segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A Propósito das palavras da Procuradora Cândida Almeida sobre corrupção


Procuradora Cândida Almeida

No passado sábado (1 de Setembro, XII), os microfones da TSF transmitiram durante quase todo o dia uma afirmação da Procuradora Cândida Almeida. Dizia que os políticos portugueses não eram corruptos, embora havendo, no país, casos de corrupção. E procurava justificar a afirmação dizendo que em Portugal se confundia corrupção com fuga ao fisco ou coisa parecida.
Das suas palavras respigamos: "O nosso país não é um país corrupto, os nossos políticos não são políticos corruptos, os nossos dirigentes não são dirigentes corruptos. Portugal não é um país corrupto. Existe corrupção obviamente, mas rejeito qualquer afirmação simplista e generalizada, de que o país está completamente alheado dos direitos, de um comportamento ético (...) de que é um país de corruptos". Depois de insistir várias vezes nesta ideia, a magistrada disse que, porém, não é essa a "percepção" da opinião pública, referindo que os relatórios da organização Transparência Internacional Portugal e os meios de comunicação social "arrasam-nos permanentemente" com a ideia de que o país "é corrupto". Sublinhou que, no caso da Transparência Internacional, os relatórios "reflectem tão só a percepção" que existe num país dois níveis de corrupção e que, no que toca aos meios de comunicação social e a declarações públicas nesse sentido, a maioria dos casos não têm fundamento ou referem-se a outros crimes, sendo o mais frequente a fraude fiscal. "Acontece que as pessoas, de uma maneira geral, sem saber exactamente o que estão a dizer, falam de corrupção num conceito sociológico, ético-político eventualmente, mas falam de coisas que não são corrupção, falam de coisas afins", disse, acrescentando que "a corrupção tem a ver com cidadãos ou funcionários que se vendem ou querem vender-se". E deu o exemplo do Operação Furação, que a opinião pública percepciona como estando relacionada com corrupção, quando, na realidade, está em causa fraude fiscal. A procuradora insistiu em que "a corrupção é residual", embora tenha de ser combatida para ser contida, sublinhando várias vezes que é e deve ser uma "preocupação" de todas as democracias, porque abala as suas estruturas e fundamentos.   
Bom, se se refere à actual governação, estamos de acordo. Vistas bem as coisas, nenhum dos actuais actores da governação está envolvido em “casos”. Exceptuando o dos submarinos que, presumimos, seja mais um caso de política do que de envolvimento do protagonista, sempre explorado em determinadas alturas.
Mas já não estamos de acordo se a unidade de tempo da drª Cândida Almeida abarca os 35 anos de democracia, ou mesmo os últimos 15. De 1997 para trás, os casos de corrupção são inúmeros, com presidentes de Câmara a serem julgados, outros já presos e com fugas para o estrangeiro de certos protagonistas. Da actualidade basta citar os casos mais mediáticos: Freeport, Secretas, Contas da Suíça, Cardinal, BPN, BPP, Face Oculta, Bragaparques e um caso que envolve um clube e um jogador.
A Procuradora lá saberá, judicialmente, os contornos adequados para que um “caso” seja considerado corrupto, mas para o cidadão comum, o que fica é que a justiça os não consegue provar e só por isso os elimina dessa lista.
Nesse mesmo Sábado, neste mesmo espaço, em artigo sobre os currículos escrevemos uma dúzia de linhas sobre a democracia enquanto sistema político. Não nos referíamos exclusivamente a Portugal. Mas o que escrevemos reafirmamo-lo, mesmo depois das palavras da Procuradora:

“Teoricamente as virtudes da democracia são irrefutáveis. Contudo, as realidades sociais, por vezes (imensas), ficam muito aquém da promessa democrática. Os pobres e os excluídos são imensos. A maioria das vezes as eleições são uma sombra do que na realidade deveriam ser. Um terço dos votos do eleitorado, chegam para eleger um presidente. A candidatura a cargos políticos requer (muitas vezes) um grau escandaloso de riqueza. E a actividade politica abre-se a um reduzido número de cidadãos, com demasiada frequência aos que de entre eles são mais susceptíveis de corrupção. A própria educação de massas, sustentada no igualitarismo, pode reduzir-se a uma impostura.
Todavia, estes (e outros) males, no quadro do funcionamento democrático, havendo vontade política sustentada num grau elevado de ética, podem ser corrigidos e enfrentados. E livremente criticados”.

Armando Palavras

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