sexta-feira, 25 de abril de 2025

A verdadeira razão do 25 de Abril de 1974

 

Durante os 51 anos que dia 25 deste mês se completam, velhos e novos, an­dámos às turras por causa do golpe de estado que acabou com os tais 48 anos de fascismo. Operou-se uma mudança radical à luz daqueles que haviam nascido nesses 48 antes, de fome, opressão, guerra e desemprego.

Portugal, sendo pobre, sem recursos internos, fez-se à vida e tentou desbravar novas terras, dentro e fora do continente, fazendo-se à vida para além dos horizontes. Em persistência, aventura e risco de vida, não foi piegas. Alcançou territórios nunca antes, por outros, sequer sonhados. E povoou e desenvolveu muitas terras, a oriente e a ocidente. Nessa nobre causa, sendo pobre, se fez rico, sendo dos países que mais territórios acresceu, a nível global, enquanto o planeta Terra foi campo livre para expandir riqueza individual e coletiva.

De um excesso de míngua, passou-se para ou­tro excesso de abandalhamento. Se foi melhor o segundo do que o primeiro ou se o primeiro poderia servir de lição ao segundo, é o que se pode concluir do actual estado da situa­ção, mormente, política: um caos.

A liberdade lê-se, ouve-se, repete-se e, em resumo, pratica-se, transformando-se no provérbio do futebol: o que se diz ao pequeno almoço, como verdade, ao meio dia já se condena como   mentira; ao jantar já se negam e se renegam, porque a verdade e a mentira são estados de alma que nos políticos funcionam como diarreia crónica.

Penso que estamos todos de acordo que em 1974 o país vivia dois dramas: a guerra do ultramar e a emigração. Como "casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão", Portugal esticava a corda até onde o fio desse, para manter o equilíbrio. Os jovens enfrentavam o fu­turo como obstáculo decisivo: ou emi­gravam ou fugiam ao serviço militar. Só os filhos dos poderosos do Estado Novo ficavam isentos ou forja­vam escapatórias. Alguns desertavam, outros fingiam estudar no estrangeiro. O republicanismo, que em 1910 substi­tuíra a monarquia, descarrilou em 1926 e, desde aí, o país isolou-se durante 48 anos, vivendo de costas voltadas contra o povo e contra o mundo exterior.

A agricultura era quase a única tábua de salvação. Estudar era um privilégio dos ricos e dos mangas-de-alpaca dos po­líticos. Nem todas as cidades tinham liceus. Universidades só em Coimbra, Lisboa, Porto e Évora. Para a academia militar iam os filhos dos oficiais e dos sargentos que em Águeda auferiam pas­saporte para a oficialidade. Sempre a carreira das armas foi das maiores seduções dos portugueses. Eram os militares que tinham propensão para as guerras, inter­nas e externas.

Mas Portugal entrou no século XX às arrecuas. E nunca mais readquiriu o estatuto imperial que conquistara na época de Quinhentos. Em terra, mar e ar, falhou esse destino porque perdeu a chama do mítico V Império.

Crescia o Brasil, mas perdia Goa, Da­mão e Diu. Foi nessas aventuras mal suce­didas que se iniciou a queda imperial que os nossos marinheiros haviam imposto de Oriente a Ocidente. A II Guerra Mundial dispensou a nossa participação. Mas não soubemos reerguer-nos como fizeram os outros povos da Europa Ocidental, que se recompu­seram depressa e bem. Dessa reorganiza­ção beneficiaram os emigrantes portugue­ses, na segunda metade do século XX, embora muitos milhares tenham inicialmente sido humilhados nas fronteiras e nos subúrbios das capitais europeias. Uns vinham cumprir os seus deveres cívi­cos e voltavam. Outros por lá ficaram, en­viando para os bancos nacionais os capitais ganhos com o seu suor, o que tanto ajudou o país.

Após a vergonhosa debandada da Índia, alastrou às então Províncias Ul­tramarinas, desde a Guiné a Timor, o natural ímpeto dos seus naturais. Esse congénito sentimento de autonomia de­pressa contaminou algumas mentalida­des lusas que, descontentes com os exí­guos horizontes de que dispunham para satisfazer os seus apetites ideológicos, trataram de zelar pelo seu umbigo e dos seus. Cada um lutou com as armas que tinha. E assim se estremaram posições, por vezes antagónicas, quando não eram fatais.

O caso mais visível partiu dos "Capi­tães de Abril" contra os milicianos. Essa rebelião, que fecundou nos quartéis da metrópole, esten­deu-se à diáspora e provocou a queda do poder político. Esse poder estava po­dre, contaminado nos alicerces de quem o representava, canceroso nos propósi­tos de quem o servia, traiçoeiro nos tru­ques de quem o derrubou, à falsa-fé.

Para justificar esse derrube invoca­ram-se: o descontentamento do povo, a falta de liberdade e a fome. Eram reais essas carências. Mas tudo se fez con­tra aqueles que menos culpa tinham porque, não escolhendo a carreira das armas, foram obrigados a abandonar tudo e todos, usando essas armas, lado a lado, com aqueles que os traíram. Estes nunca pe­diram desculpa desse acto àqueles que tanto os ajudaram. Os milicianos foram as maiores vítimas de toda essa cilada nascida contra quem suportou as guer­ras, sem delas tirar proveito. Pelo con­trário. Só agora, quando todos reivindicam a heroicidade, em livros, filmes e em debates, assumem a verdade. Vasco Lou­renço, o mais mediático por representar a “Associação 25 de Abril”, explica o Decreto-Lei 353/73 que despoletou o golpe militar. São dele essas explicações:

"O Decreto-Lei 353/73 de 13 de Julho de 1973, aprovado por Sá Viana Rebe­lo, Ministro do Exército, procurava fazer face à escassez de capitães dos quadros permanentes. Funcionou como autêntico detonador para a contestação que, após rápida e profunda evolução, levaria ao 25 de Abril de 1974.

Desde há muitos anos que o Exército vinha fabricando os chamados "capitães proveta". Para isso, incorporava oficiais milicianos que haviam prestado serviço militar há vários anos atrás (alguns há mais de dez anos) e não tinham parti­cipado na Guerra. Ministravam-lhes um curso intensivo de 4 a 6 messes, que os graduava em Capitão e mobilizava para a Guerra, normalmente como coman­dantes de uma companhia de caçadores (cerca de 180 homens).

A situação era insustentável, daí que o governo resolvesse aliciar os oficiais mi­licianos que, como alferes, haviam cum­prido uma comissão na Guerra Colonial, propondo-lhes a entrada no Quadro Per­manente depois da frequência de um curso intensivo de um ano, na Aca­demia Militar. Ao mesmo tempo, con­tava-lhes, para efeitos de antiguidade relativa, o tempo que tinham feito como milicianos. Diploma que se aplicava tam­bém aos oficiais do Quadro Especial de Oficiais que aceitassem mudar de quadro, bem como a todos os oficiais que entretanto haviam ingressado no Q. P., oriundos do Quadro de Complemento, os ditos milicianos.

O planeta que habitamos apressa-se a tentar povoar outros planetas. Mas a tontaria dos poderosos perdeu as estribeiras. O poder, a jactância, a vaidade e a incompetência sistemática revelam-se todos os dias e a todas as horas.


Fernando Paixão


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