terça-feira, 14 de agosto de 2012

A Tela

 José Manuel Verissímo (Faragata)


A  Tela

De frente para um quadro negro, como este do meu país,
Combato o desassossego, rabisco traços com um giz.

Circundo uma lua cheia, dou largas à fantasia
E o seu luar prateado, à noite dá aspeto de dia.

Desenho uma janela, aberta para um céu estrelado,
Donde uma luz amarela, dá conta deste meu estado.

Ondeio um mar espelhado, que reflete o firmamento,
No fundo o volume de um fardo, com séculos de sonhos e alento.

Ao longe uns mastros de velas, sem vento, na calmaria,
Como os cotos de umas velas, cegos, aguardam o dia.

Sustentam-nos caravelas, que já dobraram tormenta.
Que é feito dos capitães delas, para o leme sem rota certa?

A tela é um mar infinito, virgem e desconhecido,
Aberta a novas rotas e a novos portos de abrigo.


                              
                              
                      J. F.


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