Estas
novas organizações de uma economia global e digital, porque improvisam criativa
e intencionalmente, são capazes de dar respostas aos desafios da mudança rápida
e paradoxal, da turbulência contínua, das solicitações inesperadas, da
descontinuidade continuada e da hiper-complexidade crescente. A improvisação
intencional e criativa, como sucede na Orquestra de Jazz, torna-se assim a
competência nuclear de um líder organizacional: induzir as organizações a fazer
convergir no tempo a concepção/composição e a execução (Stacey, 1996; Brow
Eisenhardt, 1997; Nonaka, Ikujiro et al (1995).
Os líderes globais são inclusivos, valorizam a
diversidade, o trabalho e o jogo de equipas multiculturais, a interdependência,
confiam mais no processo que na estrutura e as suas mentes globais fluem com a
mudança que eles próprios não param de influenciar, antecipando-a. São
continuamente os construtores de um «Capital de Esperança, de Confiança e de
Inovação» que não para de crescer.
4.
O Imperativo da Inovação e da Competição Global
Em
África, todas as manhãs, uma gazela acorda.
Sabe
que tem de correr mais depressa que o leão, ou será morta.
Em
África, todas as manhãs, um leão acorda
Sabe
que tem de correr mais depressa que a gazela, ou morrerá de fome.
Não
interessa se és leão ou gazela.
Quando
o Sol nascer, tens de correr mais depressa...se queres continuar vivo.
Este
provérbio africano, gravado por um gestor chinês, formado nos EUA, no chão da
sua fábrica, transporta-nos agora para os dois maiores competidores mundiais e
seu impacto na inovação empresarial:
Foto :NICK BRANDT |
• A CHINA, transformada na fábrica do
mundo (mas não só) e base para «Offshoring» (também designado de «Outsourcing
global» ou «Outsourcing Offshore»), uma nova estratégia das empresas dos países
desenvolvidos para se manterem competitivas, numa economia sem fronteiras, num
mundo plano (Thomas Friedman, 2005), através de preços mais baixos, a todos os
níveis da cadeia de valor: subcontratação da produção de bens e serviços,
logística, assistência ao cliente, deseign de engenharia, logística, gestão de
instalações, pesquisa legal e financeira, gestão de processos de negócios, etc.
Esta estratégia permite ainda às empresas, face à diferença horária, um
funcionamento durante 24 horas/dia, o que as torna verdadeiramente globais,
competitivas e ágeis;
• A ÍNDIA (com os seus famosos Indian
Institute of Technology, os Indian Institute of
Managment, as suas Escolas Médicas e outras Escolas de Educação e
Investigação de excelência e de
fronteira), transformada na fábrica mundial de engenheiros criadores de
software, cada vez mais sofisticado e com maior valor acrescentado, atraindo
hoje mais de metade das empresas, das 500 da Revista Fortune, as quais têm, em
2010, na Índia, Centros de Investigação & Desenvolvimento e Centros de Deseign,
através de uma Estratégia de Outsourcing.
O
Offshoring e o Outsourcing permitem, hoje, às empresas optar por quatro modelos
de negócio, baptizadas de gazela, elefante, formiga e raposa, de acordo com
duas variáveis críticas: 1) facilidade de deslocalização; 2) Intensidade do
conhecimento/valor acrescentado.
Assim:
• Modelo Gazela. Aplica-se a actividades
de projecto de alto valor acrescentado, grande facilidade de deslocalização e,
ainda, facilidade de trabalho com reduzida monitorização: TI em geral, produção
de componentes de TI, desenvolvimento de Software, análises de pesquisa para
empresas financeiras ou de contabilidade, pesquisa farmacêutica para empresas
de biotecnologia, análise de risco, engenharia industrial, etc.
• Modelo Elefante. Corresponde a
actividades de intensidade de conhecimento difíceis de serem trabalhadas em
Offshoring, a nível global: gestão de topo, medicina, consultoria de topo,
I&D de ponta, educação (...), embora o I&D apresente níveis crescentes
de outsoursing e o elearning permita a aprendizagem a distância. Ou seja, o
modelo elefante tende rapidamente a transformar-se em gazela, na e à medida que
os novos países receptores crescem em capacidade de inovação, investigação e
gestão, como tem vindo a acontecer a grande velocidade.
• Modelo Raposa. Aplica-se a
produtos/serviços com elevados níveis de facilidade de deslocalização e baixo
nível de intensidade de conhecimento: Call Centers, operações de back office,
introdução de dados, programação, transcrição, Web deseign, análise de
investigação de menor nível de exigência, etc. A China, Índia, Brasil,
Filipinas, Rússia, países de Leste e de muitos países asiáticos, entre muito
outros, são países com fortes actividades com estas características. Outros
países certamente seguirão o seu exemplo.
