Terça-feira,
30 de Outubro de 2012
A
alma é também um abismo temporal e ainda bem. A minha é medieva, sei-o agora.
Gosta de viajar nas dimensões do passado, de reconhecer as pessoas que existem
nas páginas dos livros e captar-lhes a tristeza inenarrável sentida nas
acusações mesquinhas e interesseiras feitas em nome de uma verdade insincera.
Gosta de se transformar nas suas vidas quotidianas, de as sentir percorrer as
ruas que também percorre, de as olhar nos olhos e descortinar neles a força e a
esperança para enfrentar os murmúrios acusatórios dos vizinhos e dos amigos.
Gosta de conhecer a realidade prismática que foram obrigados a viver e que
transformaram em defesa da sua verdade. Sente que lhes pertence. Sente que tem
dentro dela o verbo das orações, os sonhos inacabados antes de tempo, a calma
de quem tem a consciência tranquila e nada tem que temer. Este não é apenas um
livro de pesquiza histórica, de perseguição e de intolerância. Ultrapassa a
narrativa fria da ciência e vai-nos dando quadros de um quotidiano que nos
ajuda a compreender as emoções, os sentimentos e as posições de quem não se
verga e morre na fogueira, de quem não resiste à dor e é obrigado a renegar as
crenças do amanhã.
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