Fernando Castro Branco Poeta |
O Que Passa por Lagoaça
A cultura, como sempre deve ser, subiu à rua, ascendeu à praça pública.
Não falarei, por limitações óbvias, das inúmeras áreas temáticas deste Livro compósito, o Modesto Navarro o fará para proveito de todos. Simplesmente me cabe assinalar que à poesia também o Armando Palavras teve a generosidade de conceder o foro desta cidadania, e, em verdade, passe o golpe de foice na minha humilde seara, não poderia deixar de o fazer. Se comemoramos aqui e agora os 725 anos do Foral atribuído a esta terra pelo Rei-Poeta D. Dinis, que semeou versos a haver, como naus, parece pois justificar-se este testemunho.
Fico-me pela leitura de três poemas justamente pertencentes a três poetas integrantes de Trás-os-Montes e Alto Douro - Mosaico de Ciência e Cultura, Ernesto Rodrigues, Pedro Castelhano e eu próprio.
Soneto, p. 64 Ernesto Rodrigues
Bagdad, p. 73 Pedro Castelhano
O Parto das Pedras (Serra de Montesinho - Fotografia), p. 65 Fernando de Castro Branco
A todos muito obrigado
Fernando de Castro Branco
SONETO
Dono de mim, não perco nada. Séneca
diz: não se compra só com ouro, prata,
nem é gratuito se pago com minha
pessoa; fujo quando me coarcta
posse de bens que outro já cobiça.
Não busco meios, antes um fim certo.
Creio em mim; não me engano. Sei
o que custa viver fora de si,
olhar-me – como se fosse virtude.
Tenho quanto me não desvia dessa
via doce da alma, conformada
ao hoje, bom ou mau. Não perco nada,
nem ganho amanhãs por ir depressa.
Ernesto Rodrigues
Oeiras, 12-XII-2010
Bagdad
Eu nunca fui a Bagdad
mas dizem-me que as águas do Eufrates
correm vermelhas.
Eu nunca fui a Bagdad
mas dizem-me que os jovens ainda fazem
amor às escondidas da morte.
Eu nunca fui a Bagdad
mas dizem-me que o riso das crianças
é explosivo logo pela manhã.
Eu nunca fui a Bagdad
mas dizem-me que a morte
anda à minha procura.
Pedro Castelhano
O Parto das Pedras
Serra de Montesinho - Fotografia
Do útero das pedras nem só o tempo nasce.
Súbito, olhos agudos trespassam a brisa,
irrompem do nada, e fixam no horizonte
o perfil dos montes, o rumor dos fenos.
A serra é o berço cósmico da pedra,
do animal, dos homens antigos. Embala
no seu seio a inúmera vida,
o variável sangue. E vigia-nos
a emoção que descai do alto dos cerros
como um pedregulho do céu
no silêncio dos olhos,
no charco do sangue.
Fernando de Castro Branco
Nota: Para a semana publicaremos as intervenções de Modesto Navarro e Amadeu Ferreira. Assim como a reportagem fotográfica do evento.
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