• Modelo Formiga. São actividades de baixa
intensidade de conhecimento e baixa facilidade de deslocalização, ou, se
preferirmos actividades de trabalho intensivo e baixo salário, as quais têm de
ser realizadas no local: restauração, supermercados, comércio local, actividade
agrícola, indústria de construção, serviços ao domicílio. É o «trabalho de
proximidade», como lhe chamou Robert Reich (1996), no livro «A Riqueza das
Nações».
5.
Empresas Globalmente Integradas e Escuta Activa Global
Grandes
inovações surgem quando a organização veste a pele do cliente (e mesmo dos
novos clientes), está conectada e em exercício de «escuta activa global» (Gary
Hamel, 2005), na perspectiva de construir empresas integradas globalmente.
Em
especial, no que respeita à Inovação Organizacional, importa estar atento às
ortodoxias, aos dogmas, às continuidades, ao «sempre foi assim e tem corrido
bem», ou seja, aos hábitos organizacionais, cuja justificação seja apenas a sua
pré-existência e a habituação dos trabalhadores.
Neste
domínio, um bom exercício consiste em classificar as diferentes práticas
organizacionais, numa escala de um a cinco, em que um significa que tal prática
apenas perpetua o «status quo», enquanto a nota cinco corresponde a uma prática
que surpreende positivamente clientes e concorrentes.
A
inovação é o único seguro num mundo em mudança acelerada, mas a estrutura
organizacional pode ser, e é frequentes vezes, um enorme bloqueio à inovação
de: novos produtos/serviços, novos materiais, novo método de produção, abertura
de um novo mercado, novas fontes de fornecimento de bens e serviços, melhor e
mais rápida satisfação do cliente, etc. Por isso, e também em relação ao modelo
e à estrutura organizacional adoptados, há questões sobre as quais os líderes, a todos os níveis e dimensões da
empresa, exercem uma escuta activa e globalmente orientada, também designada de
«Escuta 360º global»:
• Estamos a escutar os nossos clientes,
fornecedores e concorrentes, de referência global?
• Estamos a identificar e mobilizar novos
clientes?
• Estamos conectados emocionalmente a
clientes, fornecedores, concorrentes e colaboradores?
• A nossa «orientação mental para o
global» mantém-nos multiculturalmente activos?
• Estamos a lidar bem com a complexidade,
a ambiguidade, a incerteza e o paradoxo?
• A nossa estrutura organizacional não é
excessivamente pesada, centralizada, complicada e cara? Já apresenta
semelhanças ao funcionamento de uma Orquestra de Jazz?
• Estamos a identificar novos clientes,
mercados, tendências, novos materiais e novos talentos, através de uma visão
periférica e de uma estratégia de oceano azul e metanacional, aprendendo com o
mundo e libertando-nos do contexto e da geografia?
Bons
exemplos não faltam, mas faltará sempre reinventarmo-nos e reinventar a nossa
organização. Continuadamente, porque o risco de não mudar é sempre maior do que
o risco de mudar.
Em
2005, três médias empresas portuguesas – Renova, Logoplaste e Iberomoldes –
foram finalistas, na categoria Inovação, no Prémio «Best of European Business».
Interessante é constatar que estas empresas dispõem de estruturas
organizacionais não estáticas que são não apenas um suporte das suas inovações,
mas constituem, em si mesmas, uma inovação organizacional. Nesta perspectiva, o
caso da Logoplaste é paradigmático, pois concebeu um novo modelo de
organização, que é também um modelo de parceria estratégica organizacional com
os respectivos clientes.
De
facto, a Logoplaste desenvolveu um modelo de «outsourcing integrado», altamente
especializado e inovador, situando as suas fábricas de embalagens nas próprias
instalações do cliente. É o que podemos designar por modelo «in house», em que
a Logoplaste, mais que um conceptor, produtor e fornecedor de embalagens se
transforma numa empresa de serviços «à medida de cada cliente», em qualquer
parte do mundo, sendo já o quinto maior player mundial nesta actividade,
trabalhando com a Danone, Nestlé, Unilever, Procer & Gamble, entre muitas
outras multinacionais, espalhadas por vários continentes.
Para
a Logoplaste e muitas outras empresas vencedoras «the sky is the limit», porque
alimentam e mantêm vivo o radar da inovação, incluindo o Radar da Inovação
Organizacional, na perspectiva da construção de «Empresas Globalmente
Integradas» (R. Burt, 1992).
