José Manuel Verissímo
(Fragata)
Réquiem a um moinho
Do cubo, pela seteira jorram silvas,
Que envolvem o rodízio hirto e enferrujado,
Num abraço, opressivo, de finado,
Que contrasta com o da água no passado.
Sem a alvura imaculada que lhe davam os grãos de trigo,
Constrangido ao delapidar do tempo,
Jaz faminto.
Ó Moinho imensurável, de moinhos insaciado,
Alimentado pelas águas do finito,
Que percorrem a levada sem um grito,
E movem as mós do silêncio,
Enquanto eu daqui te fito…
J.F.
Sem Abrigo
Escasso de carnes, lasso de olhar,
Parte inteira da mobília do destino,
Fruto de vida madrasta
Que lhe deu como lar um banco de praça,
Um cobertor de cartão
E a companhia do bronze de uma estátua,
Em cada noite que passa.
J. F.
Sem comentários:
Enviar um comentário