JORGE LAGE
A Gastronomia Tradicional – Sou um amante da nossa cozinha tradicional, da cozinha das nossas avós, das nossas mães e das nossas esposas que são as herdeiras dos saberes antigos. Dentro desta lógica não troco a cozinha da comida tradicional portuguesa pelas estrelas Michelin. Cheiram-me a modernices, a comidas elaboradas que rejeito. Aliás, o saudoso amigo, Arqitecto/Historiador e Jornalista, José António Saraiva, há três ou quatro anos, no Jornal Nascer do Sol, de que foi fundador e seu primeiro Director, num artigo, chamava à atenção para a extinção da comida tradicional portuguesa, tal era, nessa altura, a cadência de encerramento dos restaurantes tradicionais. Eu próprio tinha passado férias no Alto Alentejo e tive muita dificuldade em encontrar locais com cozinha e comida tradicional alentejana.
O maior murro no estômago
apanhei-o quando, este ano, no final de Agosto, li na porta da Churrasqueira
Relento, em frente a minha casa, na rua de São Victor, em Braga: «Informam-se
os nossos estimados clientes e fornecedores que encerramos para férias a um de
Setembro». Estranhei e passados 15 dias perguntei a duas casas comerciais
vizinhas o que se passava? Encerraram porque a cozinheira foi tratar da mãe que
estava com Alzheimer. Aquela grande churrasqueira aberta há mais de 45 anos fechou,
para sempre. Posso garantir que era lá, indo do Minho ao Algarve, que se comia
do melhor «cabrito á padeiro». A dona Fátima, a trave-mestra da Churrasqueira
Relento, tinha, ainda dois pratos que eu classificava entre os melhores que há:
o «cozido à Portuguesa» e as «papas de sarrabulho». Depois fazia um arroz seco
para acompanhamentos que as minhas netas no Canadá suspiravam por ele. O texto
de José António Saraiva teve o condão de confirmar o que estava à vista, entre
os mais atentos à nossa gastronomia, e alertar para uma situação preocupante do
nosso património gastronómico e cultural em extinção. Anos depois, irrito-me
com a tacanhez de alguns autarcas que numa certa saloiice apregoam que num
evento têm 40 ou 50 chefes a fazerem demonstração de comida elaborada ou
processada. Comida que na maior parte dos casos pouco tem a ver com a nossa
tradição. Fazem-me lembrar as saloices dos técnicos ou professores, que para
mostrarem a sabedoria que não têm tanta como querem fazer crer, empregam as
palavras técnicas na língua de sua majestade, quando em Português também existe
um vocábulo próximo do conceito. Como os «brasius» que, outrora, para se
distinguirem da «populaça favelada» começaram a pronunciar deturpado, o que
está escrito, isto é, em vez de Portugal, eles estão num «portugau» de pirosice
e segundo me dizia a Mariana da Moldávia, o seu problema está na cabeça.
Também, do mais caricato que vi foi, há uns anos, na Madeira, jovens da classe
média-baixa, falar português com sotaque inglês. Uma negação das suas origens.
Mas, o porteiro da BMW, em Braga, é pão, queijo, queijo, com os pés assentes na
terra, fala português sem sotaque, apenas se percebe que tem um leve sotaque
estrangeiro e quando lhe digo que não pode ser, disse-me de imediato que se
queria integrar na cultura portuguesa e quer ser português, tudo isto em menos
de três anos em Portugal. Mas, à frente, que atrás vem gente, eu queria dizer
aos nossos autarcas que respeitem e promovam a nossa cultura gastronómica
tradicional. Ensinem a sua confecção nas «Escolas Profissionais» e fomentem a
sua aprendizagem como um bem único, antes que se perca para sempre.

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