa medida. Para 2013 o governo deve reduzir a despesa em benefícios sociais pelo menos mais 350 milhões de euros. Onde se diz a certa altura: “aplicar o IRS a todos os tipos de prestações sociais” (os tais 6%). Das duas uma, ou o governo cumpre e quem assinou o Memorando (o verdadeiro malfeitor) cala-se, ou o governo não cumpre e isso terá as consequências que se conhecem porque o país está a viver por obra e graça do dinheiro que nos emprestaram (o vencimento de Seguro é desse dinheiro). Os socialistas se optarem pela segunda via devem dizer onde se podem ir buscar esses milhões.
Quem, de facto, não teve sensibilidade não foi o ministro, foram os socialistas que assinaram um Memorando onde essa medida constava. O que nos apraz dizer é que Seguro, nesta questão, não foi politicamente honesto, como já o não havia sido em várias entrevistas dadas em Setembro, ao afirmar que não aceitava as medidas do governo porque este já tinha feito cinco actualizações ao Memorando. Não é verdade. Fizeram-se cinco avaliações! Avaliar não é o mesmo que actualizar.
A gente do tempo de Sócrates nunca governou para o País, mas sim para os amigos. Nunca lhes interessou a democracia, porque a igualdade de oportunidades não era, para eles, um fim; foram totalitários.
Como é que agora João Galamba vem chamar salazarento ao ministro das finanças? Quando apoiou uma governação que raiou momentos de estalinismo!

2 – Diz Seguro que a “austeridade mina os alicerces da democracia”. Quem a praticou primeiro, mas apenas para alguns? Nessa altura, nesses governos totalitários, manteve-se impávido e sereno, curvado perante a desgraça do país.
Diz agora que não quer ser “muleta” para um problema criado pelos seus (4mil milhões). A ver vamos. Se será pior ser muleta ou bengala!
Os governos socialistas de Sócrates foram os grandes responsáveis por esta austeridade. Em 2004 a divida pública era de 60% do PIB e esses governos duplicaram-na. Tão simples quanto isto. E os casos que a isto nos trouxeram podem bem ser exemplificados com a questão do BPN. À época dizia-se que iria custar 2 mil milhões ao contribuinte, e agora prevê-se que custe cerca de 7 mil milhões!
Ainda há cerca de ano e meio, estava o país a afundar-se e o Eng.º. Sócrates abria a boca para falar de TGV, aeroportos, etc. Os socialistas comportaram-se como aqueles fidalgos do século XIX. Tendo muitas terras e palácios, não tinham dinheiro para quem com eles trabalhava. E como eles, os governos socialistas, financiaram-se com o dinheiro dos plebeus, pobres mas com algumas poupanças.
Também afirma que não aceita qualquer ataque ao Estado Social. Que remédio! Tudo depende da Alemanha e ao que parece a Chanceler já disse que são precisos mais cinco anos de austeridade!


3 – O facto é que o saldo primário estrutural do nosso Orçamento do Estado já não é negativo (dito pelos economistas e financeiros sérios). Já estaríamos numa situação equilibrada se não fossem os juros. O problema é que sendo os juros a 5%, por um lado, numa situação como esta de biliões sobre biliões, são usurários, por outro, podemos dar-nos por felizes porque se fossem ao valor do mercado (15 a 20%) estaríamos bem pior. Por isso, queiramos ou não, ainda teremos de agradecer aos credores por nos emprestarem a 5%. É claro que aqui se poderia ir mais longe. Sobre os empréstimos aos países em dificuldades, e sobre os empréstimos à banca. Ficará para próxima oportunidade.


4- Francisco Assis, aquele que esteve sempre ao lado de quem destruiu o país, diz que é preciso um compromisso histórico entre a esquerda democrática e o centro-direita. Isso já não é novidade para quem tem alguma cabeça. O que é novidade é que nas palavras de Assis, quem deve liderar esse acordo são aqueles que nos levaram à bancarrota!


