segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

Natal de outrora

 

JORGE  LAGE


Natal de outrora – Como o Natal está mudado se olharmos para há mais de 50 anos! A maioria dos portugueses de raízes rurais e transmontanos ou beirões, muitos dos filhos das nossas terras rumavam às raízes, em busca dos canhotos à lareira, do frio refrescante que nos punha a fumar sem cigarros, das batatas, rancôncele, rambana ou Canabeque, das alheiras coradas pelo fumo, agitando-se na lareira, em competição para se esturricarem na grelha pelo braseiro da lareira. 

“Junto à igreja matriz da cidade de Alcochete e no centro urbano vi esta maravilha de presépio”.

(Jorge Lage)

As couves tronchudas adocicadas de Mirandela, sem rival, que com um prato e a alheira estonada eram manjar que os deuses do Olimpo invejavam. Eram dias frios saudáveis, para gente rija, em que ainda se ouviam contos e histórias que nos prendiam a todos. Sabíamos as novidades dos animais, da criação, o cão estava sempre à porta, dormia no curral, loije ou cabanal, mas a casa era para os donos, valendo o ditado: cada macaco no seu galho. Havia o magusto de Natal e nalgumas aldeias o «Cordão de Castanhas do Menino Jesus» e a sua arrematação ajudava às despesas da Festa do Santo Padroeiro/a. Ainda se jogava ao rapa e ao «refunfunfelho». Não era Natal sem a Missa do Galo, com o beija pé em festa. Ainda se desejavam Boas-Festas aos vizinhos e amigos. Hoje, final do primeiro quartel do século XXI, até nas aldeias se passa pelos vizinhos como cão por vinha vindimada, seja Natal, ou São João. O pai espera no Lar da Misericórdia, da paróquia, da Junta, da Associação ou do investidor. Espera-se pelo fim do mês, pela mesada dos pais. Alguns filhos ainda vão buscar os pais para almoçar nesse dia. E apregoam a toda a família que em 365 dias fazem a proeza de lhe oferecer um almoço. Não falam da conta bancária dos pais, dos bens ao luar que já venderam e encheram a carteira. No sentido mais lato, o Natal é de compras em causa própria ou da família, para os meninos os brinquedos que não precisam, porque hoje aos miúdos e graúdos basta-lhes um ecrã. Um écrãn de telemóvel e tudo o mais é ignorado. A sociedade caminha para a total alienação. O marido e mulher ou os amigos estão sentados no mesmo sofá ou no mesmo banco e comunicam por mensagens? A sociedade vai virtualizar-se. Assim, a Educação na Suécia pôs de lado os iPad e livros de ecrã e voltou aos manuais de papel. Só o sentirmos os livros entre os dedos e o cheiro do papel já nos dá autenticidade e mais segurança do que o volátil ou virtual. Aos amigos leitores e famílias, um Santo e Feliz Natal! Com um até sempre, porque um velho é mais um viandante entre dois mundos.

 

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