Bióloga
da Universidade de Aveiro descobre comunidade de invertebrados a uma
profundidade nunca vista
A comunidade de invertebrados subterrâneos
mais profunda do mundo foi descoberta pela bióloga Sofia Reboleira, da
Universidade de Aveiro (UA), a 2140 metros de profundidade, numa gruta
localizada no Cáucaso ocidental. Composta por mais de 12 espécies de
artrópodes, a maioria das quais desconhecidas até agora, a descoberta da
comunidade a mais de 2000
metros de profundidade, «em zonas onde a escassez de
alimentos faria supor que a vida fosse inexistente ou pontual, pressupõe uma
novidade surpreendente para a ciência», aponta a investigadora. Do grupo de
animais descoberto por Sofia Reboleira fazem parte ácaros, aracnídeos,
crustáceos e insetos.
A Gruta Krubera-Vorónia, onde decorreram os
trabalhos de pesquisa da Bióloga da UA, está localizada perto do mar Negro, na
Abkházia, é a única cavidade natural do planeta que ultrapassa os 2 quilómetros de
profundidade e «tem temperaturas muitos baixas que vão desde os 0,5ºC a 5ºC,
onde o risco de hipotermia é permanente».
O achado ocorreu durante os trabalhos
bioespeleológicos de Ana Sofia Reboleira e Alberto Sendra, do Museu Valenciano
de História Natural, na expedição espeleológica Ibero-Russa do CAVEX Team, no
verão de 2010. Entre as 12 espécies encontradas nas profundezas da cavidade há
um pseudoescorpião, um escaravelho, uma aranha, dois crustáceos e outras três
espécies.
A gruta é predominantemente vertical, na
qual se devolvem poços com lanços de mais de 150 metros e cascadas de
água gelada, intercalados com meandros de difícil progressão. A tarefa requer
cerca de 30 espeleólogos a trabalhar de forma coordenada, durante cerca de 30
dias.
Já no início de 2012, resultado também
dessa expedição, Sofia Reboleira tinha mostrado ao mundo quatro novas espécies
de colêmbolos, insetos primitivos sem asas e sem olhos, adaptados à vida
subterrânea.
A bióloga e espeleóloga, Sofia Reboleira
tem também no currículo a descoberta de novas espécies em grutas portuguesas
(quatro escaravelhos, três do género Trechus e um Domene; um Dipluro Litocampa
mendesi e um pseudoescorpião cavernícola gigante Titanobochica magna) e o maior
inseto subterrâneo terrestre da Europa, o Squamatinia Algharbica, foi
descoberto nas grutas do Algarve.
Projeto decorre em quatro lares para pessoas idosas do Distrito de Aveiro
UA ensina estratégias inovadoras para minimizar
sintomas da demência
É, provavelmente, a síndrome
que mais exige, física e emocionalmente, de quem cuida de pessoas por ela
afetadas. Dá pelo nome de demência, degenera progressivamente as capacidades
intelectuais e afeta cerca de 153 mil portugueses. E o número não pára de
aumentar. Para melhorar a qualidade de vida dos doentes institucionalizados
afetados pela síndrome, a Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro
(ESSUA) está em quatro lares para pessoas idosas do distrito de Aveiro a
ensinar estratégias de estimulação multissensorial e motora a quem deles cuida.
As ações da ESSUA abrangem
cerca de 60 auxiliares dessas instituições, todas mulheres, que têm a cargo o
dia a dia dos cuidados diretos aos doentes. A estimulação multissensorial e
motora são formas de intervenção não farmacológica e inovadoras em Portugal (e
um pouco por todo o mundo), que permitem retardar a progressão dos sintomas da
demência.
«A investigação na área
diz-nos que as intervenções não farmacológicas têm um espaço de intervenção
muito produtivo junto desses doentes», aponta a Prof. Doutora Alda Marques,
investigadora na ESSUA. A coordenadora do projeto quer, por isso, ver «a
estimulação multissensorial e motora, ao contrário do que hoje acontece no
país, mais implementada na rotina destes utentes».
Sintomas muito desequilibrantes
A agitação, a agressividade,
a deambulação e a desinibição sexual são características das fases mais
avançadas da síndrome que tornam cada vez mais difícil a comunicação e a
interação entre doentes e cuidadoras. O método que a ESSUA está a ensinar
«retarda o avanço dos sintomas» através de estratégias simples que facilmente
podem ser aplicadas nas atividades diárias dos doentes. Assim, é possível
aplicar estimulação motora durante as atividades, por exemplo, nos cuidados de
higiene, nas refeições, no vestir ou no deitar de forma a promover nos doentes
o movimento, o equilíbrio, o evitamento de quedas e o desempenho de tarefas.
Nas mesmas atividades a
ESSUA ensina também a proporcionar aos doentes experiências sensoriais
agradáveis. Os resultados são muito positivos e saldam-se na melhoria da
comunicação (verbal e não-verbal), envolvimento (solicitado e voluntário) do
doente com o meio que o rodeia, relaxamento e diminuição de comportamentos
desafiantes.
Diminuir a tensão das cuidadoras
Ajudar as próprias
auxiliares a cuidarem delas próprias é também o objetivo da ação da ESSUA.
Sensação de incapacidade, tensão, stress ocupacional, sobrecarga física e risco
de exaustão, devido a «um trabalho difícil que é o se interagir com pessoas com
demência que manifestam delírios, deambulação, agitação e, por vezes,
agressividade», acompanham diariamente estas profissionais. Por isso, «a pensar
no equilíbrio emocional dessas trabalhadoras, o projeto pretende também
dotá-las de estratégias que lhes permita lidar melhor com elas próprias, com os
doentes, com o grupo de trabalho e com a própria instituição empregadora»,
acrescenta a investigadora Alda Marques.
As ações de formação
decorrem em oito sessões psicoeducativas, uma por semana, e são ministradas por
um gerontólogo e um fisioterapeuta, ambos bolseiros de investigação do projeto
da ESSUA. Nos três dias que se seguem à sessão, os investigadores acompanham as
auxiliares para as ajudarem, junto dos residentes dos lares, a colocarem em
prática as estratégias.
O projeto, que conta também
com a participação das investigadoras Liliana Sousa e Daniela Figueiredo,
termina em julho de 2012, mas os trabalhos vão continuar através de uma bolsa
de investigação já atribuída pela FCT com o objetivo de alargar o número de
instituições e pessoas abrangidas.
De "Jornal do Norte" para "Tempo Caminhado"
Sem comentários:
Enviar um comentário