sexta-feira, 25 de novembro de 2011

MÉXICO - A laje de Palenque

                                     
 
Jean-Frédéric Maximilien de Waldec nasceu em Viena, em 1766. Foi um personagem excepcional. Entre outros desempenhos, foi soldado do exército de Napoleão, corsário de Surcouf, tendo ainda participado na guerra de libertação do Chile. Viveu 109 anos e com setenta anos escreveu a relação da sua Voyage archèologique et pitoresque dans le Yucatan. Este volume, o primeiro a fazer uma descrição respeitável pela cultura Maia, realça em primeira-mão a importância de Palenque. Só em 1945 o Instituto Nacional de Antropologia e História do México confiou o dossier de Palenque ao arqueólogo Alberto Ruz Lhuillier.

Templo das Inscrições

Palenque fica situada no Estado mexicano de Chiapas. 130 Km de planície separam Palenque do Golfo do México. A cidade em ruínas, abrigada pela floresta equatorial constituída por árvores com mais de 40 metros de altura, estende-se por mais de oito quilómetros, tendo sido construída sobre terraços naturais apoiados nos contrafortes rochosos da cordilheira dos Chiapas. Palenque pertenceu a uma civilização muito desenvolvida nos aspectos social, técnico e religioso. O que chama a atenção dos visitantes é, contudo, O Templo das Inscrições, alcandorado numa abrupta pirâmide, constituído por uma rica fachada, sustentada por pilares ricamente ornados, a ladearem cinco portas.

Laje que cobre o sarcófago

Em 1949, Alberto Ruz Lhuillier iniciou os trabalhos de escavação, que duraram até 1952[1]. A 5 de Junho desse ano, o arqueólogo decide forçar a passagem que estava a ser entorpecida por um enorme monólito. E diante dele e dos homens que o acompanhavam surge uma cripta esplêndida. Que escondia um túmulo de um alto dignitário da aristocracia Maia. Estava coberto por uma laje[2] de seis metros quadrados, com cinco toneladas.

Porém, o desenho que se estende por toda a laje levantou numerosas especulações desde o início da sua descoberta, a respeito da origem do corpo inumado que protegia. Alto dignitário do Antigo Império? Príncipe ou grande sacerdote? Na verdade, as suas características afastam-se das dos Maias, a começar pela sua envergadura: 1.73 m.
Daí às especulações obscuras foi um passo. Maurice M. Cotterell, n’Os Superdeuses desenvolve uma teoria interessante. A laje de Palenque seria um Transformador Maia. Um desenho simples que se transforma em muitas gravuras quando descodificado.

Desenho da laje na vertical

As lendas índias mencionam um deus iniciador vindo do Oriente, num barco em forma de serpente. Este deus era branco e barbado. Em 1962 surge um livro[3] de Pierre Honoré onde desenvolve a tese de que em 1700 A.C. a civilização Maia teria sido fundada por Cretenses. Marcel Homet defendeu, em seguida, que seria um Viking, pois o mito do deus branco seria pré-histórico, remontando ao Wotan hiperbóreo.
Seria então este homem um descendente desse deus branco? As especulações atingiram outro nível. E Guy Tarade e André Millou (citados por Robert Charroux[4]), observando a lage na horizontal, nela vislumbram um “piloto” a conduzir uma máquina. Os amantes da ovnilogia terão aqui assunto quanto baste.

A nós interessa-nos o olhar do historiador de arte. Ao que se sabe hoje, o túmulo pertencia ao mais famoso rei de Palenque, Hanab Pacal II, que reinou entre 615 e 683 d.C. As paredes do sarcófago monolítico, estavam decoradas com dez plantas, acompanhadas de glifos referentes aos componentes da família real. Aí estão incrustados os nomes do pai, da mãe e da avó do rei. O rei estava adornado por uma máscara fúnebre de jade, colares, brincos, etc. Sob o sarcófago estavam depositados belos retratos modelados em estuque. Um dos quais representava o próprio rei, o outro uma das esposas.

Desenho da laje na horizontal

O sarcófago encontrava-se coberto por uma grande laje de pedra rectangular, toda esculpida. Nos lados encontravam-se inscrições de datas importantes. Na parte superior estava representado o rei, apoiado numa grande caveira, símbolo do mundo dos mortos. Do ventre nasce uma planta em forma de cruz, na qual se enrola uma serpente bicéfala. Das suas mandíbulas nascem deuses protectores. No cimo da planta, um pássaro mitológico[5] representa o mundo celeste. Esta imagem parece simbolizar um dos momentos do percurso do rei falecido rumo ao reino dos mortos. Na verdade, o rei afunda-se nas mandíbulas do monstro terrestre (o mundo dos mortos) e nasce como o jovem deus do milho (a planta que nasce do seu corpo), para passar a fazer parte do grupo dos seus antepassados divinizados.
Estão ainda representados símbolos astrológicos como o Sol, a Lua, Vénus e algumas constelações e algumas figuras humanas, provavelmente importantes funcionários da corte real.
Aguardemos, porém, outras interpretações que possam surgir.
Armando Palavras


Alguma bibliografia:

A Grande História da Arte, Coord. Paulo Pereira, ed. Público, vol 23 (Arte dos Maias), Porto, 2006
CHARROUX, Robert,  O Livro dos Senhores do Mundo, Bertrand, 1999.
COTTERELL, Maurice M., Os Superdeuses, Vega, Lisboa, 2005
National Geographic, mysteries of the maya, the rise, glory and collapse of an ancient civilization, collector’s edition, Printed in USA, 2008
Os Grandes Enigmas da Arqueologia (Crónica de Civilizações Desaparecidas), ed. coord. Patrick Ferryn e Ivan Verheidn, ed. 70, Lisboa, 1981
Os Grandes Mistérios da Arqueologia – Palenque, o Mistério do rei Maia, Vol 6, Scala/Público, 2007.


[1] A descrição deste árduo trabalho existe em numerosos trabalhos publicados.
[2] A laje foi levantada a 27 de Novembro desse ano.
[3] L’énigme du dieu blanc précolombien (ed. Plon).
[4] O Livro dos Senhores do Mundo, Bertrand, 1999.
[5] Que alguns comentadores identificam com o Quetzal, pássaro sagrado para os Maias.

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