Quando em meados Outubro de 2010
iniciámos o contacto com os autores transmontanos que graciosamente colaboraram com a colectânea Trás-os-Montes e Alto Douro,
Mosaico de Ciência e Cultura, estávamos longe de saber que um mês antes
do seu primeiro pré lançamento, iria ser lançada outra: A Terra de Duas Línguas.
O facto parece ter incomodado
alguns. A nós que coordenamos a primeira, não. E explicamos porquê. Os dois
projectos, embora com pontos comuns, são, na essência, muito diferentes. Com
objectivos e critérios totalmente opostos[2]. Quem
as leu sabe do que falamos. No seu género, ninguém retirará a primazia a
“Mosaicos”. O tempo se encarregará de o demonstrar.
“Duas Línguas”
saiu a público um mês antes de “Mosaicos”[3]. Mas
podiam ter saído ao mesmo tempo. “Mosaicos” poderia ter-se até antecipado, se
alguns autores (bastantes) tivessem entregues os trabalhos a tempo. Ernesto
Rodrigues di-lo em poucas palavras: “ É um feito, para tão breve tempo de
preparação; e mais um dos convívios possíveis, à lareira da palavra, em que a
região singularmente se afirma”.
Preferimos os trabalhos dos
autores a anteciparmos o pré lançamento. A obra em si é que interessa, o resto
são miudezas e … fantasias! E ambas, na nossa perspectiva, são motivo de satisfação
para a cultura transmontana (e nacional). Sobre “Mosaicos” retomamos Ernesto
Rodrigues: “De tanta fartura nenhum outro chão se pode orgulhar, e nascendo
estes frutos numa «pátria pequena», onde não vou desde 2002, quando apresentei
edição de Poesias do ilustre filho Augusto Moreno, aqui evocado por A. M. Pires
Cabral”.
Se “Duas Línguas” foi apresentada
um mês antes, não interessa para nada. Podia até ser lançada um ano (ou dois ou
três…até dez) antes. Obras destas precisam-se. Venham mais “Duas Línguas” e
“Mosaicos”.
Se alguém pensou anular o
protagonismo de “Mosaicos”, enganou-se. Esta obra surge através dos laços de
amizade existentes entre duas pessoas que tiveram que calcorrear por montes e
vales, por terreno pedregoso, a custo de esforço próprio, sem ajuda, sem protectores.
A elas se juntou uma terceira cujos caminhos se cruzaram nas ruas amargas da
vida, injusta para quem é justo, leal e grato.
O livro é de todos, feito por
todos e para todos.
Se alguém pensou ofuscar “Duas
Línguas”, equivocou-se. Como “Mosaicos” é uma obra de qualidade a marcar a
cultura transmontana e nacional.
O que nos importa é que os autores
que nelas participaram, ajudem a organização a conseguir uma segunda edição para “Mosaicos”. É que,
ao contrário de “Duas Línguas”, “Mosaicos” tem como um dos principais objectivos adquirir fundos para obras de solidariedade da freguesia de Lagoaça[4].
Quando o genial Walter Benjamin
morre nesses dias do começo do Outono de 1940, na fronteira de França e
Espanha, acossado pelos nazis, nunca pensou na glória póstuma[5]. No
entanto, estamos com Cícero. Como tudo seria diferente “se tivessem triunfado
em vida os que triunfaram na morte” [Si
vivi vicissent qui morte vicerunt].
Na nossa justificação (pp.
11-12), explicamos a razão porque é que outros autores não foram desafiados a
entrar no projecto de “Mosaicos”. Mas sobre essa questão quão melhores são as
palavras de Maria Otília Pereira Lage: “Poesia e histórias
populares mais outras palavras sábias abrem a porta transmontana a “entre quem
vem por bem”. Compõem assim a abertura deste livro cuja construção Armando
Palavras, um de seus obreiros mais visível, explica lembrando generosamente
outros autores que por razões várias, mas não de sectarismo vesgo[6], aqui não figuram”.
Armando Palavras
[1] Este texto
surge porque fomos confrontados com um pedido de explicação por parte de alguns
autores que se sentiram incomodados com referências indirectas ao seu nome em
alguns escritos que surgiram depois do pré lançamento do Porto. A polémica não
é do nosso agrado. Esperamos pois, agora, depois de assentada a poeira, que
este escrito sirva para esclarecer a nossa posição. E que, de futuro, quando
alguém escrever algo sobre a colectânea, sobretudo sobre as intenções e
origens, que se sirva das fontes primárias e não de fontes segundas ou
terceiras. Basta que consultem este blogue.
[2] Na nossa justificação, na
colectânea, indicamo-los (pp. 11-12).
[3] Por um triz que “Mosaicos” se não antecipou 22 anos a “Duas Línguas”. Só que à
época não havia o apoio concreto de um empresário ousado e inovador como António Neto. Mas isso é outra história
que um dia contaremos.
[4] Além das comemorações dos
725 anos do seu foral e de pretender unir as pessoas através da cultura.
[5]
Benjamin teve enormes dificuldades em vida. Dificuldades
em sobreviver através dos seus escritos. Genialmente elaborados, foi um milagre
não se terem perdido. T.W. Adorno, o seu único discípulo, diria do mestre que o
seu nome “foi adquirindo uma auréola nos quinze anos que decorreram desde a sua
morte”. Na verdade, o mito continua. Foi o primeiro a traduzir Proust para
alemão.
[6] O sublinhado é nosso.
Sem comentários:
Enviar um comentário