JORGE LAGE
«Caminho Romântico de Luís de Camões e Biolante» (2) – As últimas eleições legislativas, mudaram a política (wokista, em parte) e deram um impulso, na recta final ao V Centenário do nascimento do poeta Luís Vaz de Camões. Assim, houveram várias homenagens a Luís de Camões, nas escolas e não só. O Notícias de Mirandela revelou alguns dados em que se concluiu que Luís Vaz de Camões terá nascido em Chaves na aldeia de Nantes (como diz a população de Vilar de Nantes e de Nantes). Penso que a maioria dos flavienses não sabe que existe Nantes e Vilar (de Nantes), isto é, só conhecem a última. Eu próprio só soube da existência de Nantes porque, duas anciãs de Vilar (de Nantes) me apontaram Nantes como o lugar onde nasceu Luís de Camões. Sendo eu um curioso da toponímia apercebi-me que, primitivamente (pelo menos desde a romanização), Nantes seria um burgo rural. «Villar» quer dizer um pequeno lugar e «de» o determinativo geográfico de origem. Quer isto dizer que a aldeia de Nantes tinha, por perto, um pequeno lugar habitado. Vilar (de Nantes) beneficiou da sua localização estratégica e foi crescendo. Outrora que Vilar de Nantes era o nome de todo o território da freguesia, pois na obra «As Freguesias do Distrito de Vila Real nas Memórias Paroquiais de 1758 (séc. XVIII)», da autoria de José V. Capela e outros (2006), nas p. 263-264, refere, que a «freguezia do Salvador de Villar de Nantes» (…) «hé terra da Sereníssima Caza de Bragança. Tem toda esta freguezia cento e outenta e cinco moradores ou vezinhos e pessoas de sete anos para cima seiscentas e treze (…). Tem esta freguezia coatro lugares (…) Villar, Nantes, Outeiro João e Ribeira de Avellans. O lugar de Villar tem setenta e sete vezinhos e trezentas e sete pessoas, (…) tem mais dous bairros que lhe ficam para o Sul, o mais cercunvizinho se chama Fonte Carriça, dista (…) duzentos passos, tem dezasseis moradores e quarenta e sete pessoas (…), o outro se chama Valdazirma e dista (…) coatrocentos e sessenta passos, tem oito moradores e trinta e coatro pessoas, o lugar de Nantes tem quarenta e sinco vezinhos e cento e sete pessoas. (…). Há no dito lugar de Nantes hum hospício de religiosos capuchos». Mais de 200 anos depois de nascer Camões, Vilar era o lugar mais populoso junto à estrada nacional e no presente chamam Vilar de Nantes, ao Vilar, quando aquele englobava os quatro núcleos populacionais da freguesia de Vilar de Nantes. Por isso, os habitantes mais velhos, de Vilar e de Nantes, que incorporam o saber da tradição ancestral, dizem que «a casa onde nasceu Camões situa-se em Nantes». Mas, deixando a análise toponímica para trás, recordo o amigo e investigador, José Manuel Carvalho Martins, que me dizia que «a toponímia é uma janela luminosa da História» e muito mais da História Monográfica. Ao que nos parece, seguindo a tradição, Camões terá nascido em «Nantes/freguesia de Vilar de Nantes/concelho de Chaves» e quando era estudante em Coimbra (o tio Bento era Prior do Mosteiro de Sta. Cruz) e servia na casa dos Noronha (Biolante tinha 13 anos quando casou e o marido, D. Francisco de Noronha com 30 e este passava grandes temporadas em campanhas no estrangeiro), Luís de Camões voltou a Nantes/Chaves, onde tinha família, acompanhando a «Biolante» que foi visitar as terras que tinha na Galiza, na região de «Monte Rey, en Bal de Laça». Sem qualquer dúvida, para servir a sua «ama», Camões, fez o caminho de «Nantes/Vilar de Nantes/Chaves/Verín/Monterei/Vale do Lassa (Laza)», sempre próximo do rio Tâmega. A fundamentar a proposta de criação do «Caminho Romântico de Luís de Camões e Biolante», anexo o seu soneto (dos primeiros que fez) e escrito em galego:
«À lá en Monte
Rei, em Bal de Laça
A Biolante bi,
beira de un rio,
Tan fermosa en berdá, que quedé frio
De ber alma imortal en mortal maça!
De um alto e
lindo copo a seda laça!
A pastora
sacaba, fio a fio.
Quando lhe
disse: Morro! Corta o fio!
Bolbeu: Não
cortarei! Seguro passa!
- E como
passarei! Se eu acá quedo?
Se passar, não
bou seguro
Que este corpo
sem alma morra cedo!
- Com a minha,
que lebas, te asseguro
Que não
morras, Pastor! – Pastora hei medo,
O quedar me
parece mais seguro!»
Bibl.ª: Capela
J. V. e outros (2006), «As
Freguesias do Distrito de Vila Real nas Memórias Paroquiais de 1758 (séc.
XVIII)». Braga, p. 263-264; Paiva, J. (2015) «As plantas na obra poética de Camões» in
«Humanismo e Ciência» coord. de Andrade, A. e outros. Ed. UA Editora –
Imprensa da Univ. Coimbra: Aveiro, Coimbra, S. Paulo;
Saraiva, António J. (2024), Luís de Camões, ed. Gradiva). Reproduz-se
excerto do retrato de Camões pintado em Goa.
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