sábado, 14 de julho de 2012

VILA REAL - Noite de memórias de Céu e Inferno na Biblioteca Municipal


 Ontem, na cidade de Vila Real, foi lançado o livro de António Passos Coelho (Memórias de Céu e Inferno), na biblioteca municipal, por iniciativa do Grémio literário.
Estiveram presentes o autor, o editor, o Presidente da Câmara Municipal, o escritor Pires Cabral e Armando Palavras, que apresentou o livro.
É de realçar que Armando Palavras, perante uma assistência culta,  comparou a obra de Passos Coelho, a autores universais, destacando aspectos particulares destas "memórias" -  Zola, Borges, Tolstoi, entre outros.

Da comunicação retiram-se as seguintes passagens:
Em Passos Coelho, o vocabulário e a gramática soam como notas musicais.




Mesmo o calão utilizado, principalmente nos diálogos cujo assunto passa pelo feminino é oportuno, fazendo sorrir o leitor” (…).
“As descrições dos personagens, sempre expostos de forma graciosa, são breves e originais, tratadas de relance, após uma breve apresentação das mesmas, no início dos capítulos”.
“A escrita melancólica do autor que entristece o leitor, criando-lhe até alguma angústia e vazio quando faz o retrato real da pobreza, da doença, do abandono, do desprezo, e outros infortúnios dos seus personagens, torna-se viva, cheia de força, à semelhança da de Mark Twain, em Huckleberry Finn, quando impregnada do cómico” (…)
“Como os grandes escritores, o autor destas “memórias” tem uma escrita límpida e é um conhecedor da natureza da alma humana” (…)
Auscultou de perto, como homem e como médico, a pobreza humana tão bem tratada em toda a sua obra, num realismo desconcertante como só os grandes o fizeram (…).
“António Passos Coelho é duro quando trata de temas pertinentes como o aborto (Zélia), tornando-se moderado quando critica o regime predominante no tempo da acção. Moderado, mas incisivo” (…).
“À semelhança de Hermann Broch, existe em A.Passos Coelho um padrão ético” (…).
“O escritor que também é médico, não deixou de abordar pormenores da profissão como o sonho” (…).
“Na verdade, António Passos Coelho, seguindo o pensamento de Benjamin, é um dos últimos narradores. Porque acumulou experiência, e é ela a fonte onde todos os narradores vão beber” (…).
“Mas além de grande narrador, o autor destas “memórias é também o romancista; do indivíduo na sua solidão” (…).
Porém, a obra de António Passos Coelho é grande, sobretudo porque estão aqui reunidos os pilares tradicionais da cultura europeia: a cultura Judaico-Cristã e a Greco-Romana” (…).
“Ao contrário de Stendhal, que descreve a batalha de Waterloo, em Cartuxa de Parma, com os olhos de Fabrício (Del Dongo), que está dentro dela e não compreende o que se está a passar, Victor Hugo, n’Os Miseráveis, descreve-a com os olhos de Deus. Vê-a do alto (…)
´´É isto que nos dizem todas as grandes histórias, quando muito substituindo Deus pelo destino, ou pelas leis inexoráveis da vida”  (Umberto Eco).
“É, pois, isto que nos dizem estas “memórias”; o seu autor apenas substituiu Deus pelo destino, e do alto observamos o pequeno Silvestre a ser enredado pelo destino a que não foge; aceita-o com bondade e segue o caminho sem se desviar. Sem revolta. Aceita os tios e os primos, a família de Lamego, a de Chaves, o amor e a morte de Céu.
Imaginemos que o pequeno Silvestre concretizava a ideia que lhe viera à cabeça, em Lamego: fugir para junto dos tios. Ou se aceitasse a proposta da senhora da Quinta da Formiga de Tabuaço, D. Laurinda, com quem estabelece diálogo na viagem para Chaves.
Fintava o destino, mas a história seria outra”.

 Texto e fotografia de
Fernando Guimarães



In: Noticias de Vila Real - Texto de Ribeiro Aires

 

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