sábado, 1 de setembro de 2012

A Propósito dos currículos e da democracia



Retirado da internet
O jornal Público de ontem (Sexta, 31 de Agosto, XII) noticiava que a “Federação Nacional dos Médicos (FNAM) fez chegar à Troika um dossier detalhado sobre as polémicas nomeações dos novos directores executivos dos Agrupamentos dos Centros de Saúde”. No texto de Margarida Gomes diz-se que as escolhas recaem em pessoas “sem experiência e sem qualificação”. Ou seja, sem currículo.
Porque será que esta questão levanta tanta polémica? Porque logo a seguir ao 1% dos mais ricos, a classe que mais aufere são precisamente os directores executivos.
No mesmo texto, em caixa à parte, José Azevedo, o Presidente do Sindicato dos Enfermeiros (SE) sobre esta questão dos currículos profissionais, responde: “ não passam de uma molhada de papel que escondem a incompetência”. E mais adiante acrescenta: “Não nos deixamos influenciar por currículos (…) porque já somos defensores do currículo zero”. Para concluir: “Que adianta ter um currículo brilhante se depois não sabem fazer?”.
Na verdade, há muito que somos a favor de uma ideia aproximada à do “currículo zero”, por várias razões.
Teoricamente as virtudes da democracia são irrefutáveis. Contudo, as realidades sociais, por vezes (imensas), ficam muito aquém da promessa democrática. Os pobres e os excluídos são imensos. A maioria das vezes as eleições são uma sombra do que na realidade deveriam ser. Um terço dos votos do eleitorado, chegam para eleger um presidente. A candidatura a cargos políticos requer (muitas vezes) um grau escandaloso de riqueza. E a actividade politica abre-se a um reduzido número de cidadãos, com demasiada frequência aos que de entre eles são mais susceptíveis de corrupção. A própria educação de massas, sustentada no igualitarismo, pode reduzir-se a uma impostura.
Todavia, estes (e outros) males, no quadro do funcionamento democrático, havendo vontade política sustentada num grau elevado de ética, podem ser corrigidos e enfrentados. E livremente criticados.
Quando uma democracia é poderosa (como a Americana por exemplo), o perigo da igualdade de oportunidades não se põe. Porque a própria orgânica democrática está fundamentada nesse princípio. Mas numa democracia fraca (e ainda por cima mutilada desde 2005) como a portuguesa, é um caso sério. E aqui fazem sentido os argumentos de José Azevedo, pois os currículos numa democracia como a nossa, são apenas permitidos a alguns (O serviço público português é bem a prova disso). Numa democracia assim são sempre os mais poderosos (associados ao dinheiro), os associados a agremiações politicas, a seitas ideológicas, a certas famílias a usufruírem das oportunidades que deviam ser distribuídas por todos (ou, na impossibilidade momentânea, ao maior número possível). Em Portugal, nestes 35 anos de democracia, foram (e são) sempre os mesmos a usufruir das melhores oportunidades. Diremos mesmo de todas as oportunidades. Comentadores, colunistas, jornalistas, directores disto e daquilo, escritores, artistas, … são sempre os mesmos! Porque o carácter universal das leis (sobretudo a partir de 2005) foi adulterado, contribuindo para excluir os mesmos de sempre e promover os do costume.

Armando Palavras

 

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