domingo, 1 de dezembro de 2024

Monografia de Zé Beirão - Besteiros: a odisseia de um Povo

 

Monografia de Zé Beirão

Besteiros: a odisseia de um Povo

 


A cidade de Tondela será palco, no último dia deste mês, da apresentação de um livro cujo título pretende justificar o nome de Besteiros, sendo que Tondela prevaleceu, sendo hoje sede de um concelho rico, progressivo e com estruturas de peso para gáudio da sua população. O seu autor, Joaquim Duarte Pereira, diz na «nota que a impõe» que «sendo os besteiros soldados de tantos exércitos, em Portugal e no mundo, poder-se-á questionar como apareceram eles ligados à toponímia do país nomeadamente ao atual concelho de Tondela».

Verdade é que o nome Besteiros, nas Terras de Tondela, deu origem ao concelho que chegou a ter alcaide para o Castelo, com esse nome.


Zé Beirão, pseudónimo de Joaquim Duarte Pereira, nasceu em Tondela em 1940 e, «por ausência de recursos económicos, não prosseguiu estudos, após a 4ª classe». Mesmo só com a 4ª classe, de instrução primária, a atual presidente da Câmara, Engª Carla Antunes Borges, teve a dignidade de fazer justiça ao autodidata, patrocinando os dois mil exemplares deste excelente volume de 558 páginas, nas quais insere matéria biográfica, bibliográfica, arqueológica, etnográfica e, essencialmente, histórica.

A autarca resume na página 17 essas cinco áreas do saber: «Zé Beirão destaca, com mestria, a odisseia das nossas gentes. Figuras que se notabilizaram nos mais variados quadrantes; num concelho que o jornalista descreve como um autêntico cofre das relíquias do passado ancestral e glorioso, deste povo».


Zé Beirão, na primeira parte, das vinte e sete do livro, escreve que Besteiros foi o primeiro concelho, estando o seu nome envolto em polémica e em mistério, pois nenhum historiador medievalista sabe, ao certo, como evoluiu.

Zé Beirão, desde criança se preocupou com o berço em que veio ao mundo. E como a força de vontade, muitas vezes, supera barreiras que aparentam ser impossíveis, cedo começou a escrever em boletins e jornais regionais chegando a jornalista profissional, sempre em defesa das grandes causas nacionais. Aos 12 anos já era aprendiz de artes gráficas. No jornal «A Folha de Tondela» aprendeu o grafismo e muita da experiência da longa vida que fez nesse mundo da comunicação social. Em 1961 foi convocado para cumprir um dever cívico e por isso obrigatório. Foi parar a Moçambique, como 1º Cabo, integrado na C.ª de Caçadores Especiais. No regresso retoma o jornalismo e a escrita que foi o seu grande mérito em cada dia dos 84 anos de vida.

Este livro, que vai ser apresentado em Tondela no último dia deste mês, vai espantar muita gente engravatada. Quem tiver a oportunidade de ler esta obra vai suspeitar que não tenha sido Zé Beirão a concebe-lo e escrevê-lo para glória da cultura Portuguesa.

Quem puder ler este livro irá reparar que tive o privilégio de ser convidado para escrever o prefácio. No mês e ano em que anunciei retirar-me do jornalismo, por completar 85 aos de idade e 72 de jornalismo militante.

Este tipo de livros, escritos com sangue, suor e lágrimas, deveriam ser expostos nas vitrinas dos espaços públicos, para memórias futuras.

Vou explicar o porquê desta minha solidariedade, respeito e admiração.

Conheci em meados de 1982 o «Zé Beirão», pseudónimo de jornalista, que é desde 1962. Ambos tínhamos regressado da guerra do Ultramar, ele de Moçambique e eu de Angola. Como quase todos os Combatentes, gostámos que a guerra acabasse. Mas depressa nos apercebemos de que os «capitães» fizeram o golpe de Estado, não só para salvar o povo mas, sobretudo, para salvarem as suas carreiras profissionais, contra os milicianos que cumpriam as suas comissões de serviço obrigatório e, alguns deles, por interrupção dos seus cursos, procuravam, legitimamente, arrumar as suas vidas profissionais e familiares.

O Zé Beirão somente «não aceitou um bom emprego nos correios de Lourenço Marques, em 1964, por fidelidade à Terra e à Família que falaram mais alto. A maior parte dos soldados emigrou. E os milicianos, oficiais e sargentos, que tinham sido «os burros de carga», foram traídos pelos comandos do quadro permanente.

Foi isso que em 1982, esses e outros combatentes, desagradados com os revoltosos, passaram a criar associações, por todo o país, formando uma Federação, onde esses amuos se diluíram. Os casos mais visíveis foram aqueles que, ainda hoje, reivindicam a paternidade do Monumento aos Combatentes do Ultramar. Aqui repito que esse movimento, que travou o ódio, o desprezo e as calúnias dos «capitães» do quadro contra os milicianos, sargentos e oficiais, nasceu em março de 1982.

A aprovação pelo governo de dois decretos-lei – 353 e 409, de julho e agosto de 1973 – para responder às necessidades da guerra ultramarina criou um forte descontentamento profissional entre os oficiais que tinham tido uma formação militar de quatro anos. Estes não aceitavam poder vir a ser ultrapassados pelos novos oficiais milicianos, cuja formação seria feita apenas em dois semestres. O Movimento dos Capitães, de natureza clandestina, foi organizado para a defesa dos seus interesses corporativos. Essa narrativa acusatória contra a guerra, que os soldados em geral e os milicianos, travaram, durante treze anos, motivou a criação do Movimento que inicialmente se chamou Associação dos ex-Combatentes e que dois anos depois, em Assembleia Geral de 30 de Março de 1996, atualizou o nome para Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar (ANCU). Este novo nome foi registado no dia 17 de Abril. E também na mesma Assembleia Geral se oficializou a mudança do seu jornal Sentinela para Voz do Combatente. A mudança deveu-se ao facto de já existir outro órgão com o mesmo título. Até essa data publicaram-se 52 edições com o nome de Sentinela. Mas tudo ficou regularizado.


Zé Beirão cedo passou a deslocar-se a Guimarães, sempre acompanhado com novos aderentes, com sugestões e propostas enriquecedoras. Foi um incondicional apoiante da ANCU. E foi também ele que convidou o atual presidente a aderir ao projeto, que veio a assumir em plenitude. É por isso que faço questão em exarar neste prefácio a transparência de como a ANCU não foi criada para exibicionismo dos seus fundadores, dirigentes ou qualquer outra intenção. Mas para afirmar que Tondela mereceu a sede nacional, e, coerentemente, a autarquia local e a benemerência de alguns associados apostaram em garantir instalações condignas, ao contrário do que os políticos da cidade berço minhota fizeram em vinte anos.

A ANCU não é apenas mais uma Associação de Combatentes. Deve-se-lhe a Paternidade da ideia da construção do Monumento aos Combatentes do Ultramar em Lisboa, na Zona de Belém, perto do Forte do Bom Sucesso. Mesmo que não tivesse outras coisas de que se orgulhar, a paternidade do Monumento bastará.

Graças ao Zé Beirão e ao Dr. António Ferraz, seu presidente desde 2002, a ANCU continua viva e recomenda-se. Tondela também lhes deve muito. O livro que será apresentado amanhã é disso um exemplo vivo.

Barroso da Fonte

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