Ontem, na cidade de Vila Real, foi lançado o livro de António Passos Coelho (Memórias de Céu e Inferno), na biblioteca municipal, por iniciativa do Grémio literário.
Estiveram presentes o autor, o editor, o Presidente da Câmara Municipal, o escritor Pires Cabral e Armando Palavras, que apresentou o livro.
É de realçar que Armando Palavras, perante uma assistência culta, comparou a obra de Passos Coelho, a autores universais, destacando aspectos particulares destas "memórias" - Zola, Borges, Tolstoi, entre outros.
Da comunicação retiram-se as seguintes passagens:
“Em Passos Coelho , o
vocabulário e a gramática soam como notas musicais.
Da comunicação retiram-se as seguintes passagens:
“
Mesmo
o calão utilizado, principalmente nos diálogos cujo assunto passa pelo feminino
é oportuno, fazendo sorrir o leitor” (…).
“As
descrições dos personagens, sempre expostos de forma graciosa, são breves e
originais, tratadas de relance, após uma breve apresentação das mesmas, no início
dos capítulos”.
“A
escrita melancólica do autor que entristece o leitor, criando-lhe até alguma
angústia e vazio quando faz o retrato real da pobreza, da doença, do abandono,
do desprezo, e outros infortúnios dos seus personagens, torna-se viva, cheia de
força, à semelhança da de Mark Twain, em Huckleberry Finn , quando impregnada do cómico”
(…)
“Como
os grandes escritores, o autor destas “memórias” tem uma escrita límpida e é um
conhecedor da natureza da alma humana” (…)
Auscultou
de perto, como homem e como médico, a pobreza humana tão bem tratada em toda a
sua obra, num realismo desconcertante como só os grandes o fizeram (…).
“António
Passos Coelho é duro quando trata de temas pertinentes como o aborto (Zélia),
tornando-se moderado quando critica o regime predominante no tempo da acção.
Moderado, mas incisivo” (…).
“À
semelhança de Hermann Broch, existe em A.Passos Coelho um
padrão ético” (…).
“Na
verdade, António Passos Coelho, seguindo o pensamento de Benjamin, é um dos
últimos narradores. Porque acumulou experiência, e é ela a fonte onde todos os
narradores vão beber” (…).
“Mas
além de grande narrador, o autor destas “memórias é também o romancista; do indivíduo
na sua solidão” (…).
Porém,
a obra de António Passos Coelho é grande, sobretudo porque estão aqui reunidos
os pilares tradicionais da cultura europeia: a cultura Judaico-Cristã e a Greco-Romana”
(…).
“Ao
contrário de Stendhal, que descreve a batalha de Waterloo, em Cartuxa de Parma, com os olhos de
Fabrício (Del Dongo), que está dentro dela e não compreende o que se está a
passar, Victor Hugo, n’Os Miseráveis,
descreve-a com os olhos de Deus. Vê-a do alto (…)
´´É
isto que nos dizem todas as grandes histórias, quando muito substituindo Deus pelo destino, ou pelas leis inexoráveis da vida” (Umberto Eco).
“É,
pois, isto que nos dizem estas “memórias”; o seu autor apenas substituiu Deus
pelo destino, e do alto observamos o pequeno Silvestre a ser enredado pelo
destino a que não foge; aceita-o com bondade e segue o caminho sem se desviar.
Sem revolta. Aceita os tios e os primos, a família de Lamego, a de Chaves, o
amor e a morte de Céu.
Imaginemos
que o pequeno Silvestre concretizava a ideia que lhe viera à cabeça, em Lamego:
fugir para junto dos tios. Ou se aceitasse a proposta da senhora da Quinta da
Formiga de Tabuaço, D. Laurinda, com quem estabelece diálogo na viagem para
Chaves.
Fintava
o destino, mas a história seria outra”.
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