5- O Primeiro – ministro utilizou uma palavra que originou alguns clamores nos quadrantes políticos da sociedade portuguesa: refundação. Seja em relação ao Memorando, seja em relação ao Estado, foi muito bem aplicada. Neste caso, não concordamos com a argumentação da meia dúzia de comentadores e colunistas sérios.
No que diz respeito ao Memorando, é absolutamente necessário refundá-lo, porque a conjuntura actual é bem diferente daquela em que foi assinado. Até porque os países em que o ajustamento já está em marcha serão prejudicados em relação aos que ainda o não iniciaram. Estes (como a Espanha) irão usufruir de vantagens sufragadas pelo mandato de Mário Draghi no BCE.
No que diz respeito à “refundação” do Estado, é claro que se não fará o que se fez com a França e a Alemanha em 45, muito menos com a Grécia, em 1830, através da revolução declarada em 1828, contra um ocupante estrangeiro que dirigiu o país por mais de cinco séculos: o Império Otomano.
Mas que precisa de ser “refundado”, no sentido de reformas profundas, isso precisa. Seja no Estado Providência, seja na Educação ou na Saúde. O país paralisado como está, não consegue sustentar estes sectores na actual conjectura, da mesma forma como quando foram implementados.
O Governo só fez mal em não avançar com isto assim que foi eleito. Como devia ter avançado com uma auditoria às contas públicas das governações socialistas.
6 - Certos “teóricos”, a propósito da “refundação”, apelam a que a reestruturação “deve ser feita por dentro”; pelos portugueses. Que capacidade negocial tem um povo que se deixou conduzir, por uma governação totalitária (socialista) à bancarrota? Que capacidade criativa tem determinada “elite” para reestruturar o que desestruturou? O que sempre copiou?
A reforma do Estado que agora está a ser aconselhada pelos técnicos do FMI, do Banco Mundial e da Comissão Europeia, tem que ser feita desta forma e não de outra. Ou seja, tem de ser feita por quem sabe e não por quem se deixou conduzir, ou por quem nos conduziu à bancarrota. A independência perdeu-se quando se assinou o Memorando, vergando-nos a um empréstimo astronómico. E só a voltaremos a adquirir quando dele nos livrarmos. Tudo o resto é folclore!
Os credores estão-se borrifando para a Constituição. Se a Constituição o não permite, então que se mude a Constituição. É este o raciocínio deles. Tudo o resto são fantasias!

O cineasta Luís Filipe Rocha, numa carta de despedida a Francisco José Viegas, Secretário de Estado da Cultura, remodelado por questões de saúde, diz-nos sobre os socialistas do consulado de José Sócrates:
  (Publico-28-10-XII)   
          
O que nos diz o cineasta sobre a cultura foi extensivo a todas as áreas da governação. Uma governação perversa que impediu os mais capazes e os de habilitações mais elevadas de prosperar, mantendo-os na pobreza, para favorecer amigos e familiares[8].

Armando Palavras

Post-scriptum

Está na hora da Europa (versus Alemanha) cumprir com o que prometeu há cerca de mês e meio. Ajudar o país a crescer.



[1] Escrever depois de Auschwitz, Dom Quixote, 2008
[2] Memórias, Guerra e Paz, 2007
[3] Responsabilidade e Juízo, Dom Quixote, 2007
[4] Cultura, Dom Quixote, 2004
[5] Sou o último Judeu, Teorema, 2009
[6] Walter Benjamim não foi deportado para um campo de concentração. Morreu aos 48 anos, em Portbou, na província de Girona, depois de acossado pelo avanço dos nazis.
[7] Noite, Texto Editores, 2006
[8] Antes de 1928, levaram o país a um período de quase guerra civil que durou 16 anos (a primeira república). Salazar tomou conta do poder, numa situação de quase bancarrota provocada pelos socialistas. Depois de 74 abriram as portas do país ao FMI por duas vezes (1977/78 - 1983/84), e, finalmente, levaram-no à bancarrota. Já chega deste socialismo!

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