quarta-feira, 31 de dezembro de 2025

A Gastronomia Tradicional

 

JORGE  LAGE


A Gastronomia TradicionalSou um amante da nossa cozinha tradicional, da cozinha das nossas avós, das nossas mães e das nossas esposas que são as herdeiras dos saberes antigos. Dentro desta lógica não troco a cozinha da comida tradicional portuguesa pelas estrelas Michelin. Cheiram-me a modernices, a comidas elaboradas que rejeito. Aliás, o saudoso amigo, Arqitecto/Historiador e Jornalista, José António Saraiva, há três ou quatro anos, no Jornal Nascer do Sol, de que foi fundador e seu primeiro Director, num artigo, chamava à atenção para a extinção da comida tradicional portuguesa, tal era, nessa altura, a cadência de encerramento dos restaurantes tradicionais. Eu próprio tinha passado férias no Alto Alentejo e tive muita dificuldade em encontrar locais com cozinha e comida tradicional alentejana.  

O maior murro no estômago apanhei-o quando, este ano, no final de Agosto, li na porta da Churrasqueira Relento, em frente a minha casa, na rua de São Victor, em Braga: «Informam-se os nossos estimados clientes e fornecedores que encerramos para férias a um de Setembro». Estranhei e passados 15 dias perguntei a duas casas comerciais vizinhas o que se passava? Encerraram porque a cozinheira foi tratar da mãe que estava com Alzheimer. Aquela grande churrasqueira aberta há mais de 45 anos fechou, para sempre. Posso garantir que era lá, indo do Minho ao Algarve, que se comia do melhor «cabrito á padeiro». A dona Fátima, a trave-mestra da Churrasqueira Relento, tinha, ainda dois pratos que eu classificava entre os melhores que há: o «cozido à Portuguesa» e as «papas de sarrabulho». Depois fazia um arroz seco para acompanhamentos que as minhas netas no Canadá suspiravam por ele. O texto de José António Saraiva teve o condão de confirmar o que estava à vista, entre os mais atentos à nossa gastronomia, e alertar para uma situação preocupante do nosso património gastronómico e cultural em extinção. Anos depois, irrito-me com a tacanhez de alguns autarcas que numa certa saloiice apregoam que num evento têm 40 ou 50 chefes a fazerem demonstração de comida elaborada ou processada. Comida que na maior parte dos casos pouco tem a ver com a nossa tradição. Fazem-me lembrar as saloices dos técnicos ou professores, que para mostrarem a sabedoria que não têm tanta como querem fazer crer, empregam as palavras técnicas na língua de sua majestade, quando em Português também existe um vocábulo próximo do conceito. Como os «brasius» que, outrora, para se distinguirem da «populaça favelada» começaram a pronunciar deturpado, o que está escrito, isto é, em vez de Portugal, eles estão num «portugau» de pirosice e segundo me dizia a Mariana da Moldávia, o seu problema está na cabeça. Também, do mais caricato que vi foi, há uns anos, na Madeira, jovens da classe média-baixa, falar português com sotaque inglês. Uma negação das suas origens. Mas, o porteiro da BMW, em Braga, é pão, queijo, queijo, com os pés assentes na terra, fala português sem sotaque, apenas se percebe que tem um leve sotaque estrangeiro e quando lhe digo que não pode ser, disse-me de imediato que se queria integrar na cultura portuguesa e quer ser português, tudo isto em menos de três anos em Portugal. Mas, à frente, que atrás vem gente, eu queria dizer aos nossos autarcas que respeitem e promovam a nossa cultura gastronómica tradicional. Ensinem a sua confecção nas «Escolas Profissionais» e fomentem a sua aprendizagem como um bem único, antes que se perca para sempre.

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