quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Oxirrinco - obras que renascem das cinzas da valiosa lixeira



Bernard Grenfell
Arthur Hunt
Obras do mundo antigo, autênticas preciosidades do património cultural que se haviam perdido, estão a ser presentemente recuperadas, graças à descoberta milagrosa de um antigo depósito de lixo em Oxirinco[1], antiga localidade a cerca de 160 km a sudoeste do Cairo, num canal alimentado pelo Nilo. 

A importância desta localidade aumentou a partir do momento que Alexandre Magno conquistou o Egipto no século IV A.C. Tendo sido governada, primeiro pelos Gregos, e depois pelos Romanos, foi definitivamente abandonada no século III D.C.


Papiro da lixeira de Oxirrinco


Durante o período em que foi habitada, os seus habitantes transportavam o lixo para uma série de lixeiras entre dunas, no exterior das muralhas da cidade. No meio do entulho, além dos detritos domésticos, havia numerosos documentos escritos.  Desde disposições administrativas a papiros relativos a assuntos militares, religiosos e políticos.
Em busca dos velhos papiros

O papiro doméstico era então usado para vários fins. De um lado podia ter contas domésticas e do outro transcrições dos grandes poetas, feitas por um jovem intelectual, o que o tornava um documento valioso.
Ao ser abandonada a localidade, o sistema de canais secou. Deste modo, o deslocamento de areias do deserto, associado a um milhar de Verões egípcios praticamente sem chuva, conjugaram-se na perfeição para enterrar e preservar esses papiros. No ano de 1896 foram descobertos por obra do acaso pelos académicos de Oxford, Bernard Grenfell e Arthur Hunt, que os trouxeram à superfície com um simples pontapé ocasional na areia.

Papiro da Lixeira de Oxirrinco
O espanto foi enorme quando, no meio do lixo, vislumbraram fragmentos e cópias integrais de obras maiores de alguns dos maiores autores do mundo clássico. Algumas eram já conhecidas, outras eram cópias melhores que os originais copiadas por escribas medievais. Outras, porém, eram tesouros perdidos há mais de mil anos! Para citarmos algumas, entre elas estavam fragmentos de Safo e dos seus colegas líricos, como Píndaro e Alceu. Mas também obras perdidas como peças dos dramaturgos Atenienses Meandro e Sófocles e livros do historiador romano Lívio[2].
A descoberta desta lixeira é de valor incomensurável. Mais de 70% dos papiros literários que há no mundo têm vindo de Oxirinco e, até à presente, foram editados e publicados cerca de 4700 textos[3].

Nota: Estas imagens foram retiradas de Ancient Lives
Armando Palavras



Post- scriptum

Com o projeto Ancient Lives, organizado pela Egypt Exploration Society e pela Universidade de Oxford, qualquer cidadão do Mundo pode contribuir para o trabalho de pesquisa digitalização e descodificação dos vastos Papiros de Oxirrinco. Se quiser ajudar a criar transcrições digitais desses fragmentos, vá ao aplicativo no site da Ancient Lives. Nele, o seu objetivo é decifrar letras gregas num fragmento de papiros. Um teclado com uma série de símbolos (letras gregas maiúsculas e minúsculas) é apresentada sob o fragmento de papiro digitalizados que está a transcrever. Quando o rato se move sobre uma das letras no teclado, o análogo grego escrito à mão é mostrado a fim de facilitar a identificação. Depois de reconhecer uma letra sobre os papiros, é só selecionar a letra correspondente no teclado salvando a anotação. Além disso, se o papiro for muito difícil de decifrar ou desbotado, pode salvar o seu trabalho e ir  para outra peça de papiro a qualquer momento. A Ancient Lives também oferece a oportunidade de medir fragmentos individuais, o que ajudará na reconstrução de seções maiores.




[1] Oxyrhyncus, cujo nome deriva do “peixe de nariz afilado”. (Cf. LEVY, Joel, Histórias Perdidas, Bertrand, 2007, p. 81).
[2] Foram ainda encontradas cópias do Novo testamento, juntamente com apócrifos como o Evangelho Segundo São Tomé.
[3]  Contudo, já foram recuperados cerca de 500.000 fragmentos individuais.

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