Mas,
anualmente, a COTEC, a AICEP e o IAPMEI premeiam e publicitam empresas
portuguesas que bem poderemos designar de Empresas/Gazela, face às suas
características de intensidade de conhecimento e facilidade de deslocalização
(ver quadro anterior). São algumas centenas de empresas, entre PMEs inovadoras,
internacionalizadas, de excelência, mas todas resilientes e vencedoras. Visitar
os sites respectivos e deslumbrarmo-nos e aprendermos com muitas destas
empresas é um exercício de sanidade mental, neste período de crise de Portugal,
da Europa e do Ocidente e a «Ascensão dos Demais», na expressão de Fared
Zakaria (O Mundo Pós-Americano, 2008, Gradiva).Referirei apenas algumas para
memória actual e futura e desafio ao seu estudo: Bial, Critical Softwere,
Alert, Ydreams, Renova, Frulact, Alfama, Outsystems, WeDoTechnologie Nelo
Kasyacs, MobiComp, Martifer, Visabeira, Queijo Saloio, Celbete, TIMW.E., Vila
Galé, Primavera, Efacec, Malo Clinic, Banco Slimentar, NFive, BA Vidro, A Vida
é Bela, Hovione, Delta, Sonae, Novabase, Grupo Pestana, Logoplaste, Brisa Space
Services, PT Inovação, Via Verde, Vulcano, Iberomoldes, TMN, SIBS, Hera,
Vitrocristal, entre muitas outras: líderes mundiais em alguns casos, empresas
do conhecimento e sem medo de um futuro global, incerto e super-competitivo, em
todos os casos.
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Lisboa,
2011-05-18
Maria
Márcia de Almeida Trigo
in: Trás-os-Montes e Alto Douro, Mosaico de Ciência e Cultura (2011)
Maria Márcia de Almeida Trigo
1.Situação
Actual
• Coordenadora Científica e Docente do MBA
Executivo, na Business School da UAL/Universidade Autónoma de Lisboa;
• Professora de: «Inteligência Económica
& Liderança», «Estratégia, Competitividade & Inovação» e «Comunicação
Organizacional» na Universidade Autónoma de Lisboa/UAL;
2.Formação
Académica:
• Curso Superior de Ciências Pedagógicas
(1968);
• Licenciatura em História, Faculdade de
Letras da ULisboa (1980);
• Pós-Graduação, em «New Méthodes for Vocational Education,
Research and Evaluation» in The Ohio States University/EUA (1981);
• Mestrado em Gestão do Desenvolvimento e
Cooperação Internacional, ISEG (1999)
• Doutoranda em «Inovação e Competição
Global» na Universidade Autónoma de Madrid (2010/2012).
3.Actividade
Profissional
• 2002/2006 – Presidente e Fundadora da
Escola de Gestão & Negócios, a Business School da UAL;
• 2000/2002 – Presidente da Comissão de
Administração da ANEFA/Agência Nacional de Educação e Formação de Adultos
(actual Agência Nacional para as Qualificações/ANQ);
• 1990/2000 – Presidente da Comissão
Interministerial do Programa de Educação Para Todos 2000;
• 1986/1990 - Directora Geral da COPRAI – Centro de Competência Técnica,
nos domínios da Formação e da Consultoria em Gestão de Recursos Humanos,
Tecnologia, Gestão Estratégica e Cooperação Internacional, da Associação
Industrial Portuguesa (AIP);
• 1983/1986 - Directora Nacional dos
Serviços de Formação Profissional do Instituto do Emprego e Formação
Profissional/IEFP.
• 1984/1985 - Presidente da Comissão
Nacional de Aprendizagem/CNA, ou Formação em Alternância, no quadro do IEFP;
• 1984/2011 - Consultora e Conferencista
nacional e internacional, designadamente do Banco Mundial, Comissão Europeia e
OCDE;
• 1970/2011 - Autora de livros e artigos
científicos e de divulgação científica, publicados: i) Cadernos Sociedade e
Trabalho, Nº 4/99, Nº 10/2000 e Nº 16/2002 e outros; ii) Educação e Formação de
Adultos, Factor de Desenvolvimento, Inovação e Competitividade (2002), Editora
Ad´Litteram; iii) Revista Cidade Solidária, nº 9/2002; iv) Cadernos de
Economia/Ordem dos Economistas Nº71/2005 e outros; v) CNE/Conselho Nacional de
Educação - Estudos e Relatórios (2007); vi) Expresso Digital (2008/2010); vii)
Revista mensal PRÉMIO (vários Números, 2005); viii) Revistas RHMagazine,
PESSOAL e HUMAN (vários números); ix) Revista DIRIGIR/IEFP, vários números; x)
QUE FORMAÇÃO PARA O XÉCULO XXI - 20 Anos da Revista Formar/IEFP (2010); xi)
ANUÁRIO da UAL, vários Números.
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