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Porque
será que esta questão levanta tanta polémica? Porque logo a seguir ao 1% dos
mais ricos, a classe que mais aufere são precisamente os directores executivos.
No
mesmo texto, em caixa à parte, José Azevedo, o Presidente do Sindicato dos
Enfermeiros (SE) sobre esta questão dos currículos profissionais, responde: “
não passam de uma molhada de papel que escondem a incompetência”. E mais
adiante acrescenta: “Não nos deixamos influenciar por currículos (…) porque já
somos defensores do currículo zero”. Para concluir: “Que adianta ter um
currículo brilhante se depois não sabem fazer?”.
Na
verdade, há muito que somos a favor de uma ideia aproximada à do “currículo
zero”, por várias razões.
Teoricamente
as virtudes da democracia são irrefutáveis. Contudo, as realidades sociais, por
vezes (imensas), ficam muito aquém da promessa democrática. Os pobres e os
excluídos são imensos. A maioria das vezes as eleições são uma sombra do que na
realidade deveriam ser. Um terço dos votos do eleitorado, chegam para eleger um
presidente. A candidatura a cargos políticos requer (muitas vezes) um grau
escandaloso de riqueza. E a actividade politica abre-se a um reduzido número de
cidadãos, com demasiada frequência aos que de entre eles são mais susceptíveis
de corrupção. A própria educação de massas, sustentada no igualitarismo, pode
reduzir-se a uma impostura.
Todavia,
estes (e outros) males, no quadro do funcionamento democrático, havendo vontade
política sustentada num grau elevado de ética, podem ser corrigidos e
enfrentados. E livremente criticados.
Quando
uma democracia é poderosa (como a Americana por exemplo), o perigo da igualdade
de oportunidades não se põe. Porque a própria orgânica democrática está
fundamentada nesse princípio. Mas numa democracia fraca (e ainda por cima
mutilada desde 2005) como a portuguesa, é um caso sério. E aqui fazem sentido
os argumentos de José Azevedo, pois os currículos numa democracia como a nossa,
são apenas permitidos a alguns (O serviço público português é bem a prova
disso). Numa democracia assim são sempre os mais poderosos (associados ao
dinheiro), os associados a agremiações politicas, a seitas ideológicas, a certas
famílias a usufruírem das oportunidades que deviam ser distribuídas por todos
(ou, na impossibilidade momentânea, ao maior número possível). Em Portugal,
nestes 35 anos de democracia, foram (e são) sempre os mesmos a usufruir das
melhores oportunidades. Diremos mesmo de todas as oportunidades. Comentadores,
colunistas, jornalistas, directores disto e daquilo, escritores, artistas, …
são sempre os mesmos! Porque o carácter universal das leis (sobretudo a partir
de 2005) foi adulterado, contribuindo para excluir os mesmos de sempre e
promover os do costume.
Armando Palavras
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